Blog do Corredor Tomaz Lourenço 15 de fevereiro de 2019 (1) (175)

HISTÓRIAS DO EDITOR (1ª): “Duvido que essa revista chegue a um ano de vida!”

Por Tomaz Lourenço | tomaz@novosite.contrarelogio.com.br

Nestes 25 anos como editor da Contra-Relógio, muitas foram as histórias que vivenciei, algumas já publicadas na revista e várias outras que acabei repassando de forma oral, nas conversas com corredores nas entregas de kit ou em outras situações. Nestes casos, sempre me estimulavam a divulgá-las, na forma de um livro ou na própria CR, mas fui protelando todo esse tempo. Agora, decidi que usarei o site para essa comunicação, procurando colocar aqui uma história a cada semana. E vou fazê-lo seguindo a linha do tempo, começando por 1993, quando do lançamento da revista.

Eu corria há pouco tempo, depois de muitos anos de ciclismo amador, mas levado a sério. Provas eram pouquíssimas (menos de 20 na cidade de SP por ano!!!) e informação sobre corridas inexistente. Como jornalista, fui atrás de algo e só achei o livro “Guia completo da corrida”, do norte-americano James Fixx, que até tinha boas orientações, mas também capítulos nada aproveitáveis, como sobre treinamento nos dias em que está nevando muito…

Passei então a pensar que poderia lançar alguma publicação para os corredores brasileiros, que não eram muitos e predominantemente de baixa renda, mas carentes de informações e desvalorizados, na medida em que as provas eram absolutamente desorganizadas, com raríssimas exceções, como as da Corpore na capital paulista.

As pessoas que consultei concordavam que a chegada de uma revista ou jornal teria boa receptividade, dado o vazio total nesse segmento na época, mas por outro lado lembravam que a falta de hábito de leitura do brasileiro, associado ao nível baixo de renda dos corredores, poderia inviabilizar o projeto.

Mas eu estava animado por poder exercer o jornalismo no segmento esportivo que tinha abraçado, tendo como base o tripé informação + valorização + responsabilidade. O primeiro faz parte do papel clássico do jornalista, o segundo seria a valorização da corrida de rua e de seus participantes, e o terceiro exigir dos organizadores que tratassem com respeito os inscritos em seus eventos.

Em relação ao primeiro tópico, em uma de minhas consultas, uma pessoa experiente do setor e que já tinha feito um jornal por alguns meses, brincou: “Sobre o que você vai escrever a partir do terceiro número?” Ele argumentava que a corrida era um esporte sem segredos, muito fácil de praticar por qualquer um e, portanto, pouco haveria de assuntos que sustentassem a publicação em vista. Ao que eu retruquei que a principal revista do mundo já tinha mais de 20 anos e estava firme.

Em outra ocasião, um também muito vivido corredor ligado ao meio editorial e também à organização de provas, lembrando que conhecia bem o assunto e o público para quem estaria voltada a nova revista, foi taxativo: “Eu duvido que essa publicação chegue a um ano de vida!” Considerando o pequeno poder aquisitivo da maioria dos corredores brasileiros daqueles anos 90, ele tinha um pouco de razão para não acreditar no projeto, até comentando que se houvesse viabilidade, alguém já teria pensando em algo semelhante.

Contudo, os comentários predominantes entre os consultados por mim foram de estímulo ao nascimento da Contra-Relógio (que ainda não tinha nome, mas isso fica para a próxima história…), mesmo porque eram de pessoas tão apaixonadas pela corrida de rua, como este editor.

Nesse sentido, apresento a seguir algumas das expressões presentes no folheto de divulgação sobre o lançamento, enviado pelos Correios, que tinha como apelo a chamada “Somos milhares e merecemos uma revista especializada!”:

“A revista chega na hora certa, para o corredor aprimorar sua técnica” – Ayrton Ferreira (BA)

“Espero sinceramente que a publicação venha ocupar o espaço que merece” – Joaquim Pires (Cobra-DF)

“Informações sobre corridas e artigos técnicos devem ser a base da publicação” – Dr. Henrique Viana (RJ)

“A Contra-Relógio é exatamente o que os corredores brasileiros estavam precisando” – João da Mata (MG)

“A revista com certeza ajudará na orientação sobre provas e inscrições” – Ana Jun Yamamoto (FPA – SP)

“O surgimento da Contra-Relógio representa algo esperado com ansiedade” – Paulo Edir (Corpa – RS)

“Os corredores estão sem um ponto de referência e a revista pode cumprir esse papel” – Rodolfo Eichler (AIMS)

Levando em conta os prós e pouco os contras, numa atitude bastante ousada (dado o futuro incerto da revista), publiquei em outubro de 1993 a primeira Contra-Relógio. A sorte estava lançada!

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One Comment on “HISTÓRIAS DO EDITOR (1ª): “Duvido que essa revista chegue a um ano de vida!”

  1. Parabéns pela iniciativa e perseverança Sr. Tomáz

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