A segunda edição da Maratona de Assunção mostrou o que muita gente não sabia, especialmente os mais de cem brasileiros que lá foram correr: o percurso é difícil, com muitas ladeiras nos primeiros quilômetros e, sim, faz calor no inverno paraguaio. Apesar de na semana anterior à prova os termômetros terem marcado quase zero grau nas madrugadas mais frias, o domingo 7 de agosto amanheceu ensolarado e, às 7h, quando foi dada a largada já fazia 20 graus. Uma hora depois, e a temperatura chegava aos 25, passando dos 30 ao meio-dia, quando os mais lentos ainda corriam os últimos km da maratona. Mas, tirando o clima e os aclives, a prova foi um sucesso e agradou aos visitantes, especialmente pela simpatia e calor humano dos hermanos guaranis. Dos 1.672 concluintes na soma das três distâncias (10, 21 e 42 km), 121 eram brasileiros, com 18 campeões nas categorias e 15 vices, incluindo aí o campeão e vice entre os cadeirantes, Carlos Oliveira e João Gonçalves Correa, respectivamente.

Os paraguaios comemoram em 2011 o bicentenário da independência do país (a data nacional sendo o 14 de maio) e, talvez por isso, a prova teve uma atenção mais do que especial das autoridades locais. O presidente da república em pessoa esteve presente à largada, que contou com a execução do hino nacional paraguaio antes do infalível tema de "Chariots of Fire", que embalou os primeiros minutos da prova. Assunção é uma cidade agradável, com bom comércio, custo de vida barato, um povo bastante receptivo e muitas avenidas largas e arborizadas. Aliás, graças a elas, as árvores, o calor foi bem amenizado pelas sombras, especialmente para os que correram as provas de 10 e 21 km. No entanto, as ladeiras estavam lá e para isso não houve remédio. É verdade que os últimos 2 km do percurso, comum a todas as três distâncias, que tiveram largada e chegada no mesmo local, eram predominantemente em descida.

Houve água gelada e isotônico em abundância ao longo de todo o percurso, mesmo para os mais lentos, como atesta a mineira Lana Gomes: "O staff corria atrás da gente oferecendo água, foram todos muito solícitos, sempre incentivando, achei a organização impecável. Apesar de ter sofrido muito e feito meu pior tempo, considero esta a minha melhor prova, pois corrida para mim não é performance, viajamos mais para nos divertir", destaca esta secretária de 49 anos, que correu em Assunção a sua terceira maratona, com 5h39 – antes, havia feito a do Rio, em 2010, e a de Porto Alegre, em 2011, ambas em menos de 5 horas. Lana fazia parte de um animado grupo de 30 corredores, os Baleias (foto), clube informal de corrida que hoje reúne mais de 70 atletas e simpatizantes de diversos estados e cidades brasileiras, com seu núcleo em Belo Horizonte. Fundado por Miguel Delgado em 2002, o grupo encarou a excursão à Assunção com a lúdica proposta de ser o "Congresso Internacional Baleias" – a versão "Mundial" do encontro acontece todos os anos na Volta da Pampulha, em Belo Horizonte. Antes disso, eles prometem ir, em peso, correr a Maratona de Curitiba, dia 20 de novembro.

Outro Baleia que adorou a experiência paraguaia foi o professor universitário Marcio Barboza, 45, de Maceió, que estreou em maratonas nas ruas da capital paraguaia, com 4h29. Ele também ficou entusiasmado com a atenção do staff. "Mesmo sem nenhum sinal de fadiga extrema, os paramédicos sempre perguntavam se estávamos bem; além disso, fomos recebidos pessoalmente pela diretora da prova", diz, referindo-se à Myrta Doldán, presidente do Paraguay Marathon Club, entidade responsável pela organização. Corredor há 12 anos, Barboza ficou animado com o que viu e garante que em 2012 irá com mais dez amigos corredores de sua cidade para engrossar as fileiras dos Baleias em Assunção.

TRÂNSITO APENAS CONTROLADO.   Se não faltou água e isotônico no percurso, sobraram carros dividindo as ruas com os corredores em alguns trechos, ainda que sem incidentes registrados. Talvez pela pouca tradição em corridas de rua, o fato é que o trânsito não foi totalmente bloqueado, o que parecia não surpreender os atletas locais. Em alguns cruzamentos, motoristas buzinavam furiosamente querendo passar, em cenas que lembraram os primórdios da era moderna das corridas de rua no Brasil, na década de 1980. Para sorte dos corredores, a presença de policiais e agentes de trânsito era maciça, mas não deixou de causar estranheza este tipo de convivência entre carros e atletas, hoje praticamente banido das principais corridas no Brasil.

Apesar disso, a servidora pública paulista Elisângela Matos de Carvalho, de 38 anos, também do grupo dos Baleias, destacou a preocupação dos organizadores paraguaios em ouvir os atletas com o objetivo de aprimorar a prova. Com o tempo de 5h36 nesta que foi a sua terceira maratona, ela sofreu muito com o calor, mas recomenda a prova: "Cheguei a ver aqueles termômetros de rua marcarem 35 graus, mas, apesar disso, achei esta prova mais bem organizada do que a de São Paulo", compara a atleta, que além das maratonas já correu uma ultra de 24 horas, quando atingiu 131 km, e completou o Desafrio, em Urubici, de 52 km.

O clima de confraternização no final da prova era bastante agradável, com um pequeno, porém entusiasmado público, basicamente composto de amigos e familiares dos corredores. Contando com bons patrocínios, belas medalhas, boa premiação em dinheiro, um kit generoso (destaque para a camisa de poliamida e um boné de excelente qualidade) e as principais certificações técnicas internacionais (IAAF e AIMS), a Maratona de Assunção tem tudo para melhorar ainda mais em 2012. De preferência, com percurso totalmente fechado aos carros, afinal, apoio das autoridades para isso parece não faltar.

Eu corri a meia e gostei, apesar do resultado um pouco alto: 1h55. Na maratona o pódio masculino foi todo queniano, sendo campeão Anderson Kiprono (2:17:35); no feminino também vitória queniana, com Chemtai Rionotukei (2:53:10), e duas brasileiras: Leone Justino (4ª) e Gisele Lisboa (5ª). João da Bota foi 2º na meia e M. Aparecida dos Santos a 5ª. Resultados completos no site www.maratondeasuncion.com.