Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (138)

Gasparilla: festa da corrida em Tampa

Por outro lado, a inclusão de mais opções de distâncias a partir do ano 2000, com a meia maratona e a maratona (a prova de 5 km sempre existiu, mas sombreada pelo evento principal, de 15 km), consagrou a Gasparilla entre a massa de corredores amadores, com percursos rápidos e organização impecável. Prova disso foi a 32ª edição da prova, nos dias 21 e 22 de fevereiro, que reuniu mais de 20 mil corredores, incluindo as equipes de revezamento, nas suas quatro distâncias.

A feira, batizada de 8 On Your Side Health and Fitness Expo, realizada na sexta 20 e sábado 21, no moderno centro de convenções da cidade, em nada deveu às das grandes maratonas mundiais, inclusive com um estande especial da Nike, fornecedora oficial da Gasparilla 2009, que criou toda uma linha de produtos alusivos ao evento, exatamente como acontece nas provas de primeiro nível.

NO SÁBADO, 5 E 15 KM. Às 7h30 da manhã do sábado 21 foi dada a largada da primeira prova, que é a realmente clássica, de 15 km, distância na qual a Gasparilla se consagrou internacionalmente (ver quadro), no centro de Tampa, próximo ao local onde fica fundeada a réplica do navio pirata de José de Gaspar, capitão espanhol que dá nome ao maior evento anual de Tampa, realizado poucas semanas antes da corrida (ver quadro).

O percurso é basicamente uma ida e volta ao longo do Bayshore Boulevard, bela avenida costeira que reúne mansões e alguns prédios de frente para a Baía de Tampa, que se comunica com o Golfo do México. A temperatura amena e um agradável sol matinal facilitaram a vida dos 4.211 concluintes dos 15 km, sendo 48,9% mulheres. Às 9h30 foi a vez da prova de 5 km, que teve 8.725 concluintes, sendo 57,9% mulheres, uma prova da impressionante participação delas nas corridas de rua, fenômeno que se confirma a cada ano nos Estados Unidos.

Mesmo sem premiação em dinheiro, Ryan Hall foi a Tampa para vencer fácil os 15 km em 43:26, usando a Gasparilla como preparação para a Maratona de Boston, dia 20 de abril. Primeiro colocado nas eliminatórias americanas para a maratona olímpica em Pequim, que terminou em 10º lugar, com 2:12:33s, Hall é também detentor do recorde americano da meia-maratona, com 59:43s, além de possuir 2:06:17 nos 42 km (Londres, 2008).

NO DOMINGO, MEIA E MARATONA. Os humores do tempo no Golfo do México mudam rápido, como ficou comprovado na manhã do domingo 22. Ainda no escuro, os milhares de participantes da meia e da maratona largaram pontualmente às 6 horas. O percurso começa em direção à Davis Island, que é ligada ao Centro de Tampa por duas pequenas pontes. Os corredores percorrem ruas residenciais silenciosas e simpáticas, onde um ou outro morador com cara de sono apareceu para incentivar os atletas.

O céu de chumbo e um vento de direção inconstante anunciavam a tempestade que vinha do mar. Com pouco mais de uma hora de prova o sol chegou a querer aparecer por entre as nuvens pouco acima do horizonte. A temperatura era ideal para se correr, em torno dos 12 graus, mas o vento começou a atrapalhar, especialmente a partir do momento em que o percurso volta ao centro e segue pelo Bayshore Boulevard. Os campeões da meia foram Richie Cunningham (1:14:18) e Terri Rejimbal (1:23:11).

Duas horas após a largada começou a chover forte, sempre com vento, o que tornou o clima do segundo dia da Gasparilla ainda mais desafiador para os corredores, especialmente os que enfrentavam a maratona, que foi vencida por Ronnie Holassie (2:27:56) e Nina Kraft (2:47:40).

Na chegada, como na véspera, atores fantasiados de pirata posavam para fotos com os exaustos corredores. Em pontos do percurso, outros "piratas" distribuíam colares de contas coloridas aos corredores, uma das tradições da Gasparilla. As medalhas, muito bonitas, foram uma recompensa especial para os que enfrentaram o frio, vento e chuva da prova. Além de diversas bebidas, inclusive Coca-Cola, na chegada os atletas também podiam matar a fome com um bufê de comida típica espanhola, que incluía até paella valenciana – mimo que os atletas do sábado não tiveram.

A Gasparilla pode não ser mais a mesma para os corredores profissionais, no entanto, confirma-se como excelente opção para aqueles que buscam apenas uma boa prova de nível internacional.

Brasileiros presentes: Alexandre Almeida (1:03:26 nos 15 km e 2:11:03 na meia), Márcio Carrilho (1:16:22 e 1:45:49), Regina Almeida (1:18:59 e 2:11:03) e Gustavo Coelho Jr. e Sonia Gomes com o mesmo tempo nos 15 km (1:29:48).

GASPARILLA: A FESTA PIRATA DE TAMPA

Reza a lenda que o capitão espanhol José Gaspar, mais conhecido como Gasparilla, foi um dos últimos piratas a aterrorizar as águas do Caribe, na segunda metade do século 18 e começo do 19. Navegando a soldo do rei de Espanha, ela controlou com mão-de-ferro por 38 anos as água da Flórida, na época sob domínio espanhol. Desde 1904, em todo mês de janeiro a cidade de Tampa celebra a memória de Gasparilla – cuja existência alguns historiadores contestam -, numa espécie de carnaval temático fora de época, não à toa inspirado no Mardi Gras, de New Orleans, cidade que fica não muito longe dali.

