PERFIL – por Vicent Sobrinho – Dezembro 2010
Conheça momentos marcantes da vida de JJS, desde seu contato inesperado com a São Silvestre, em 1973, suas duas vitórias em 1980 e 1985, seus treinamentos e o amor pelas corridas, até os dias de hoje, como organizador de provas pelo Brasil. E sem nunca parar de correr…
José João da Silva, menino de 17 anos, recém chegado a São Paulo, vindo de Bezerros/PE, era estudante do Colégio Assunção na alameda Lorena, próximo ao restaurante em que trabalhava. Era o último dia do ano de 1973 e sua paixão pela corrida tinha hora marcada para começar, estava programada pelo destino e começaria quase como um susto, um acidente. João conta como foi:
“Eu trabalhava nos serviços gerais da Cantina Nova Romeu e para ganhar um trocadinho a mais fazia entregas à noite, pois recebia caixinha; lembro que era a última das entregas daquela noite, para um endereço do outro lado da avenida Paulista, e quando fui atravessá-la fui impedido por um policial, que pediu para que esperasse, pois em poucos minutos estaria passando o pelotão de frente da São Silvestre; achei uma novidade, pois eu nada sabia sobre a prova. No retorno ao restaurante, contei aos meus patrões, Radamés e Romeu Pelliciari, porque tinha demorado.
Naquela época, o único esporte que eu fazia era taekendo, numa academia do lado do colégio e comecei curtir a idéia de correr. Foi pelo incentivo de Radamés e Romeu que comecei a treinar, já no dia 3 de janeiro. Comecei sozinho, descendo e subindo a rua Pamplona e um dia sem querer fui parar no Parque do Ibirapuera. Só conhecia de nome e nem sabia que era público, achei legal e voltei lá uma ou duas vezes naquela semana. Eu estava em São Paulo há pouco tempo e morava numa pensão ao lado da cantina. Nunca via quase ninguém correndo no Ibirapuera, só as mesmas poucas pessoas com seus cachorrinhos; realmente a corrida ainda não tinha entrado na moda. O meu verdadeiro anjo foi o Radamés, que me incentivava e gostava da minha corrida, que era muita destrambelhada, porém rápida; foi ele que me estimulou e até passou a me levar para treinar após a meia noite. Às vezes saíamos às 2 da manhã de frente da Gazeta, ele de carro atrás, marcando o tempo e me dando cobertura; fazíamos todo o percurso da São Silvestre.
Em 1975 o Radamés me disse para ir procurar um clube, alguém para me treinar, mas eu não sabia como, na verdade eu não sabia de nada só gostava de correr, mas já estava me incomodando a situação de não conseguir evoluir nos tempos. Até que um dia, treinando no Ibirapuera, um corredor que já estava cansado de tanto me ver por lá comentou : Ei você corre bem! Quem treina você? Eu expliquei toda a história e que não tinha ninguém me orientando, por isso treinava sozinho! Ele falou que era sócio do Clube Pinheiros e sugeriu que eu desse um pulo lá. Fiquei com aquilo na cabeça e passados alguns dias peguei minha bicicleta e fui até lá; ao chegar na portaria, perguntei ao guarda (um conterrâneo…), na maior ingenuidade, se havia jeito de treinar corrida no clube e ele me indicou que falasse com o treinador Pedrão.
Só que o Pedrão, que eu nem sabia, mas era um dos melhores técnicos da época, era especializado em velocistas e saltadores, e por isso ele me mandou procurar o Carlão. Após um teste, o Carlão gostou do resultado na pista de carvão do clube, apesar de comentar que eu corria sentado, sem estilo, meio estropiado, mas mesmo assim era rápido. Eu continuei trabalhando na pizzaria por mais dois anos, fazendo entregas, e treinando agora de verdade, fazendo tiros em rampa, educativos etc.
Após pouco tempo de treinamento eu já era o melhor entre os corredores do Pinheiros, mesmo não tendo mudado muito meu jeito de correr. Na minha primeira preliminar da São Silvestre, em 1975 (que era indispensável participar para conseguir se inscrever na prova) fui o 64º na geral e na minha estréia na SS consegui terminar entre os cem primeiros, na 89ª posição. Fiquei no Clube Pinheiro de 1975 até 1980, e agradeço por esse período que me permitiu crescer no esporte. Em função de meus resultados fui depois para o São Paulo F. C., onde fiquei de 1980 a 1987, ao encerrar minha carreira.“
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