20 de setembro de 2024

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Notícias admin 10 de março de 2015 (0) (104)

Maratona de Atenas: confusa e maravilhosa!

Ao chegar ao aeroporto fomos recepcionados pelos organizadores da maratona, que gentilmente nos concederam mapas da cidade, guias de transporte e naquele inglês quase macarrônico, nos informaram que teríamos transporte livre por quatro dias em Atenas. Começamos bem! Buscamos o kit em um ginásio afastado do centro, que nos tomou duas horas só de deslocamento. Sentimos um pouco de desorganização na entrega dos kits… No caminho de volta, no trem, italianos falantes contavam histórias sobre suas tantas maratonas, seus ritmos, seus feitos, seus treinos e medalhas.
No grande dia, acordamos às quatro e tanto da matina e seguimos rumo à praça Syntsgma, onde pegamos o ônibus, em frente ao congresso grego, em direção à cidade de Maratona. Filas e mais filas de atletas desesperados e uma bagunça generalizada, que se juntava aos espertalhões querendo furar fila. Sentamos no ônibus caindo aos pedaços e percorremos os 42 km de descidas tranquilas, sentadinhos, sem ar, derretendo de calor e ansiedade. Trajeto simples, sem grandes paisagens, saída de grande cidade. Mas aos poucos a paisagem ia melhorando e se tornando mais "grega".
Chegamos em Maratona! Primeira regra: correr para o banheiro. Depois, deixar os pertences no guarda-volume. Uma operação que parecia simples, mas que se mostrou aterrorizante. Os gregos não são bons em logística, definitivamente. A entrada e a saída eram as mesmas, e ali naquele corredor estreito quinze mil corredores suados se apertavam e se entalavam tentando passar. Teve horas que tive medo de me machucar ou ficar sem ar.
Mas tudo bem, vamos lá, rumo ao início da prova. Tirar alguns selfies antes, ouvir a musiquinha grega tocando alto no estádio, observar os corredores saindo de trás das oliveiras nos morros, beijinho para cá, beijinhos para lá, despedidas e correr para a baia "2". Antes… surpresa! Chico chegou, a quinze minutos da largada. E agora? Ainda bem que mulheres voluntárias existem e nos ajudam! Problema resolvido e rumo aos 42 km. Primeiro, levantar as mãos para uma jura grega, sem fazer a ideia do que estava jurando. Depois, jurar de novo em um inglês incompreensível. E fazer o nome do Pai, para dar início à jornada.

MUITA ANIMAÇÃO. Relógios acionados, aqui vamos nós! Os primeiros 5 km são tranquilos, paisagem bonita com morrinhos cheios de oliveiras, casinhas simples, mas bonitinhas. E um cachorro que atravessa a via dos corredores e atropela um atleta, que cai no chão de imediato. Passamos perto do lago de Maratona, que abastece a cidade de Atenas, mas nem percebo, pois estou fixada nos 4:25 de ritmo por quilômetro que gostaria de manter nas retas, pelo menos.
Aliás, estava tão bem nos primeiros 10 km, planos, que achei que iria bater meu recorde de 3h10 nesta prova. Ledo engano. Foi só começar o 11º km que o quadro começou a mudar. Pernas para que te quero! Subida e mais subida, intermináveis, com poucos e curtos trechos planos onde uma multidão de gregos se concentrava para recepcionar os corredores ao grito de "bravo!", aplausos sem parar, sorrisos, palavras incompreensíveis que deviam ser motivadoras, mães, pais, e muita, mas muita criança com as mãozinhas posicionadas para que os atletas nelas batessem…
E música, também muita música. Algumas bandas com aparelhos estranhos, como um pé de vaca que fazia um som engraçado. Outras mais comuns, como o olodum brasileiro ao final da prova. E este foi o ritmo dos 42 km, o grande encanto desta prova maravilhosa. Mais ainda do que a história secular, a alegria, a educação e a simpatia do povo grego, que sabe fazer uma festa como ninguém! Quando parecia insuportável a subida, quando o pace ultrapassava os 5 minutos por quilômetro, lá vinham eles com aqueles sorrisos tentando nos levar para cima, nos motivar. Que coisa maravilhosa! E muita, muita gente, do começo ao final da prova.

SUBIDA DO KM 11 AO 32! A subida seguiu do km 11 ao 32. Quando já não tínhamos pernas, começava a descida, mas aí o pé já estava tão acostumado a ficar virado para cima que sofreu ao virar para baixo. Doía tudo. Nestas horas já tinha deixado de ficar olhando o relógio. Estava concentrada em curtir a prova e terminar da melhor forma possível.
Ao se aproximar do estádio Panathinaiko, a emoção começou a aumentar, os gritos começavam a se somar, o som da música, o coração, tudo de misturava. A última descida creio que fiz a quatro minutos por quilômetro, tamanha era a vontade de entrar no ginásio secular, no gigante de mármore dos jogos olímpicos. E lá estava ele: enorme, pomposo, branco e cheio de gente sorrindo e aplaudindo o público. De longe, a Acrópole nos observava, majestosa. Impossível conter as lágrimas e a emoção. Lembrei de Fidípides. E ao colocar a bela medalha no peito, no formato do Panathinaiko, me senti uma maratonista de verdade, como se fosse a primeira vez.
Na bagagem levo a nona e a mais fantástica experiência em maratona, além de um ramo de oliveira e o som das palmas e da violinha grega, que nos embalaram por 42.195 metros. Bravo!

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