Sem categoria admin 4 de outubro de 2010 (1) (92)

Exames: quem precisa de qual

Muita gente só lembra – quando lembra – da necessidade de se fazer exames preventivos, especialmente para a boa prática esportiva, na hora em são divulgadas notícias trágicas sobre o assunto. Em 2004, a morte em pleno campo do jogador Serginho, do time do São Caetano, causou comoção nacional e encheu os consultórios médicos e os laboratórios para check-up. Recentemente, mesmo que com menor repercussão, a morte de uma moça de 35 anos em uma academia do Rio de Janeiro trouxe de volta o tema sobre os exames necessários e rotineiros.

O básico – aquele que todo mundo deveria fazer antes de começar a correr e, depois, repetido uma vez ao ano -, é o que avalia a quantas anda sua capacidade cardiorrespiratória e se existem problemas que devam ser observados e controlados de perto.

Outros testes, mais "sofisticados", dividem as opiniões. Alguns especialistas dizem que, por fornecerem maior número de informações, garantiriam segurança extra ao paciente, ao médico e ao treinador, além de auxiliar na elaboração de uma planilha mais precisa. No entanto, há quem considere que sejam um "luxo" para praticantes de atividade física no dia-a-dia, sendo indicados única e exclusivamente a atletas de elite.

Há ainda a questão dos custos: os "tops", claro, são mais caros e muitos planos de saúde "barram" esses pedidos se não tiverem indicação absolutamente necessária, segundo padrões por eles estabelecidos (por exemplo, para obesos ou cardiopatas).

A verdade é que não existe um teste melhor do que outro, apenas diferenças com relação à sua utilidade. Com a intenção de orientar você a praticar sua corrida com segurança e boa performance, buscamos informações com os médicos Nabil Ghorayeb (especialista em cardiologia e medicina do esporte, coordenador clínico do Sport Check-Up do Hospital do Coração); Carlos Horssi (cardiologista, ergoespirometrista do HCor); e Elie Fiss (pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor titular de pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC); e dos treinadores Renato Dutra (Ação Total) e Marcelo da Mata (Six Assessoria Esportiva). Confira, a seguir, um raio x dos três exames que mais fazem parte do vocabulário do corredor – ergométrico, ergoespirométrico e teste de concentração de lactato – e a opinião dos especialistas sobre a necessidade de cada um. 

ERGOMÉTRICO:

CATEGORIA "STANDARD"

Para que serve: também conhecido como teste de esforço, procura avaliar a função cardiovascular durante o esforço. Verifica a capacidade funcional da pessoa, ou seja, o grau de condicionamento físico, sendo útil na definição de faixas de freqüência cardíaca de treino, na avaliação do comportamento da pressão arterial durante o esforço e a recuperação, na detecção de arritmias cardíacas e para perceber alterações sugestivas de isquemia miocárdica (obstrução de artérias coronárias que pode causar infarto ou angina).

Para quem: para todos que iniciam uma atividade física e, segundo diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, obrigatoriamente a partir dos 40 anos. É um dos exames mais importantes dentro da avaliação de saúde do indivíduo.

Como é: incluindo a preparação, dura cerca de 30 minutos. São colocados alguns adesivos (eletrodos) no tórax do paciente, ligados por fios ao computador que registra o eletrocardiograma durante todo o exame. Além disso, um aparelho no braço mede a pressão arterial. Pode ser realizado em esteira ou bicicleta ergométrica.

Cuidados: embora seja um exame relativamente simples e seguro, não se pode descartar a possibilidade de ocorrer alguma complicação cardíaca durante a execução, sendo importante a sua realização em um ambiente adequado, com uma equipe de técnicos e médicos com experiência.

Periodicidade: uma vez ao ano, para controle da capacidade aeróbica.

custo: Entre R$ 130 e R$ 280

Opinião dos especialistas

– "Com o ergométrico simples ou clássico é possível verificar o consumo máximo de oxigênio de forma indireta, isto é, basta aplicar uma pequena fórmula, que o próprio treinador é capaz de resolver, baseada em dados de freqüência cardíaca, pressão, peso etc. O erro, em média, é de 15%. No ergoespirométrico essa medida é direta, um pouco mais precisa, e já vem discriminada no resultado. Mas os dois exames atingem os mesmos objetivos. Portanto, o iniciante ou até mesmo o corredor de maratonas pode se contentar com o ergométrico. Agora, seja ele qual for, deve-se exigir por direito, que sejam realizados por cardiologista habilitado no exame. Em algumas clínicas quem faz o teste é um atendente ou ‘técnico', o que é totalmente irregular. A Sociedade Brasileira de Cardiologia emite certificado de habilitação médica em ecocardiograma e teste ergométrico", diz o cardiologista Nabil Ghorayeb.

