O que seria um benefício, por força de uma lei federal, e que vale também para eventos culturais além dos esportivos, muitas vezes acaba sendo dificultado pelos organizadores por um motivo simples: há muitos que se aproveitam para tirar "vantagem" e se inscrever com o nome e dados do pai, do avô, do tio…
Esse "golpe" influencia não somente a inscrição (prejudicando quem tem direito de fato, pois muitas pessoas acabam ficando sem o desconto), como também as classificações por faixas etárias. Sem falar no prejuízo financeiro para as empresas organizadoras. Nas redes sociais, principalmente na época de São Silvestre, muitos comemoram terem conseguido 50% de desconto ao fazer inscrição no nome de um idoso.
Para tentar minimizar ou dificultar esse "jeitinho" brasileiro, algumas organizadoras adotam métodos diferenciados na inscrição de idoso, o que acaba dificultando o processo de inscrição e gerando reclamações.
Em uma das estratégias, por exemplo, caso o corredor não vá pessoalmente retirar o kit, a organização entrega apenas a camisa, sacola e brindes. O chip e o número de peito terão de ser retirados no dia da corrida diretamente pelo participante. A Iguana fez isso já na Golden Four Asics. Esse método acaba inibindo quem vai se inscrever indevidamente para ter o desconto ou obrigando corredor com 60 anos ou mais a ir retirar todo o kit (mesmo que depois repasse para o filho, sobrinho, neto…)
Outras empresas estão adotando posturas mais complexas, que também burocratizam todo o processo. No Ativo (www.ativo.com), site usado pelas empresas de corrida para fazer o processo de inscrição, há métodos diferentes. Em uma breve pesquisa feita pela Contra-Relógio no site do Ativo, existem páginas de provas já com o link direto para o desconto de 50% para quem tem mais de 60 anos. São corridas que contratam o site para o processo de inscrição.
Já para as organizadas pela Norte Marketing Esportivo (Circuito das Estações, Meia de Sampa e de Florianópolis, entre outras), o Ativo explicou, em contato com a reportagem, que nesses outros casos, "as inscrições de idosos são realizadas por outro meio; os mesmos devem encaminhar a solicitação para nós e preencher formulário específico".
O assinante Clécio Rodrigues citou dois exemplos dessa "dificuldade" em conseguir o desconto para idosos no Ativo, na Meia de Floripa (disputada em junho) e na de Sampa (no mês de outubro). "Quando quis fazer a inscrição, não constava o desconto que tenho direito pela Lei 10.741, art. 23. E ao fazê-la, mesmo declarando ter 62 anos, foi cobrado o valor total", afirma Clécio.
Outro assinante, Celso Nogueira de Quadros Von Atzingen, também citou a questão de ter de acessar um link diferente para ter o desconto. "A forma como o Ativo faz a inscrição de idosos é muito complicada. A Corpore e o Yescom concedem o desconto de 50% apenas com a declaração da data de nascimento e comprovada na retirada do kit. Já o Ativo exige uma solicitação especial", completa o corredor.
"Além disso, o ícone para solicitar essa redução de 50% (um idoso de bengala) é por si só muito ofensiva a quem deseja correr uma meia-maratona, mesmo com mais de 60 anos. Pode ser um símbolo reconhecido em outras áreas, mas totalmente inconveniente e ofensivo a um corredor. Demonstra total falta de sensibilidade com as pessoas."

LÁ FORA – Lembrando que, no exterior, essa questão de desconto para idosos é restrita, até porque no Brasil ela existe por força de lei federal. Há gratuidades e descontos para diferentes grupos, como militares, por exemplo, nos Estados Unidos, mas não é uma regra/obrigação em todas as corridas, como por aqui.
Nas Majors (Chicago, Boston, Nova York, Tóquio, Berlim e Londres) o valor é idêntico para todas as faixas etárias, assim como em todas as maratonas pesquisadas pela Contra-Relógio, como Viena, Roma, Barcelona, Valência, Disney e Paris, entre outras.