Estudo revela: correr é tão eficaz quanto tomar medicamentos no tratamento da depressão

Você já terminou uma corrida difícil e pensou: “Era exatamente disso que eu precisava”? A ciência agora respalda essa sensação. Um extenso estudo australiano publicado no The BMJ — uma das revistas médicas mais respeitadas do mundo — mostrou que a prática de exercícios físicos, especialmente a corrida, pode ser tão eficaz quanto medicamentos antidepressivos no tratamento da depressão.

A pesquisa, conduzida por uma equipe australiana, revisou 218 ensaios clínicos randomizados, envolvendo mais de 14 mil pessoas com depressão. O objetivo foi entender não apenas se o exercício ajuda, mas qual tipo de exercício funciona melhor, com que intensidade e para quem ele é mais eficaz.

Entre as modalidades analisadas, caminhada e corrida lideraram como algumas das intervenções mais eficazes para reduzir sintomas depressivos, com um efeito médio-alto (g = -0,62), superando inclusive medicamentos da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), que apresentaram efeito médio mais modesto (g = -0,26).

Outras modalidades com bons resultados incluíram:

  • Yoga (g = -0,55)
  • Treinamento de força (g = -0,49)
  • Dança, tai chi e exercícios aeróbicos variados

Quanto maior a intensidade do exercício, melhores os resultados observados.

Mas por que a corrida funciona tão bem?

Segundo os pesquisadores, a corrida atua em múltiplos aspectos fundamentais no combate à depressão:

  • É ritmada e frequentemente praticada ao ar livre, o que potencializa efeitos positivos.
  • Estimula a produção de endorfinas, conhecidas como “hormônios do bem-estar”.
  • Melhora o sono e a autoestima.
  • Promove uma sensação de autonomia e conquista — um componente crucial para quem se sente paralisado pela depressão. Sair de casa para correr, mesmo sem vontade, constrói a sensação de “eu consegui”.

Substituto ou complemento aos antidepressivos?

Os autores do estudo não sugerem abandonar os medicamentos ou a terapia, mas deixam claro que o exercício físico deve deixar de ser visto como um “bônus” e passar a integrar o tratamento principal.

Quando combinado com antidepressivos ou terapia cognitivo-comportamental, o exercício mostrou resultados ainda melhores, potencializando os efeitos das abordagens convencionais.

Que tipo de exercício escolher?

O estudo identificou quais modalidades funcionam melhor para diferentes públicos:

  • Caminhada/corrida: eficazes para a maioria das pessoas
  • Treinamento de força: especialmente útil para mulheres e adultos jovens
  • Yoga e tai chi: indicados para homens e pessoas mais velhas
  • Dança: resultados promissores, principalmente entre mulheres jovens

O importante é buscar exercícios com intensidade moderada a alta. Treinos estruturados, como os de corrida com variações de ritmo (tempo run, intervalados ou fracionados) ou musculação com cargas maiores, tendem a ter impacto mais significativo.

Além disso, atividades em grupo demonstraram melhor adesão. Correr com amigos, participar de grupos de corrida ou aulas coletivas ajuda a manter a consistência e fornece o componente social, também essencial para o bem-estar mental.

Para quem está em um episódio depressivo, até sair da cama pode ser desafiador. A pesquisa apontou que planos estruturados — como programas do tipo Couch to 5K (do sofá aos 5 km) — são mais eficazes do que abordagens livres, pois oferecem clareza e direção.

Dicas práticas para começar:

  • Comece com pouco: 10 minutos de caminhada contam.
  • Siga um plano estruturado, tipo treino pra 5k. Baixe um app ou imprima um programa de treina.
  • Participe de um grupo: assessorias, clubes locais, Strava.
  • Monitore seu humor: registre como se sente antes e depois de cada treino.
  • Saiba que nem todo dia será fácil. Mas cada passo conta.

Fontes:

  • Cooney, G. M., et al. “Exercise as treatment for depression: systematic review and network meta-analysis.” The BMJ, 2025. DOI: 10.1136/bmj.p1122
  • Carveth, Jessy. “Running as Effective as Antidepressants for Treating Depression.” The BMJ News, 16 de maio de 2025.
  • Organização Mundial da Saúde. “Depressão.” https://www.who.int/





ASSINE NOSSA NEWSLETTER

É GRATUITO, RECEBA NOVIDADES DIRETAMENTE NO SEU E-MAIL.