Villa La Angostura, uma típica cidadezinha de montanha, com menos de 10 mil habitantes, na região dos Lagos na Província de Neuquén, na Patagônia Argentina, é o palco tradicional do encerramento do circuito mundial da K42 há 12 anos. E não poderia haver um lugar melhor para uma maratona off-road. Os esportes ao ar livre fazem parte do dia a dia de Angostura. Durante o inverno, a aventura é em modalidades na neve, com destaque para o esqui. Agora, neste período de primavera a diversão é no verde das belas e altas montanhas da região.
Esse clima atraiu corredores de diversos países da América do Sul (entre eles cem brasileiros). O evento é dividido em quatro dias, neste ano de 13 a 16 de novembro. Começa com a entrega dos kits na quinta-feira, passa pela corrida de 15 km e congresso técnico na sexta, chega ao ápice nos 42 km no sábado (que inclui a cerimônia de premiação e uma animada festa à noite) e termina com a prova kids no domingo pela manhã.
A cidade está localizada no setor norte do Parque Nacional Nahuel Huapi, entre os picos, ou melhor, cerros Bayo (1.792m), Inacayal (1.849m) e Belvedere (1.992m). Na margem esquerda, encontra-se o Lago Nahuel Huapi (com a maioria dos hotéis tendo vista para ele, que tem 80 km de comprimento) e, à direita, o Lago Correntoso – interessante é que o Rio Correntoso, com apenas 200 m de extensão, une os dois lagos e concentra um importante local de pesca de salmão. A truta e o cordeiro patagônico são outros pratos típicos da região.
O percurso da maratona tem como pontos mais altos o Belvedere (na primeira metade, mas que não é percorrido até o topo, ficando, "apenas", nos 1.393m no km 6) e o Cerro Bayo (que engloba a estação de esqui do local e acesso por teleféricos, inclusive durante a prova para quem quiser assistir), com direito a 8 km de subida intensa até os 1.792m (e a descida depois tão íngreme quanto), com uma visão privilegiada dos dois lados da região, sendo um atrativo único e que torna o K42 argentino uma corridas muito bonita.
Não é uma viagem nem uma corrida barata, nem fácil. A inscrição para a edição de 2015 (dia 14 de novembro), já está aberta e esgota-se rapidamente. O valor é de R$ 833 para brasileiros. A viagem é cansativa, pois é preciso voar até Buenos Aires (Aeroparque ou Ezeiza). Depois, pegar um segundo avião até Bariloche e, ainda, percorrer mais uma hora de carro ou van para finalmente chegar até Angostura. Então, mesmo tendo sorte na conexão, leva-se em média 12 horas de deslocamento. Porém, ao chegar lá, esse cansaço é completamente "esquecido".
AGITO NA VILA. A largada dos 42 km ocorre às 9h do sábado (dos 15 km, às 14h da sexta-feira). O ponto de partida e chegada acontece na "região central", formada por lojas, bares e restaurantes, com somente três quarteirões de extensão. Um ponto que chama a atenção antes, durante e depois é o total envolvimento da cidade, desde o poder público até os comerciantes (com descontos na maioria das lojas). Pelo caráter totalmente turístico do local, o evento leva 2 mil corredores e mais uma centena de acompanhantes… ou seja, nem é preciso descrever o significado para a economia local, ainda mais em uma época de baixa temporada.
O percurso é o grande atrativo. Começa-se a correr no "centrinho" e, depois de menos de 1 km de piso, parte-se já para o trecho de terra e, a partir do km 3 é um sobe e desce até o final. Com a sensação que se sobe muito mais! O trajeto inclui tudo o que atrai os corredores de montanha. Estradas de terra, pedras, travessia de rios (mas com água apenas no tornozelo ou com pontes de madeira), trilhas abertas e fechadas… com destaque para a neve e as cinzas de vulcão. A primeira parte, até por volta do km 12, é muito arborizada e totalmente fechada, com os pontos de observação da região à medida que se vai subindo e subindo. Muitos dos caminhos são os utilizados pelos caminhantes do parque para trekking. Mesmo nos trechos de estradas, o acesso de veículo é fechado enquanto estiverem passando os corredores.
Depois dos 1.393m atingidos no Cerro Belvedere, começa uma descida longa, onde é possível correr (por sinal, tirando as dificuldades causadas pela inclinação, o percurso da K42 Villa La Angostura é todo "corrível", sem nenhum local com cordas ou algo que a transformasse em "escalada" ou qualquer outro nome do que corrida, mas claro que nem o pessoal da elite consegue correr integralmente pelos 42 km). Fica um misto de sobe e desce, mas nada muito íngreme. É a parte mais rápida.
