Não somos uma potência olímpica. Longe disso. Cada pessoa tem uma forma diferente de sentir a pressão. Porém, se pegarmos a equipe americana no atletismo, são 125 atletas. O foco não está em um ou dois. Fica mais “fácil” lidar com a cobrança. Não são as únicas esperanças. No Brasil, na maioria das modalidades, a situação é a inversa. Tem um único “para-raio”. Então, literalmente, pesa. Demais.
Junte-se a isso o esforço enorme para ser atleta aqui. Tem de lutar contra tudo e contra todos. Tirando vôlei e futebol, por exemplo, nos outros esportes, chegar aos Jogos Olímpicos já é o máximo da conquista. Vão para “participar”. Talvez, sonhar com uma final. Mas somente em caso de uma combinação improvável de resultados. Buscar o melhor tempo, a principal marca pessoal? Claro. Mas isso muitas vezes não é suficiente nem para passar por um qualificatório ou semifinal.
Precisamos ter uma cultura esportiva. Dividir cobranças e esperanças. Contar com um trabalho a longo prazo. Voltar a investir nas escolas. Na educação como um todo, que engloba as competições esportivas. Temos inúmeras escolas funcionando sem uma quadra poliesportiva. Pista de atletismo então… Muitas não tem nem uma sala de aula decente.., imagine o resto.
Não podemos esquecer também que tão importante como a experiência, a preparação física e técnica, o talento, está a cabeça. A psicologia do esporte está aí para comprovar. O lado mental é decisivo. Pode significar uma medalha olímpica ou um 8º lugar. Ou a eliminação do qualificatório sendo favorito (a). Simples assim.
Citando dois exemplos. As meninas do handebol, valentes, que superaram todas as expectativas, sentiram a pressão de ter do outro lado a campeã mundial e experiente Noruega nas quartas-de-final. Dominavam a partida e venciam por 6 gols de vantagem faltando 15 minutos. A bola “queimou” na mão de cada uma a partir daí.
Outro caso. A Fabiana Murer deve saltar 4,55 m de “olhos fechados” nos treinamentos. Não conseguiu passar nem perto da marca. Foi falta de treinamento, de técnica, de talento? Claro que não. Pesou o lado psicológico. Infelizmente. Uma pena.
No atletismo, não temos nem representantes nos 1.500 m, 5.000 m, 10.000 m… sem esperança de medalhas nos 100 m, 200 m, 800 m, salto triplo, provas em que já tivemos destaque e respeito.
O COB e as Federações podem voltar para casa depois de Londres fazendo festa, comemorando. Não dá. Estamos perdendo tempo. Ano após ano. Não é de agora. Daqui a quatro anos, teremos uma Olimpíada no Rio de Janeiro. Mas o projeto tinha de começar ontem. O primeiro passo tem de ser feito. E logo. Frutos mesmo, talvez (com um pouco de sorte) em 2020. Mas sem esquecer o lado psicológico, decisivo em uma Olimpíada, Mundial…