A importância da avaliação física é que ela permite ao treinador e ao corredor fazer comparações criteriosas, de modo objetivo e subjetivo, do corredor consigo mesmo ao longo do tempo – os seus avanços ou retrocessos – e deste com um grupo de corredores ao qual faça parte. Com as informações obtidas durante a avaliação física, o corredor saberá o quanto se aproxima ou se distancia de suas metas, e qual a sua classificação relativa, perante os demais corredores, sejam eles amadores ou profissionais.
O teste é uma ferramenta que se utiliza para medir a habilidade/capacidade do corredor. Ele nada mais significa do que um questionamento, uma pergunta que se faz e da qual se espera uma resposta do corredor. Ele nos leva a uma medida, ou seja, a um dado quantitativo expresso em números. Uma questão de relevância para o corredor pode ser saber qual o seu limiar anaeróbio, que será expresso em termos de um percentual do consumo máximo de oxigênio (VO2max) ou de velocidade de deslocamento/ritmo (km/h, m/min, m/seg).
Existem inúmeros testes para medir as variadas capacidades do corredor, sejam elas relacionadas a resistência, força, velocidade, flexibilidade ou coordenação. Tais avaliações podem ser de caráter direto, realizados geralmente em laboratórios de fisiologia e com todo o aparato tecnológico disponível, ou indireto, também conhecidos como "de campo", que em sua maior parte são realizados em pista de atletismo.
Há vantagens e desvantagens entre uns e outros e que aqui não virão ao caso. O importante, ao optar por um determinado teste, é utilizá-lo como uma referência, um ponto de partida para obter informações sobre a atualidade do corredor, suas características e possibilidades e, a partir disso, construir parâmetros que permitam fazer as análises e as comparações devidas.
Com base nas análises dos resultados dos testes, determinam-se os pontos fortes e fracos do corredor, classificando-o e comparando-o dentro de um conjunto específico de variáveis (limiar anaeróbio, VO2max, força, velocidade etc), que revelam, enfim, sua condição física atual. Outra função importante da avaliação física é que ela fornece informação que será a base do conhecimento destinado à prescrição da intensidade e duração do treinamento, ou seja, que distâncias devem ser percorridas e em que ritmo fazê-las.
Agora que já sabemos o que é a avaliação física e porque ela é fundamental para a preparação esportiva, apresentamos um teste que servirá para medir e avaliar o limiar anaeróbio do corredor e determinar o tempo de performance na distância de 10 km.
VELOCIDADE CRÍTICA. Para determinar o ritmo de corrida que mais se aproxima da realidade de uma disputa de 10 km, utilizaremos o conceito de velocidade crítica (VC) ou potência crítica. Em 1965, os pesquisadores Monod e Scherrer, em um artigo intitulado "The work capacity of a synergic muscular group", publicado no periódico Ergonomics, lançaram as bases conceituais da VC. Posteriormente, outro pesquisador, Hill, em 1993, com a publicação no Sports Medicine do seu artigo "The critical power concept", consolidou o conceito e definiu sua aplicação prática para a predição do rendimento nas corridas de longas distâncias.
O modelo teórico da VC pressupõe que exista uma determinada intensidade de esforço físico (relacionado à capacidade de trabalho do atleta), que seria possível manter o exercício físico por um tempo indefinido. Ela é fundamentada na relação entre a intensidade do esforço e a duração do exercício, expressando o limiar anaeróbio do corredor e, portanto, representando uma significativa correlação com o rendimento esportivo.
O limiar anaeróbio é uma variável fisiológica que mostra a velocidade que o corredor consegue manter durante um determinado tempo sem acumular o detrito metabólico conhecido como lactato. Este é um subproduto da "quebra" do carboidrato (glicose) na fibra muscular para fornecimento de energia para o movimento. Quando a intensidade do esforço eleva-se a partir de um determinado nível de funcionamento ao qual a fibra muscular não esteja habituada (condicionada), o oxigênio disponível torna-se insuficiente para promover a quebra da glicose para abastecer os músculos.
Essa "escassez" de oxigênio, devido à elevada intensidade do esforço físico, faz com que a energia seja produzida por processos anaeróbios e uma das consequências é o acúmulo do lactato no sangue. Isto provoca um desequilíbrio químico na fibra muscular e os resultados desse processo metabólico anaeróbio são rapidamente sentidos pelo corredor: sensação dos músculos estarem queimando, endurecidos, queda brusca do ritmo de corrida, músculos travados.
Corredores treinados em provas de 10 km são capazes de percorrer a distância total em um ritmo um pouco acima do limiar anaeróbio. Daí a importância de se conhecer qual é o limite de velocidade do corredor que corresponda à sua tolerância ao esforço e que represente uma intensidade submáxima e de duração prolongada. É aqui que a VC será utilizada para determinarmos qual é o ritmo de corrida que mais se aproxima da realidade fisiológica do corredor.
COMO FAZER O TESTE. O teste para determinar a VC consiste em percorrer, em uma pista de atletismo, as distâncias de 800 m e 3000 m no menor tempo possível, em dias diferentes. A partir dos tempos obtidos nas distâncias e com o auxílio de uma fórmula matemática, calcula-se a VC do corredor, isto é, a sua tolerância ao esforço a um determinado ritmo de corrida para a distância de 10 km.
Com as informações obtidas, o treinador e corredor poderão determinar quais os melhores ritmos de corrida para treinos de rodagem, intervalados, longos e outros. Assim, de acordo com o tipo de exercício realizado e a sua duração, o corredor será capaz de manter uma determinada intensidade de esforço que lhe permita o melhor desempenho para o treino em questão.
O teste de VC, embora não esteja entre os mais sofisticados, é um instrumento interessante para o corredor avaliar o seu condicionamento atlético de um modo simples e que requer apenas um cronômetro, uma calculadora, algum raciocínio matemático e uma pista de atletismo (ou um local plano e devidamente demarcado) para a sua realização.
A partir da análise dos resultados obtidos, o corredor terá um parâmetro confiável para determinar suas possibilidades de rendimento. Como se trata de um teste de medida indireta, eventuais ajustes poderão ser feitos na relação entre o ritmo de corrida e a distância percorrida, até que se chegue ao ponto ideal.
Esses ajustes podem ser realizados por meio de treinos específicos realizados uma ou duas vezes na semana, pelo menos durante 3 ou 4 semanas antes da competição. Como exemplo, o treinador poderá propor as seguintes tarefas ao corredor: 5 x 2000 m, ritmo de VC, recuperação em trote/caminhada 400 m. A aferição da relação intensidade x duração do exercício é importante, pois o corredor, com esse referencial, terá a exata noção de suas reais possibilidades durante a prova.
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Muito bom irei por em pratica e ver o resultado.
Interessante a parte que pode-se utilizar este teste próximo ao dia da prova (no mês) para verificar a Velocidade crítica e melhorar ou ajustar seu pace na corrida!