O trecho mais difícil da prova está localizado entre os km 24 e 37. É quando começa a subida realmente intensa, de aproximadamente 8 km, pelo Cerro Bayo. Primeiro, pela mata, em trilhas, e, depois, por uma estrada bem mais larga, já sem qualquer vegetação, com uma mistura de terra e cinzas de vulcão. E você, lá "em baixo", vai vendo o ziguezague de outros corredores nas alturas. Inclinações de mais de 40%, que fazem a perna queimar, mesmo caminhando lentamente ou tentando trotar. Na medida em que o cume se aproxima, vem com ele a neve. O belo dia de sol, com temperatura agradável e céu completamente azul, deu um charme a mais para o contraste do visual com o branco do gelo.
NEVE NO CUME. Na "arrancada" para o cume, de pouco mais de 1 km, há trechos em neve. Com os pés afundando, escorregando, mas uma sensação única (e, para nós, brasileiros, algo raro e inesquecível). No alto, baixa temperatura, frio e a vista de toda a região, dos dois lados. Um momento para dar uma parada e recobrar a respiração, mas principalmente apreciar a paisagem. Então, começa a descida, com 500 m extremamente íngremes, com cinzas de vulcão (há dois anos, a cidade ficou toda coberta devido à erupção do vulcão Pueyrredón, no Chile), pedras soltas e neve, em trechos diferentes, onde é preciso ter cautela.
A partir desse ponto, mais ou menos no km 35, a altimetria será somente para baixo e quem chega com perna (e com uma dose de coragem para "despencar" pelo trajeto) pode imprimir uma boa velocidade. Volta-se por trilhas (algumas bem fechadas) até a rua principal da cidade, com direito a tapete vermelho na chegada. E gente nos bares aplaudindo e incentivando.
Devido às dificuldades do percurso, a organização tem um cuidado redobrado com a segurança. A começar pelas informações passadas no Congresso Técnico, na sexta-feira, que são completas, apesar de rápidas. Ou seja, mesmo quem corre pela primeira vez a prova já vai para a largada sabendo exatamente o que irá "enfrentar" e com os pontos mais difíceis memorizados, sem surpresas desagradáveis (e desnecessárias). Há socorristas percorrendo o trajeto a pé, placas e fitas orientando por onde ir e o pessoal do staff realmente trabalhando.
Os pontos de hidratação/alimentação cumprem o objetivo (não há necessidade de correr com mochila de hidratação). Há água, isotônico, frutas, doces, Coca-Cola e até empanadas de queijo com goiabada (antes da subida do Cerro Bayo). Na chegada, água, frutas, isotônico e sopa de feijão, além de lentilha com batatas e carne.
Em termos de tecnologia, a novidade na edição deste ano foi a transmissão ao vivo da prova no site da K42 (www.k42series.com). Havia pontos mostrando imagens na largada, no alto do Cerro Bayo e na chegada. A ideia é manter e aprimorar esse trabalho para 2015. Outro ponto que começou em 2013 e consolidou-se agora foi a GrandK, que consiste em correr os 15 km na sexta-feira e os 42 km no sábado, com a soma dos tempos para a definição da classificação.
ITALIANOS. Na elite, os favoritos justificaram a longa viagem da Europa. Deu dobradinha italiana. Vitória de Marco de Gasperi, com 3h23, seguido dos argentinos Edgar Rios (3h25) e Sergio Pereyra (3h28). Quem se destacou também foi o escocês Tom Owens, outro especialista em corrida de montanha, que terminou na quarta posição (3h30), mas que ainda fez os 15 km com o pai e o irmão, sendo o primeiro no GrandK. Elisa Desço, campeã mundial de skyrunning (corrida vertical) neste ano, venceu a K42 com "sobras", fazendo 3h59. Na sequência, vieram as argentinas Verônica Ramirez (4h16) e Adriana Vargas (4h21).
No total, foram 723 concluintes nos 15 km, com destaque para a grande participação feminina, sendo maioria: 420 mulheres e 303 homens (algo comemorado pela organização). Já nos 42 km, completaram o percurso 1.141 corredores (776 homens e 365 mulheres). Não há limite de tempo de conclusão; os últimos fizeram em 10h50. Porém, há um ponto de corte na descida do Cerro Bayo, que reduz a distância em 5 km, para ninguém chegar no escuro – nesta edição, apenas seis foram obrigados a fazer o trecho mais "curto". Veja os resultados completos e a classificação geral e por categorias, tanto nos 42 km quanto nos 15 km, em www.k42series.com/argentina/.
Inscrições abertas para 2015
A 13ª edição da K42 Villa La Angostura está marcada para o dia 14 de novembro de 2015. As inscrições podem ser feitas pelo site oficial (www.k42series.com/argentina/) até o dia 10 de dezembro, por valor promocional. O preço para brasileiros é de R$ 833 nessa fase.
Ubatuba recebe etapa em maio
A etapa brasileira de 2015 do circuito internacional K42 está marcada para o dia 23 de maio, novamente em Ubatuba (que recebeu a competição neste ano). Serão três distâncias: 42 km, 21 km e 10 km, além do kids. A largada da maratona será na Praia da Lagoinha, com chegada na da Baleia. Não haverá revezamento. Mais informações em (www.k42series.com/brasil/). Assinantes da Contra-Relógio têm desconto.