Uma das discussões da semana teve como ponto principal os relógios com GPS, disseminados pelo mundo da corrida. Ainda mais com a queda dos preços. No exterior, é bom deixar claro. Outros blogs, redes sociais… tocaram no assunto. O equipamento é um ótimo companheiro para treinos. Não sou radical e gosto de aproveitar os benefícios da tecnologia. Ajuda bastante. Mas nem é para todos os treinos. Não é 100% preciso e, em uma prova, pode mais atrapalhar do que ajudar.
Uma das conversas era sobre o percurso da Tribuna, exatamente igual ao do ano passado, aferido, com 10 km. Não corri com GPS, mas minha mulher fez a prova com ele e deu 10,10 km. É basicamente o que sempre marca quando a corrida tem realmente 10 km.
Antes de escrever este texto, para exemplificar como o GPS não é 100% preciso, fiz um teste básico na última quarta-feira: 6 mil de ritmo, na raia 1 de uma pista oficial, 400 m, aprovada e aferida pela FPA, com chancela da CBAt e da IAAF para provas internacionais (só não pode receber Mundiais e Olimpíadas. Caramba, não teremos Olimpíada em Jundiaí!!!). Voltemos ao assunto. Então, 15 voltas na raia 1 = 6.000 m, exatos. Quanto marcou no meu Garmin (que não uso em pistas, diga-se de passagem)? 6,080 m. Então, 80 metros a mais. Como sempre deu e dará. Assim, primeiro ponto, na pista, basear-se no GPS é não fazer o treino exato.
Outro exemplo que a maioria já fez. Um longão ao lado de dois amigos. Com GPS da mesma marca e modelo, ou diferentes modelos e marcas. Já houve diferenças de 200 m, 300 m entre dois ou mais relógios. Se fosse preciso, não daria igual? Saímos do mesmo ponto, estávamos lado a lado… Percorremos os mesmos caminhos… Em partes, há pequenas diferenças entre cada corredor, em desvios, mas nada que chegue a 200 ou 300 m.
Numa prova, fazemos ultrapassagens, não acertamos todas as tangências, desviamos para pegar água… não traçamos um percurso “limpo” e preciso. Se nós, amadores (nem a elite acredito que seja) não somos 100% precisos no percurso, como o GPS será? Isso mesmo que a tecnologia não tivesse margem de erro (e tem). Resumindo, mesmo acertando todas as tangências e correndo pela marcação exata da prova, o GPS não dará a medida exata. Sem falar outras interferências, como campo magnético (mais raros), túneis, árvores…
Então, use e abuse dos benefícios da tecnologia. Mas não fique escravo dela nem ache que é a perfeição. Não é. Se tem a vantagem de correr em lugares demarcados, por exemplo, o GPS torna-se substituível. Pode ser simplesmente um cronômetro.
Nos treinos na pista de atletismo, vejo gente usando o GPS, passando relatórios nas redes sociais de treinos de 400 m como “corri a 4:20, 4:25, 4:22, 4:28, 4:20”. Penso, como assim? A distância é medida por tempo, esse é o ritmo previsto para um quilômetro, ou seja….
Para completar, usando o GPS em uma corrida, e seguindo-o cegamente, com a prova tendo a distância exata, você irá “dançar”, porque a média tem de ser uns dois ou três segundos mais baixa do que o relógio está marcando. Um 3:59 de média no GPS não será um sub 40! Nesse caso, um cronômetro com voltas é muito mais preciso.
Concluindo, você já viu elite correndo com GPS?