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Blog do Corredor Tomaz Lourenço 6 de maio de 2019 (0) (252)

HISTÓRIAS DO EDITOR (14ª): Alongamento e hidratação, duas bobagens desmitificadas pela CR

Por Tomaz Lourenço | tomaz@novosite.contrarelogio.com.br

Nos primeiros anos da revista chegamos a divulgar um conjunto de alongamentos para antes de treinos e provas, teoricamente indicados para os corredores, com o intuito de ajudar na performance e de prevenir ou minimizar a ocorrência de lesões. Inclusive, um folheto promocional de assinatura da CR tinha no verso esses exercícios e era muito procurado, por sua “utilidade”.

Igualmente publicamos matérias referentes à hidratação antes, durante e depois de provas, aparecendo muitas vezes o enfoque da necessidade de se hidratar mesmo sem sede, porque se a pessoa desleixasse nesse aspecto veria seus resultados despencarem, além de colocar em risco sua saúde.

Mas, com o passar do tempo, este editor começou a constatar que tais “verdades” não tinham qualquer comprovação científica, ou melhor, não havia pesquisa séria que confirmasse essas recomendações, mesmo vindo de fontes conhecidas (fisiologistas, nutricionistas e treinadores).

E a prática mostrava que algo estava errado. Antes de largadas, a chamada elite e a quase elite nunca alongava, mas sim se aquecia, com trote e alguns tiros. Depois, também nada de alongamento, no máximo uns trotinhos. Por outro lado, vários corredores competitivos relatavam à revista que consideravam importante que a prova disponibilizasse água no percurso, mas eles próprios praticamente não chegavam a pegar os copos, quando muito para jogar água na cabeça.

A gota d´água (desculpem…) foi quando fui fazer um treino de 20 km no litoral onde tinha casa, correndo na estrada. Saí num dia nublado, temperatura amena e ainda uma chuvinha. Fui, voltei e só quando cheguei descobri que tinha esquecido de beber água (de bicas no percurso). Ou seja, aquela recomendação de “beba mesmo sem ter sede” e outras bobagens não tinham sentido, ou melhor, tudo depende das condições climáticas, do ritmo que você fez, do desgaste, enfim.

Apesar disso, nutricionistas e similares continuam falando a famosa frase em palestras de feiras de entregas de kit: “Beba antes de ter sede!” E pior ainda, indicam que se beba um copo de água a cada 15 ou 20 minutos, e/ou isotônico. O resultado se vê depois nas provas, com muita gente vomitando de tanto líquido ingerido…

ALONGAR ANTES DE CORRER. Agora voltando aos alongamentos, o que a revista procurou demonstrar é que fazer alongamentos é muito bom, lógico, mas que não havia necessidade de que isso ocorresse imediatamente antes de começar a correr, como faziam muitos corredores. A ponto de há alguns anos as seções de alongamento antes de largadas serem muito comuns, na verdade uma forma de passar o tempo e criar um clima de festa. Essas seções tanto eram na linha zen, com música respectiva, como na linha pula-pula, neste caso com trilha sonora “bate estaca”.

O fisiologista Fernando Beltrami, que acompanha tudo o que acontece de importante no mundo das corridas, participando de simpósios internacionais, escreveu vários artigos na CR em que descreve não existir qualquer comprovação “científica” de que alongar antes de correr traga algum benefício. Ou pior, o que se descobriu foram pesquisas informando exatamente o contrário, de que essa prática pode até prejudicar a performance, na medida em que se alongam músculos que logo em seguida serão exigidos por contração. Já em relação aos alongamentos depois de treinos ou competições, nada contra, porque são relaxantes e parecem dar uma boa sensação, por se esticar um pouco os músculos que foram exigidos durante a corrida.

Apesar dos argumentos críticos da CR a essa prática, muitos treinadores continuam recomendando aos seus orientandos que assim o façam, mas no caso é mais para falar alguma coisa, para distrair, e não ficar apenas no treino de corrida, que é sempre cansativo. Enfim, alongar é muito fácil e a pessoa pensa que está fazendo alguma coisa “esportiva”, mesmo que seja alongar os dedos da mão ou o pescoço…

Mas de qualquer forma, houve um declínio na mania de alongar imediatamente antes de correr, pois se constatou ser essa prática de pouca valia, para evitar lesões. Por outro lado, apareceu uma nova moda: o uso de meias de compressão. Neste caso, se trata abertamente de uma jogada de marketing, com inúmeros artigos na mídia deixando claro que não há qualquer comprovação de que elas sirvam para alguma coisa. Mas alguns corredores não abrem mão dela, seja pelo visual, seja pelo sempre desejo de encontrar produtos que os ajudem a correr melhor, mesmo que isso seja absolutamente imaginário, ou para minimizar a ocorrência de lesões, idem.

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