– "O teste ergométrico serve para avaliar a saúde e não o desempenho", avalia Renato Dutra.

– "É o que eu indico para meus alunos. Não vejo necessidade de outros exames mais sofisticados para montar os treinamentos", comenta Marcelo da Mata.

ERGOESPIROMÉTRICO:

CATEGORIA "LUXO"

Para que serve: teste de esforço cardiopulmonar, permite avaliar o potencial aeróbio. Detecta inúmeras variáveis ventilatórias, como o consumo máximo de oxigênio – mais conhecido por VO2max. Outras informações relevantes fornecidas pelo teste são o limiar ventilatório I (limiar anaeróbio) e o limiar ventilatório II (ponto de compensação respiratória), pois indicam as zonas ideais para treinamento aeróbio leve, moderado e máximo. É capaz de ajudar a explicar alguns sintomas como o cansaço e a falta de ar, sendo possível através do exame diferenciar entre uma causa cardíaca, pulmonar ou simples falta de condicionamento físico.

Para quem: exame essencialmente indicado para pacientes com problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca ou infarto recente, e obesos que desejam fazer atividade física. No entanto, alguns especialistas em medicina esportiva dizem que pode trazer informações úteis para aqueles que desejam melhorar a performance.

Como é: executado simultaneamente com o teste ergométrico, através da utilização de um analisador de gases, o qual é acoplado por meio de uma máscara no rosto do paciente, possui um sensor extremamente sensível. O tempo total do exame, incluindo a preparação, é de cerca de 30 minutos.

Periodicidade: atualmente alguns planos de saúde já cobrem o custo do teste ergoespirométrico, que idealmente deve ser repetido a cada seis meses, pois a saúde cardiovascular e o desempenho sofrem a influência de fatores como estresse, dieta, treinamento etc.

Custo: Entre R$ 170 e R$ 460

Opinião dos especialistas:

– "Existe resistência por parte de alguns médicos em solicitar esse exame a seus pacientes. Para o sedentário que vai começar uma caminhada, por exemplo, o ergométrico basta. Mas para quem curte correr, está em fase de preparação para provas mais longas, como meia-maratona ou maratona, acho imprescindível. As informações que o teste fornece permitem desenvolver um melhor treino com menos desgaste", acredita o cardiologista Carlos Horssi.

– "Recomendo à pessoa que treina com freqüência e que conta com um professor para orientar. Não considero um luxo, mas uma necessidade. Até como forma de prevenção de maiores riscos para a saúde", diz o pneumologista Elie Fiss.

– "Alguns alunos até dizem que gostariam de fazer, mas explico que esse exame fornece as mesmas informações do teste ergométrico clássico para garantir sua saúde. No treinamento ele não irá interferir", fala Marcelo da Mata.

– "Só acho necessário para atletas competitivos ou em caso de insuficiência cardíaca", analisa o cardiologista Nabil Ghorayeb.

CONCENTRAÇÃO DE LACTATO: CATEGORIA "SUPER LUXO"

Para que serve: fornece informações específicas sobre o estado de treinamento de atletas. Atualmente há um consenso entre os fisiologistas de que as variáveis fisiológicas relacionadas à concentração de lactato sanguíneo são extremamente precisas e indicariam os pontos fracos e fortes do condicionamento físico de atletas meio fundistas e fundistas.

Para quem: para aqueles que treinam regularmente há pelo menos um ano e desejam melhorar seu rendimento. O recomendável é conversar com seu treinador para saber da real necessidade.

Como é: de simples execução, é realizado por meio de uma coleta de sangue. Ao contrário dos testes ergométrico e ergoespirométrico, a dosagem da concentração de lactato sanguíneo (DCLS) não é coberta por planos de saúde, por se tratar de um procedimento estritamente utilizado para avaliar o desempenho.

custo: Por volta de R$ 220

Opinião dos especialistas:

– "Existem substitutos para ele. Pouca gente faz a medição de lactato, até porque não é básico para risco de vida", afirma o cardiologista Nabil Ghorayeb.

– "Com um ergoespirométrico bem realizado não há necessidade de se fazer a dosagem de lactato", diz o cardiologista Carlos Horssi.

– "À medida que o desempenho do aluno vai melhorando, torna-se essencial conhecer de forma mais precisa seu perfil fisiológico. A DCLS oferece essa possibilidade. Se ele já está treinando há mais de um ano e visa melhorar seu rendimento, o teste pode ser a ferramenta que ajudará nessa evolução", avalia Renato Dutra.

Leia mais:

Depoimento dos corredores

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One Comment on “Exames: quem precisa de qual

  1. Gostei muito das informações, esclareceu minhas dúvidas!!!

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