Mania é o que não falta para corredor. Tem quem adore correr com meias de compressão azul calcinha. Quem faça uma combinação de roupas no melhor estilo axé, quanto mais cor, melhor. Outros que anotam exatamente tudo o que fazem: quilômetros percorridos, frequência, temperatura, sensação… Quem vai para 10 km com cinto de hidratação e quatro garrafinhas… Todos temos nossas manias. Eu, por exemplo, só corro de boné. Com sol, chuva ou neve. De dia ou de noite. Mas confesso que há algumas manias difíceis de explicar.
Uma delas, que cada vez me chama mais a atenção, é o uso de fones de ouvidos. Calma, não é a questão de correr ouvindo música (ou nosso podcast Contra-Relógio no Ar, por exemplo). Eu não gosto (quero ouvir o mundo ao redor, sempre), mas sei de gente que tira até benefício do ritmo musical. Excelente. O que não entendo é as pessoas estarem em grupos com fones de ouvido, dentro de um mundo paralelo.
Não há coisa mais legal do que estar em grupo e ir batendo um papo (quando o ritmo deixa, é claro)? Rodamos mais forte, fazemos uma quilometragem maior, o tempo “passa” bem mais rápido… Se você vai sair com amigos para correr e coloca o fone para ouvir música, qual o sentido de estar em grupo?
Outro ponto que me chamou a atenção recentemente: correr provas de montanha com fone de ouvido. Digo isso por uma experiência que vivi no Mountain Do Praia do Rosa. Foi até hilária. Ri muito. A meu ver, em provas de trilhas, você tem diversos trechos longos em que só passa uma pessoa e, para ultrapassar alguém, precisa de um contato. Como? Pela voz. “Por favor, posso passar”. “Estou indo pela direita” e assim por diante. Sempre com educação, lembrem! E paciência, há lugares em que não dá mesmo para passar.
Na Praia do Rosa, chegou um ponto em que começamos a alcançar o pessoal dos 9 km. Nas trilhas. Havia uma garota na minha frente, em um trote devagar quase parando. Estava no ritmo dela. Perfeito. Sem problemas. Porém, com música alta, ela não me ouvia. Falei umas três vezes, até aumentar um pouco a voz e ela abriu passagem. Corri uns 150 m e escutei: “Aiiiii”. Um grito feminino. E uma voz masculina: “Me desculpe, me desculpe.” Comecei a rir. Lógico: outro corredor foi ultrapassá-la, ela não ouviu que vinha alguém (pelo fone e som alto) e saiu para o mesmo lado. Choque inevitável.
As manias, como escrevi acima, fazem tão parte do cotidiano da corrida como pace, hidratação, longões e assim por diante. Porém, temos de pensar que essas manias não podem atrapalhar nossa percepção do todo, do “ao redor”, porque, muitas vezes, ter todos os sentidos funcionando é algo fundamental tanto para nossa segurança como para quem corre com a gente. Não é assim mesmo?