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Maratona de Amsterdã, perfeita para o turista-corredor – dez/2006

Da redação – dezembro 2006

Plano como uma mesa de sinuca. Assim pode ser definido o percurso da Maratona de Amsterdã, na Holanda, cuja 31ª edição aconteceu dia 15 de outubro. Boa para iniciantes, melhor ainda para maratonistas experientes, que buscam a sua melhor marca. Além do percurso rápido, a temperatura favorável (12 graus) no dia da prova facilitou a vida dos 5.858 corredores que terminaram – sendo 17 brasileiros, entre Vanderlei Cordeiro de Lima, na 5ª posição e Sirlene Pinho em 8º. No mesmo dia, foram realizadas ainda uma meia-maratona e uma corrida de 10 km com, respectivamente, 6.992 e 3.611 concluintes, além de um revezamento.

Conhecida como a Veneza do Norte, devido aos seus mais de 40 canais – cruzados por cerca de 400 pontes, Amsterdã é uma cidade vibrante, charmosa e alegre, com 735 mil habitantes, mas que recebe 3,5 milhões de turistas todos os anos. Capital oficial da Holanda (a capital administrativa é Den Haag, “Haia”, em holandês, 56 km a sudoeste), foi fundada há 700 anos e sofreu, ao longo dos séculos, invasões de espanhóis, franceses e alemães. Liberal por natureza, abrigou ao longo de sua história levas de perseguidos religiosos, especialmente judeus e protestantes. Mais recentemente, vem recebendo imigrantes de países asiáticos, africanos e das ex-colônias holandesas, como Indonésia e Suriname.

Tudo isso confere à cidade um clima especial, que faz o turista-corredor se sentir à vontade e o anima a explorar as ruas estreitas, que abrigam prédios baixos – a maioria tem até quatro andares – e igualmente estreitos. A topografia plana não é boa só para maratonistas, mas para os ciclistas também. Principal meio de transporte local, as bicicletas estão por toda parte, a qualquer hora e conduzidas por todo tipo de gente. O principal conselho nos guias turísticos da cidade é “mind the bike” (algo como “cuidado com a bicicleta”, em inglês). De fato, em Amsterdã, se bobear você é atropelado por uma!

Tudo de bicicleta: é mais prático!

A melhor maneira de conhecer a cidade é, claro, de bicicleta. Da mesma forma, é a melhor maneira de se ir para a largada da maratona, no estádio olímpico da cidade, sede dos jogos de 1928. Depois da maratona, com as pernas cansadas, o corredor ainda pode relaxar pedalando de volta para o hotel – até porque várias linhas de tram (os bondes elétricos) não funcionam no dia da maratona ou têm suas rotas alteradas.

A feira da maratona é no mesmo local da retirada do kit, num ginásio próximo ao estádio olímpico. Como sempre acontece, há estandes dos principais fabricantes de tênis e uma linha completa de lembranças da prova, de toalhas a camisetas, passando por bonés, shorts e lembrancinhas. A retirada dos kits é absolutamente tranqüila e sem atropelos, assim como a largada da prova, dentro do estádio olímpico, graças às baias divididas por expectativas de tempo. “Não há empurra-empurra na largada, a organização é perfeita, não faltou nada nos postos de abastecimento, todos com água e isotônico”, elogia o carioca José Barreto Carneiro, 53 anos, que correu em Amsterdã a sua quarta maratona, sendo a primeira fora do Brasil. Tendo viajado na companhia da esposa e dois filhos, ele gostou em especial da chegada dentro do estádio. “O locutor gritou meu nome, Brasil e Acoruja, meu clube de corrida, parecia gol no Maracanã, fiquei arrepiado!”, lembra Carneiro.

Outro que estreou fora do Brasil foi o também carioca Hélio Fontes, 36 anos, 11 maratonas no currículo antes de Amsterdã, que completou com o excelente tempo de 2:53:47. “A cidade é belíssima, as pessoas são abertas e acessíveis para dar informações, sendo que todas falam inglês. Achei interessante os barcos-residências e o Canal Bus, barco que percorre os canais e serve como excelente meio de transporte para o turista”, destaca.

Saída, passagem e chegada no estádio olímpico

Depois da largada, dada às 10h30, os maratonistas fazem uma volta de 7 km pelas ruas do Oud Zuid, bairro da zona sul, passando pelo Vondelpark, o principal parque urbano de Amsterdã, e retornam ao estádio olímpico. Depois de uma volta completa na pista de tartan, ao som de uma animada música eletrônica e sob os gritos e aplausos do público nas arquibancadas, os corredores vão em direção sul. No km 15, chega-se à margem esquerda do rio Amstel, que dá nome à cidade (Amsterdã significa “barragem do Amstel”). Seguindo ainda mais ao sul, sempre ao longo do rio, o percurso passa por pastos com vacas (holandesas, claro!), um típico moinho do país e mansões rurais, num clima bucólico e campestre, que faz até o maratonista esquecer por alguns instantes o que veio fazer ali.

No km 19, cruza-se uma ponte, onde há uma boa aglomeração de público, e pega-se a outra margem do rio Amstel, que serpenteia na direção norte, novamente passando por vacas e pastos verdejantes. Após 10 km de beira-rio, o maratonista finalmente muda de paisagem, atravessa bairros um pouco sem graça, com grandes edifícios de escritórios, até chegar na zona leste da cidade, na altura do km 35. Deste ponto em diante há público incentivando e, não por acaso, é o ponto do percurso que mais se aproxima da região central da cidade – onde, imagino, seria inviável a passagem de milhares de corredores devido às ruas e pontes estreitas sobre os canais.

Já no km 38,5, passa-se pelo Rijksmusem (Museu Nacional de Arte e História), o maior e mais importante museu da cidade e da Holanda, onde estão expostas muitas obras de Rembrandt, entre elas sua obra-prima, “A Ronda Noturna”, exibida numa sala especial. Não longe dali fica o Museu Van Gogh, que dispensa apresentação e, não por acaso, disputa com o seu vizinho a preferência do público. Logo em seguida, entra-se novamente no Vondelpark, com suas alamedas sinuosas cercadas de árvores. Pouco depois de sair do parque, o maratonista passa sob um portal inflável que marca o início do último km até a chegada. É hora de apertar o passo e jogar o que resta de energia nas pernas, até se avistar o estádio olímpico.

A multidão forma neste ponto um corredor ruidoso, incentivando, gritando e aplaudindo. Última curva à direita e pronto, entra-se no estádio para os últimos 200 metros de prova. Hora de descontração, medalha no peito, sorriso no rosto e cansaço no corpo, mas não o bastante para impedir um bom passeio à tarde. Numa cidade como Amsterdã, cheia de coisas a se fazer e descobrir, correr uma maratona é apenas um item na programação do turista-corredor. No encarte, todos os brasileiros.

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