Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (159)

Mais festa que corrida

Para alguém que gosta de correr e de beber vinho, participar da Maratona de Medoc parece um sonho. São 42 quilômetros entre os vinhedos e vinícolas (chateaux) mais importantes e apreciados no mundo, na famosa região de Bordeaux, onde são elaborados vinhos consagrados internacionalmente. Além disso, a prova conta com 22 pontos de abastecimento com água, música e vinho! Todo mundo já ouviu que tanto correr quanto beber vinho faz bem a saúde, mas e os dois juntos?

Após uma curta estada na belíssima Paris com a Miriam, minha esposa, encontrei dois amigos de empresa, Eduardo Shimahara e Marcelo Bueno, ambos colegas também da equipe 5Ways/Bio Ritmo e alugamos um carro com destino a Vendays-Montalivet, onde reservamos um Gite (hotelzinho simples, barato e bom, espécie de bed-and-breakfast francês, muito popular pois é bem regulamentado), que fica a 30 km da área de largada, na cidade de Pauillac.

Deixamos as malas no Gite e fomos direto pegar os kits. Logo verificamos que se tratava de uma corrida especial, pela organização e descontração dos corredores. Vale mencionar que a inscrição para a prova é disputadíssima, com 8.000 corredores no total e apenas 2.000 vagas para corredores estrangeiros. A prova acontece em setembro, mas em abril já não havia mais vagas para estrangeiros!

Que jantar de massas! A primeira surpresa estava reservada para o jantar de massas. Optamos pelo jantar de massas no Chateau DuCru-Beaucaillou. O lugar é belíssimo, fomos recebidos no jardim com direito a banda e vinho branco. Tendas enormes foram armadas para o jantar de aproximadamente 1.500 corredores. Quando o jantar começou a ser servido (de entrada, salada de macarrão com molho viet­namita à base de caranguejo e pimentões, seguido de macarrão com molho à base de pato, em seguida queijos da região e por fim canelones com recheio de framboesa, tudo isso regado a muito vinho, grandes vinhos da região (como Ducru-Beaucaillou, Chateau Beychevelle, entre outros) e então começou a tocar um conjunto musical

Até esse momento, todos comiam e a pista de dança estava vazia. Para nossa surpresa, a quarta música foi Aquarela do Brasil. Ficamos emocionados e não resistimos e fomos para a pista de dança. Para a minha surpresa, quando me dei conta, o salão estava lotado! A animação estava muito grande e só foi interrompida quando o proprietário do chateau interrompeu a música para anunciar a grande queima de fogos que começaria no jardim. E que show! Saímos do jantar às 11h e posso afirmar que a animação ainda estava grande!

Depois de uma noite bem dormida, chegou o dia da prova. O clima estava muito quente e o sol queimava a pele. Chegando na largada, verificamos que quase todos correm fantasiados, e nós acabamos entrando na onda com perucas verde e amarela. E se você acha que na São Silvestre as pessoas se fantasiam, vou descrever alguns exemplos do que vimos: Um grupo de umas 30 pessoas vestidas de soldados romanos com capacetes, espadas e escudos, uma mesa ambulante com muita comida (de verdade) sendo levada por 8 "chefs corredores", um barco à vela empurrado por dois corredores, uma senhora de aproximadamente 70 anos vestida de chapeuzinho vermelho, acompanhada de um cão Husky Siberiano chamado "lobo-mau".

Muita fantasia, pouca água. Minutos antes da largada, começa uma verdadeira festa, com uma coreografia realizada ao longo da largada, muita música e excitação por parte de todos. Começo de prova, o calor abate a todos e nos deparamos com a primeira e única grave falha da programação, a água estava em garrafas de 1,5 litro e os primeiros corredores acabavam pegando garrafas inteiras, deixando os demais sem água. A situação apenas se normalizou no km 14.

A cada 2 km aproximadamente, passávamos por dentro dos chateaux, o que afunilava a prova, fazendo com que todos andassem nesse trecho e parassem para degustar o vinho que era servido, beber água, além de uva passa, cereais, frutas, curtir as bandas que se apresentavam (uma delas era de Pernambuco e tocava forró) e seguir correndo até o próximo chateau.

Como o ritmo de prova estava devagar, muito sol e a temperatura já chegando aos 36ºC!, sem nenhuma sombra, resolvi entrar no clima da prova, o que implicava parar nos vinícolas, experimentar o vinho da casa, molhar muito a cabeça e seguir para o próximo destino. Se o clima para nós brasileiros estava quente, para os europeus isso beirava à loucura. Muita gente passou mal na prova (será culpa do vinho?), toda hora ambulâncias para lá e para cá e até helicóptero.

"Reforço no abastecimento". A partir do 36o km começou uma verdadeira batalha. O calor forte desgastou demais e a organização da prova colocou um verdadeiro reforço no que era servido aos corredores: sorvetes, carne assada (entrecote de gado da região), embutidos típicos (grenier medocain), mais vinho e até ostras!

Concluímos a prova com 5h50 aproximadamente, recebemos medalha, um par de sandálias, uma mochila e…uma garrafa de vinho da região numa caixa especialmente elaborada para a prova. O primeiro lugar recebe seu peso em vinho!  O vencedor foi Antoine David, que concluiu a prova em 2h28, mas certamente passou rápido demais pelos chateaux…

Se você acha que terminou… ainda há algumas coisas pra contar: na noite da prova todo o cais da cidade de Paulliac é decorado e um palco apresenta bandas, são servidos jantares com menu maratona em todos os restaurantes e mais fogos de artifício. No dia seguinte, um passeio a pé de cerca de 4 horas é oferecido aos maratonistas e acompanhantes, passando por pelo menos 5 chateaux com degustação de vinho.

Continuamos a viagem com destinos como Rocamadour, Carcassone, Chateauneuf-du-pape e Lyon, sempre aproveitando o que a França oferece de melhor: seus vinhos e sua gastronomia. Foi uma viagem inesquecível e uma maratona onde a festa predomina sobre a competição. Salut!

Mais informações no site www.marathondumedoc.com.

Veja também

Leave a comment