Domingo, na etapa do Rio da Golden Four Asics, vivenciei duas histórias que, sinceramente, acredito só terem sido proporcionadas pela corrida, que une atletas, amadores ou profissionais, de diversas idades, cidades, experiências, objetivos… Abaixo, compartilho os dois relatos:
Estava por volta do km 6. Havia postos de hidratação dos dois lados da avenida, porém, no esquerdo estavam vazios. Todo mundo indo para a direita. Três “mesas” com água gelada. Fui nelas e peguei três copos, um em cada. De repente, ouço: “Vamos baixar esse tempo. Vamos baixar esse tempo”. Alguém vindo literalmente voando atrás de mim. Me viro e vejo Solonei Rocha da Silva, campeão pan-americano e da Maratona de São Paulo, para citar só duas conquistas.
“Caramba, o que você está fazendo aqui?”, pergunto. “Te procurei ontem e disseram que não viria..” Ele, sorrindo, respondeu: “Acabei de chegar, me troquei no táxi. No sábado estava em Santos… Qual o ritmo para baixar seu tempo, qual o melhor seu, quanto precisamos correr, vamos aí…”. Acompanhei Solonei por cerca de 2 km, num ritmo forte para mim e divertido para ele.
Expliquei então que o meu objetivo não era ir para “a morte” no Rio. Apesar de ter ficado com muita vontade de arriscar naquele momento… Coelho melhor, impossível. Porém, a razão prevaleceu. Não era o dia para isso. Nos despedimos e, então, Solonei foi para frente, para ajudar outro corredor. Acompanhou o amigo Rodrigo Cury até o final. Me diga, em qual esporte você pode viver essa experiência, correr literalmente junto de um maratonista que tem tudo para estar na Olimpíada no mesmo Rio de Janeiro, daqui a quatro anos?”
A segunda história foi um pouco mais tarde, depois de completar os 21 km. Ao lado de Vicent Sobrinho, tomei café da manhã no hotel e fomos para a praia. Quando estávamos atravessando a rua, encontramos um senhor, sorrindo, com um belo troféu na mão, medalha no peito, caminhando tranquilamente pela calçada. Vicent, que comanda o setor da terceira, quarta e quinta idades da Contra-Relógio, logo começou a bater papo com o experiente atleta.
“Belo troféu. Caramba, primeiro lugar na faixa acima de 80 anos”, disse Vicent. “E, olhe que tenho 85 anos”, respondeu, sorridente, o senhor. Descobrimos que tem origem grega, mora em Belo Horizonte, corre desde os 58 anos (“participando de meias e maratonas”)… Um exemplo de vida. Alto, magro, saudável e, o mais importante, feliz demais, aproveitando sabiamente a bênção que é viver. Completou os 21 km na Golden do Rio em 2:54:44. Melhorou o tempo em relação aos 21 km dentro da Maratona do Rio, quando também foi o primeiro na faixa etária 80-99 anos, mas com 3:11:14.
Nos despedimos e fui com o Vicent dar um mergulho refletindo: será que chegarei aos 85 anos como o Deo, correndo, completando meias e maratonas, com saúde? Tomara. E viva a corrida.
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Caramba André….correr 2km ao lado do #Solorei…que privilégio! O cara, além de ser um atleta excepcional, tem todo o carisma da um ídolo . Não imagino, agora, qual o esporte que pode oferecer a oportunidade de amadores de elite, como você, o Vicent e o Sérgio e pangarés, como eu correrem no mesmo lugar que Soloneis, Adrianos Bastos e Marilsons da vida correm.
Abs
Fantástico. Solonei parece ser muito simpático. E o senhor de 85 anos, quase 30 anos de corrida!
Conheço bem o “Seu” Deo, cujo sobrenome, curiosamente, é Espírito Santo. Aqui em BH ele pode ser visto correndo, e bem, em vários pontos tradicionais, além de participar de algumas provas. Faz parte da equipe de corredores do Minas Tênis. E tem mais uma: ele é bicampeão da maratona de Berlim, isso mesmo, 42km, se não me engano em 2004 e 2007, portanto, correndo numa outra faixa etária, além de uns dois segundos lugares na mesma prova. O Deo é mesmo um exemplo.
Deo é DEUS em grego… Sensacional mesmo encontrá-lo né Andr~e ? E mais ainda quando brinquei com ele quando disse que nunca teve nenhuma lesão… eu repliquei.. eu nas ultimas 85 corridas tive todas possíveis.. rsss…. Estou ficando velho ! 🙂 frente ao jovem DEO. abçs André e parabéns!
Tive uma experiência parecida com um corredor de elite nessa prova, só que no final da corrida. Quando passei a linha de chegada encontrei com duas amigas e ficamos batendo papo. Logo chegou José Eloy, meu conhecido que é ex atleta de elite e treina pela equipe pé de vento na minha cidade, Petrópolis. Logo após chegou Giovani dos Santos que é da mesma equipe e foi terceiro lugar nos jogos Pan-Americanos. Ficamos batendo papo por uns 10 minutos. Pessoa super simples e atenciosa. Ganhei varias dicas… Quando em outro esporte eu conseguiria isso???
André,
Parabéns pelas historias que foram captadas pela sua sensibilidade de jornalista e corredor.Abraço.
Flávio