Performance e Saúde admin 2 de novembro de 2015 (0) (462)

Férias da corrida?

A expressão "pré-temporada" não é novidade quando o assunto é o esporte profissional. Times de futebol costumeiramente levam o elenco para uma cidade diferente, mais reservada, para preparar seus jogadores para o ano seguinte. Em esportes como a corrida, apesar de menos comentado, o período "off-season" também é comum, mas e entre os amadores, como fica?
Diversos corredores tiram uma semana ou duas de férias depois de uma prova importante, mas este tipo de atitude não chega a contar tecnicamente como um período de descanso. Tampouco os treinos que não são cumpridos durante o mês de férias por causa de uma viagem ou isso ou aquilo podem ser classificados como a fase off-season. As "férias" dos treinos devem ser uma parte planejada do ciclo anual, e corredores de todos os níveis têm a se beneficiar de alguns dias de pernas para cima.
Importante, por férias não queremos dizer necessariamente jogar os tênis no armário e tirá-los apenas um mês depois! Apesar de muitos treinadores recomendarem modalidades alternativas para o período, como forma de manter o condicionamento aeróbico, a realidade é que o período off-season hoje é entendido como um momento de treinos mais leves, sem ênfase específica de ganho de volume ou intensidade.

RISCO DE OVERTRAING. Se por um lado o período off visa preparar o corpo para a próxima temporada, tão ou talvez mais importante do que isso é simplesmente recuperar-se da temporada passada. Não há corredor que consiga manter um ciclo eterno de aumento de carga nos treinos; logo, uma pausa entre as temporadas deveria ser praxe na periodização de todos.
Diversos estudos apontam que este é o caso: ao longo de uma temporada indicadores de saúde e performance tendem a piorar, o que evidencia a necessidade de descanso. Parâmetros como contagem de células vermelhas no sangue e desequilíbrios hormonais, quando ocorrem em períodos de treinamento intenso, podem ser sinais de que o organismo está em fase inicial de overtraining (esgotamento por treinos/competições) ou overreaching (chegando ao esgotamento), que é o nome dado a um estado menos grave que o primeiro. Neste sentido, cabe mencionar que atletas do sexo feminino tendem a apresentar desequilíbrios mais exacerbados ao final de uma temporada, sugerindo a necessidade de períodos mais longos de descanso.

MUITAS PROVAS. Infelizmente, a realidade é que o calendário de corridas amadoras não observa qualquer tipo de pausa. Existem provas o ano todo, dos mais diferentes graus de dificuldades, incluindo os já tradicionais circuitos que tentam fidelizar o corredor, propondo provas cada vez mais compridas ao longo do ano.
Nada contra os organizadores da prova, é evidente que cada um precisa organizar um número mínimo de eventos para sobreviver e que há apenas 52 finais de semana no ano, mas o resultado para o corredor é que muitos passam imediatamente de um desafio para o próximo, sempre buscando correr um pouco mais rápido ou um uma distância um pouco maior, e uma hora a conta chega.
Livre das pressões do esporte profissional, o corredor amador deveria se impor um período de algumas semanas sem provas a cada ano, talvez logo depois daquela mais importante. Logo depois de uma competição muito desgastante, uma semana de pernas para o ar, retomando a corrida com volume significativamente reduzido e intensidade baixa, e quem sabe aparecer novamente na academia para colocar o reforço muscular em dia.

TREINAMENTO DE FORÇA. O período off-season é ideal para colocar a vida em dia com a academia. Durante o período competitivo, a carga específica dos treinos de corrida acaba obscurecendo modalidades complementares, e os poucos corredores que são disciplinados o bastante para frequentar academia muitas vezes passam longos períodos sem adaptações significativas de carga.
Com o período off e o relaxamento da carga de treino de corrida, cria-se a situação perfeita para que um ciclo de 8-12 semanas de treinos de musculação seja implementado, e após este período os treinos passam a ser mais de manutenção da nova carga do que visando efetivamente novos ganhos. Esse período, inclusive, pode e deve ser utilizado para corrigir desequilíbrios musculares e assimetrias, problemas posturais etc. Apesar da relativa curta duração, ganhos significativos podem ser conquistados.
Um estudo americano avaliou o efeito de 7 semanas de uma combinação entre exercícios de força, resistência e alongamento em um índice que avalia o grau de assimetria e desequilíbrio muscular em jogadores de futebol americano. Ao fim do período, a quantidade de jogadores sem assimetrias evidentes passou de 31 para 41 (de um total de 62), mostrando que mesmo períodos curtos de treino já são o suficiente para tais fins. Neste sentido, uma avaliação com um fisioterapeuta esportivo no início do período de descanso pode ser de grande ajuda para nortear os rumos do treinamento.
Para corredores de longa distância, diversos protocolos podem ser feitos. Uma sugestão interessante é a de focar inicialmente no ganho de força e explosão muscular, com trabalhos de pliometria (que são associados à melhora da economia de corrida), e com o passar do ciclo off progredir para o treino de resistência, com séries mais longas, que se torna mais específico para o corredor.

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