As pessoas se fantasiam de pirata, com colares de contas coloridas, chapéus pontudos, lenços vermelhos e tapa-olhos, há paradas nas ruas e um desfile de barcos pelas águas da Baía de Tampa, que culmina numa invasão pirata simbólica da cidade, quando o prefeito entrega a chave da mesma para um Gasparilla em carne e osso de mentirinha. Maior evento anual da cidade, a Gasparilla Pirate Festival (nome oficial em inglês) atrai todos os anos cerca de 400 mil pessoas a Tampa. Já a Gasparilla Distance Classic acontece três semanas depois da Gasparilla principal, provavelmente para não disputar espaço, além de estender a duração do clima festivo-pirata que toma conta da cidade nesta época do ano.

OS ANOS DE OURO DA GASPARILLA

Quando distribuía farta premiação em dinheiro, o que aconteceu até 1998, a Gasparilla reunia a nata do atletismo mundial e era reputada como uma das principais provas de 15 km do circuito mundial, senão a principal. Entre os seus campeões estão nomes como os americanos Bill Rodgers, que venceu a primeira edição (1978) e Greg Meyer, campeão em 1980, com quebra de recorde mundial dos 15 km (43:40).

Aliás, Meyer inaugurou uma incrível série de quatro quebras seguidas de recordes mundiais masculinos dos 15 km na Gasparilla: em 1981, o também americano Rick Rojas marcou 43:12; em 1982, foi a vez do queniano Michael Musyoki (que em 1984 seria bronze nos 10.000m dos Jogos Olímpicos de Los Angeles) bater o recorde, com 43:08; e finalmente, em 1983, o célebre australiano Rob de Castella, na época detentor do recorde mundial da maratona (2:08:18s), fez 42:47s, mais um recorde mundial. Naquele mesmo ano, aliás, Castella ganharia a medalha de ouro na maratona do Campeonato Mundial de Atletismo, em Helsinque, Finlândia.

Alguns atletas brasileiros também brilharam na Gasparilla, especialmente o piauiense Valdenor dos Santos, bicampeão em 1992/1993, e a brasiliense Carmem de Oliveira, campeã que fez a dobradinha brazuca com Valdenor, em 1993 – seu melhor tempo nos 15 km (48:38), no entanto, ela obteve ao ser vice-campeã da Gasparilla em 1994, que ainda permanece como recorde brasileiro da distância.

Além de Valdenor e Carmem, outros brasileiros obtiveram boas participações na Gasparilla, como Luis Antônio dos Santos, Ronaldo da Costa e Delmir dos Santos. Ronaldo, por exemplo, foi terceiro colocado em 1994, quando marcou seu melhor tempo na distância (42:41), chegando apenas 6 segundos depois do campeão, Phillimon Hanneck, do Zimbábue, cujo tempo, 42:35, ainda permanece como recorde da Gasparilla – no fim daquele mesmo ano de 1994, Ronaldo venceria a São Silvestre.

Entre as mulheres, a lendária norueguesa Grete Waitz, nove vezes campeã da Maratona de Nova York e quatro vezes seguidas recordista mundial da maratona (seu melhor tempo é 2:24:54), também marcou presença na Gasparilla, com seis vitórias na prova (1980 a 82, 84, 85 e 87) e um recorde mundial dos 15 km, 48:01, logo na sua primeira vitória, em 1980.

A Gasparilla teve ainda outras campeãs famosas, como a norueguesa Ingrid Kristiansen (também recordista mundial da maratona, mas já pós-Grete Waitz, que superou em quase 4min, com 2:21:06), campeã em 1986 e 89; a queniana Tegla Loroupe (tricampeã mundial de meia-maratona e bicampeã da Maratona de Nova York), campeã em 1996; e a sul-africana Elana Meyer (prata olímpica nos 10.000m em Barcelona, 1992; campeã mundial da meia-maratona e quatro vezes recordista mundial nessa distância), campeã da Gasparilla em 94 e 97. A lista é extensa, comprovando os dias gloriosos que a Gasparilla viveu. Hoje, o foco é outro, mas nem por isso ela deixa de ter seu charme.

CHIP DESCARTÁVEL

Um novo tipo de chip de cronometragem foi utilizado na Gasparilla deste ano e agradou aos corredores, já que não é necessário ficar desamarrando o tênis para tirar o chip. É chegar e arrancar, porque ele é descartável.

Trata-se de uma fita plástica à prova d'água e bem resistente, que vem colada ao número e que tem uma parte magnética onde estão os dados do corredor – o número também vem impresso na fita. Você tira/destaca, passa pelos cadarços e retira numa das pontas um pedacinho de papel que cobre um adesivo. Aí é só fechar com a outra ponta, fazendo um loop, como se vê na foto. Simples assim. Acabou a prova, arranca e joga fora. Assim, acaba a paranóia de devolução de chip, multa por não devolver, compra de chip, essas coisas.

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