20 de setembro de 2024

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Blog do Corredor André Savazoni 8 de agosto de 2012 (8) (83)

Lado psicológico é decisivo em Olimpíada. Muitos sentem a pressão por serem as únicas esperanças

Não somos uma potência olímpica. Longe disso. Cada pessoa tem uma forma diferente de sentir a pressão. Porém, se pegarmos a equipe americana no atletismo, são 125 atletas. O foco não está em um ou dois. Fica mais “fácil” lidar com a cobrança. Não são as únicas esperanças. No Brasil, na maioria das modalidades, a situação é a inversa. Tem um único “para-raio”. Então, literalmente, pesa. Demais.

Junte-se a isso o esforço enorme para ser atleta aqui. Tem de lutar contra tudo e contra todos. Tirando vôlei e futebol, por exemplo, nos outros esportes, chegar aos Jogos Olímpicos já é o máximo da conquista. Vão para “participar”. Talvez, sonhar com uma final. Mas somente em caso de uma combinação improvável de resultados. Buscar o melhor tempo, a principal marca pessoal? Claro. Mas isso muitas vezes não é suficiente nem para passar por um qualificatório ou semifinal.

Precisamos ter uma cultura esportiva. Dividir cobranças e esperanças. Contar com um trabalho a longo prazo. Voltar a investir nas escolas. Na educação como um todo, que engloba as competições esportivas. Temos inúmeras escolas funcionando sem uma quadra poliesportiva. Pista de atletismo então… Muitas não tem nem uma sala de aula decente.., imagine o resto.

Não podemos esquecer também que tão importante como a experiência, a preparação física e técnica, o talento, está a cabeça. A psicologia do esporte está aí para comprovar. O lado mental é decisivo. Pode significar uma medalha olímpica ou um 8º lugar. Ou a eliminação do qualificatório sendo favorito (a). Simples assim.

Citando dois exemplos. As meninas do handebol, valentes, que superaram todas as expectativas, sentiram a pressão de ter do outro lado a campeã mundial e experiente Noruega nas quartas-de-final. Dominavam a partida e venciam por 6 gols de vantagem faltando 15 minutos. A bola “queimou” na mão de cada uma a partir daí.

Outro caso. A Fabiana Murer deve saltar 4,55 m de “olhos fechados” nos treinamentos. Não conseguiu passar nem perto da marca. Foi falta de treinamento, de técnica, de talento? Claro que não. Pesou o lado psicológico. Infelizmente. Uma pena.

No atletismo, não temos nem representantes nos 1.500 m, 5.000 m, 10.000 m… sem esperança de medalhas nos 100 m, 200 m, 800 m, salto triplo, provas em que já tivemos destaque e respeito.

O COB e as Federações podem voltar para casa depois de Londres fazendo festa, comemorando. Não dá. Estamos perdendo tempo. Ano após ano. Não é de agora. Daqui a quatro anos, teremos uma Olimpíada no Rio de Janeiro. Mas o projeto tinha de começar ontem. O primeiro passo tem de ser feito. E logo. Frutos mesmo, talvez (com um pouco de sorte) em 2020. Mas sem esquecer o lado psicológico, decisivo em uma Olimpíada, Mundial…

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8 Comments on “Lado psicológico é decisivo em Olimpíada. Muitos sentem a pressão por serem as únicas esperanças

  1. Olá André, td bem?
    Sou psicólogo do esporte, bacana o post, principalmente partindo de alguém que não é da área. A psicologia do esporte precisa integrar as comissões técnicas de diversas modalidades, chega de preconceitos e receios.
    Só para registrar o handebol feminino têm uma psicóloga do esporte que está com a equipe há vários anos, a amiga Alessandra Dutra, ela faz um trabalho muito consistente. Ao meu ver, faltou tb experiência para o grupo e a diferença técnica entres as equipes é gritante. Porém, o resultado para a modalidade foi inédito.
    Um abraço.

    —————————————–

    Opa Rodrigo, legal sua participação. Vi uma entrevista também mostrando o trabalho que foi feito com a Sarah, nossa medalhista de ouro no judô, por uma psicóloga do esporte no Piauí. E ela explicando a importância do trabalho.
    Agora, por mais que exista o trabalho, há o momento também. Claro que as meninas do handebol estão de parabéns e que a Noruega é um timaço, porém, analisando o jogo em si, elas poderiam ter ganho. Uma pena, mas vamos para a próxima.
    Concordo plenamente quando fala que a psicologia do esporte tem de estar em todas as equipes e modalidades. Sem dúvida alguma.

    Abraço e obrigado pela participação
    André

  2. O atletismo brasileiro precisa urgentemente de psicólogos, pois muitos atletas brasileiros ficam aquém de suas marcas e parecem já ter um discurso pronto para o fracasso. Não se deve ter um discurso pronto para o caso de falha, se deve sim ter atitude de vencedor, como vemos antes das largadas nos jamaicanos e nos norte-americanos por exemplo. dá pra ver o sangue nos olhos deles, a vontade de vencer e a connsciência de sua força, e quando mostram um brasileiro, parece que está muito feliz e contente só por estar lá.

