Blog do Corredor Tomaz Lourenço 10 de junho de 2019 (0) (488)

Intervalo entre maratonas: para que tanto, se não somos profissionais

Por Tomaz Lourenço | tomaz@novosite.contrarelogio.com.br

Em outra história desta seção, comentei que tinha corrido a Maratona de Paris (para valer) e a da Londres na semana seguinte (numa boa), entre outras razões para desmitificar a ideia de que duas provas de 42 km em seguida seria coisa pouco recomendável ou para super heróis. Enfim, era o que os treinadores da época falavam, e que os muitos que surgiram depois continuaram recomendando, por inércia…

A justificativa para essa orientação ultrapassada era de que ao se fazer muitas maratonas, aumentava-se o risco de lesões, quando na realidade estas são geralmente decorrentes de excesso de peso, de exageros nos treinos fortes e/ou pouco descanso entre eles, aumento muito rápido na quilometragem semanal, para ficar nas principais razões.

Quando treinei para a Comrades, fazia no último mês de treinamento para essa ultra sul-africana quase 4 maratonas por semana, ou um total de 150 km, sem grande dificuldade. Isto porque vinha realizando uma quilometragem crescente, mas bem gradativa, iniciada 5 meses antes, daí o corpo não reclamar.

Inclusive, me lembro de ter que ouvir pessoas se identificarem como “eu sou ultramaratonista”, ao que eu respondia, “eu sou jornalista”. Por trás disso, havia a ideia (ainda presente) de que fazer ultras tornava o corredor especial (quase super homem/mulher), quando na prática sabe-se que qualquer um consegue fazer ultramaratonas, desde que tenha tempo e disposição para isso.

Aliás, os quase 20 mil que se inscrevem anualmente na famosa Comrades, na África do Sul, provam isso, na medida em que 90% dos que largam conseguem completar, no tempo limite de 12 horas, os 89 km (nos anos de descida) ou 87 km (nos de subida).

Isso me faz lembrar de um amigo ciclista português, na época em que eu ainda não tinha virado corredor. Treinávamos na cidade universitária da USP, na capital paulista, e após algumas voltas, a turma ia parando, mas ele sempre continuava a pedalar. Então, brincávamos quando ele passava, de que não adiantava ficar treinando por mais tempo, ao que ele respondia: “Quem não tem qualidade, tem que ter quantidade!”

ELITE E AMADOR. Voltando ao tema inicial, a recomendação (mais generalizada) para se fazer no máximo duas maratonas por ano tem como base os atletas de elite, que ficam nessa quantidade porque entram nas provas para o tudo ou nada, já que está em jogo sua vida financeira. Então, fazem um planejamento de 3 meses para o evento meta e no dia completam (quando não desistem…) no limite do esforço, o que os obriga a um período de descanso, por vezes de alguns meses.

Já os amadores não costumam correr maratonas para chegar arrebentados, a não ser uma minoria, os chamados corredores competitivos. Dessa forma, tem sido corriqueiro hoje em dia as pessoas fazerem 3 ou 4 provas longas por ano, naturalmente escolhendo algumas para buscar resultado e ficando as outras para um maraturismo. Aliás, o sucesso o Desafio do Pateta (21 km no sábado e 42 km no domingo), na Disney, é talvez o exemplo mais expressivo de que provas em sequência são absolutamente acessíveis a qualquer um.

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