20 de setembro de 2024

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Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (114)

Maratona Alpina: 78 km de sobe e desce

No final de julho participei da Swiss Alpine Marathon, na distância de 78 km, e que apresenta inúmeras dificuldades para nós brasileiros: variações de altitudes, temperaturas alternadas, trilhas perigosas e especialmente dificuldade para respirar quando se chega aos quase 3.000 metros.

Os organizadores suíços oferecem toda assistência possível, desde quando chegamos (eu e minha mulher Zoe) a Zurique até o final da corrida. Após ter feito a inscrição pela internet, recebi pelo correio tíquetes para viajar de trem durante uma semana de graça, pela Suíça. A inscrição custou 88 euros (242 reais). Chegamos a Davos na véspera, peguei o kit (pobre) e fomos para o hotel.

Não dormi bem à noite, pois chovia muito e eu pensava nos problemas do dia seguinte. Oito da manhã de sábado, 29 de julho, foi dada a largada, com uma garoa fina e temperatura de 10 graus. Resolvi correr com roupa térmica, pois iríamos subir (e muito). Davos está situada a 1.538m acima do nível do mar.

No início corremos por trilhas e vales maravilhosos, pontes e viadutos, chegando à cidade de Monstein, a 1.626m, percorridos até então 18 km. Meu relógio marcava 1h48 de corrida. Começou então uma longa descida até Wiesen (1.197m), trecho muito perigoso, por ser uma trilha onde passava somente um corredor; muito liso e muitos tombos. Em Wiesen completei 31 km com o tempo de 3h05. Próxima etapa, Filisur, a 1.032m.

Até 10 graus negativos. Após Filisur, as primeiras grandes dificuldades. Começamos a subir, subir, muita chuva, chegando a Bergun, a 1.365m, encravada num maravilhoso vale. A próxima etapa seria mais complicada, porque teríamos que alcançar Keschcute, pasmem, a 2.632m, o qual levei quase três horas para transpor. Sentia muito frio, a chuva continuava, mais o vento forte. Doía tudo, sola dos pés, pernas, mãos: a temperatura lá em cima oscilava entre 5 a 10 graus negativos. Havia forte neblina, entrei num hospital montado numa barraca para tomar chá quente.

Durante todo o percurso, a cada 3 km, abastecimento com água, frutas, bolos e chá quente. Também três barracas-hospitais, contando com apoio de helicópteros para atender o mais rápido possível. Percorridos 70% da distância, me animei porque o restante era em descida. Ledo engano. O trecho a seguir tinha muita pedra, liso, íngreme, contornando as montanhas, nada de descida. Um pouco de neve, precipícios imensos. Todo cuidado era pouco para não cair ou tropeçar na trilha, onde somente um passava. Desgaste físico enorme, e apesar da minha experiência em ultramaratonas, pensava somente em chegar.

Cada vez mais me convenço de que, para este tipo de prova, não basta treinar; é necessário também garra e determinação. Após 10h23, entrei no Estádio Olímpico de Davos, pisando num tapete macio, flores, e ouvindo com muita emoção o meu nome ser anunciado pelo locutor: o "brasilien" chegou!

Recebi minha camiseta de "finisher", a medalha de participação e palavras de reconhecimento por ter concluído. E o abraço da Zoé, que foi o mais importante.

Nos dias seguintes, desfrutamos dos maravilhosos trens suíços, indo a Zermat, Sant Moritz, Grinwald e outras estações de esqui. A Suíça é um país belíssimo, mas muito caro para nós brasileiros. Gasta-se para correr esta maratona em torno de 3.000 euros (8.250 reais) por pessoa. Para maiores informações entre no site www.alpine-davos.ch.

João Sacks Preste é assinante de Curitiba

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