  3. Oi, André.
    Vi a evolução da Inglaterra no quadro de medalhas e o número de participantes nas modalidades a cada edição dos JO’s. O país decidiu investir forte no esporte e vem mostrando resultados. O Brasil podia seguir o exemplo. Com apoio psicológico e infraestrutura.
    Abraço,
    Helena
    @correndodebem

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    Helena, concordo contigo, porém, duvido que esse trabalho da Grã-Bretanha tenha somente quatro anos. É o que nos resta…

    Abraço
    André

  4. Ótimo texto, André. Infelizmente, o que mais pesa mesmo, é o atleta chegar lá e ser uma grande esperança por termos poucas medalhas. Já há a pressão da Olimpíada em si, e ainda vem a pressão de um país… mas faz parte, alguns, pelo menos, já deviam estar acostumados.
    Nem sempre o psicólogo do esporte “ajuda”, como vimos no caso do handebol feminino, que estava com o jogo na mão, mesmo levando-se em consideração a potência que é a Noruega (que aliás, está penando pra ganhar da Coreia). Ah, “mas foi uma grande campanha”… sim, foi, mas na partida em questão, a vitória estava na mão, 6 gols de diferença no handebol é bastante.
    A Fabiana Murer conseguiu a proeza de sequer tentar. E tem o Diego Hypólito, Larissa/Juliana que estavam com o jogo na mão e perderam…basquete masculino que abusou de erros de ataque ontem…
    Outro pouco também da decepção parte da total desinformação das pessoas: se o cara não tem tempo (histórico) pra chegar na final, não há garra, sangue nos olhos e qqer outra coisa que faça esse milagre. Se o Marílson, p ex, não tem 2h04 na maratona, a chance de ele fazer isso na Olimpíada é praticamente nenhuma. Todos os atletas têm os seus limites. O desconhecimento do grande público faz com que pensem que eles conseguirão algo que nunca fizeram na vida.

  5. JC BALDI, acompanho bastante o atletismo e vários atletas brasileiros têm marcas que os colocariam nas finais. Acontece que chegam lá e fazem marcas muito inferiores do que já fizeram inclusive em 2012. alguns exemplos que eu lembro de cabeça, sem pesquisar: Fabiana Murer, Maurren Maggi, triplista Jonathan, FAbio Gomes da silva, o decatleta que salta em altura sempre 1,98 hoje saltou 1,93, Keila Costa. Esses que eu lembro rapidamente, mas tem mais gente. Falta apoio psicológico pra esse pessoal não amarelar.

  6. Na verdade, Julio Cesar e JCBaldi, pegando o atletismo como exemplo, me incomoda muito a postura que muitas vezes ocorre.

    O atleta luta, esforça-se, briga contra tudo e contra todos para obter o índice olímpico (que sabemos, para os brasileiros, sempre é muito difícil pois poucos têm condições de competir em meetings nos EUA e Europa, por exemplo). Aí, não sei se seria um relaxamento ou uma sensação de dever cumprido, perdem um pouco o foco.

    Consideram que o ápice foi conseguir a classificação olímpica e não em chegar lá na competição e buscar o melhor. Será suficiente para uma final ou até lutar pelo pódio? Muitas vezes não, mas podem voltar com a sensação de dever cumprido. Porém isso pouco ocorre.

    Os exemplos citados pelo Júlio são reais. Poucos brasileiros melhoraram suas marcas neste ano. A maioria inclusive ficou bem abaixo de suas marcas pessoais.

    Parabéns para as meninas do 4×100 m que chegaram à final olímpica nesta tarde batendo o recorde sul-americano. Que baixem ainda mais o tempo. É isso que deveria servir de parâmetro.

    Abraço
    André Savazoni

  7. André, também não podemos isentar os treinadores de suas responsabilidades. No caso do atleta que chega nos jogos e faz marcas muito abaixo das que ele já tem, além da questão psicológica temos a questão da periodização. E a periodização é de responsabilidade exclusiva dos treinadores.

  8. André, este mesmo fenômeno acontece em escala menor em outras competições. Por exemplo, é muito comum um atleta ou nadador conseguir índice para um Troféu Brasil ou Brasileiro de Natação e fazer tempos muito piores quando chega lá. É normal, natural.

    A solução não é necessariamente (nem principalmente) psicólogos esportivos. Acho que nem eles querem essa pecha de salvadores da pátria. O que precisa é de mais competição internacional, mais exposição aos grandes nomes e aos grandes palcos. Por exemplo, quantos brasileiros rodam nas Diamond League da vida?

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    Luis, concordo quanto ao intercâmbio. Para competirmos com os melhores do mundo precisamos obrigatoriamente competir com os melhores do mundo antes. Não tem como fugir disso.

    Abraço
    André

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