Fisioterapia – Alessandra Arkie e Kenia Guerra Baumann – fisio-rpg@uol.com.br – NOVEMBRO 2007
Quando é melhor aplicar gelo?
Quando o indicado é o calor?
E os dois ao mesmo tempo?
Tire suas dúvidas agora e boa recuperação!
De repente, depois do treino ou de uma prova, aparece uma dorzinha num determinado lugar e junto com ela, a dúvida: fazer uso de gelo ou calor para aliviar os sintomas? E esta é umas das questões mais freqüentes na prática clínica. Por isso, vamos explicar os efeitos e indicações de cada método para facilitar seu uso doméstico.
Utilizar os recursos físicos, como a água, para aliviar alguns sintomas, é uma prática comum desde a antiguidade. Acredita-se que, na pré-história, o homem já procurava a água, o sol ou a fricção das mãos em partes do corpo para aliviar as dores. Há relatos que Hipócrates (460 – 375 a.C.) realizava banhos de contraste com água quente e fria para tratar doenças.
A aplicação da água nas suas diversas formas favorece a melhora dos sintomas e auxilia na reabilitação de lesões, seja na forma de calor, que dilata os vasos sanguíneos, ou pelo frio, que causa sua contração, o que contribui para a remoção de impurezas e substâncias indesejáveis resultantes da lesão, liberadas no local. É um recurso terapêutico valioso com a vantagem de ter fácil acesso, baixo custo e fácil manuseio.
A utilização de calor como terapia é chamada de termoterapia. Já a crioterapia é a utilização do gelo para tratar patologias. As duas formas de aplicação da água, quente e fria, são importantes auxiliadores no tratamento de patologias ortopédicas.
Uso de gelo
O gelo (ou meios que proporcione baixas temperaturas) deve ser a primeira atitude a ser tomada numa lesão ou dor aguda, principalmente nas primeiras 48 horas, pois diminui o metabolismo, reduzindo a necessidade de oxigênio para a célula e isso possibilita uma recuperação mais rápida e com menores danos para o músculo ou articulação. O frio contribui no controle do edema (inchaço), pois, como causa contração dos vasos sanguíneos, evita o escape de líquidos no local da lesão, além de diminuir a extensão dos danos nas células do tecido lesado (músculo ou articulação).
O uso de baixas temperaturas contribui para:
Numa lesão muscular, por exemplo, os vasos sanguíneos que passam pela região se rompem e há um extravasamento de sangue. Isto causa hematoma, edema, vermelhidão, aumento da dor e uma perda da função do músculo afetado. Este é o começo do processo inflamatório, que é a primeira reação de defesa do organismo, uma vez que o dano tecidual já ocorreu no local. Então, a aplicação de baixas temperaturas no local terá os seguintes efeitos fisiológicos:
EFEITOS FISIOLÓGICOS DO FRIO
Diminuindo a temperatura da pele e dos tecidos subjacentes, há um estreitamento dos vasos sanguíneos, o que é conhecido como vasoconstrição. Isso diminui a quantidade de sangue na área lesada, o que reduz o tamanho do edema ou escape de líquidos. Após alguns minutos, os vasos sanguíneos se dilatam, permitindo que o sangue volte a circular na área. Esta fase é seguida por outro período de vasoconstrição.
Embora o sangue flua ainda na área, o tamanho do edema é significativamente menor do que se o gelo não fosse aplicado. Esta diminuição do edema permite mais movimento no músculo ou articulação e, dessa forma, diminui a perda funcional associada à lesão. O edema, juntamente com a resposta inflamatória, causa também um aumento da pressão no tecido, o que acarreta aumento da dor. Esta dor é intensificada por determinadas substâncias químicas que são liberadas no sangue quando o tecido é danificado. Por isso, a aplicação do gelo diminui a dor.
A diminuição da dor é um dos maiores efeitos do gelo. A percepção da dor, como numa lesão muscular ou entorse de tornozelo, pode ser torturante e o alívio promovido pela crioterapia chega a ser vital para a melhora do atleta.
Outro meio de ação do gelo para diminuir a dor é reduzir a condução do impulso nervoso de alguns nervos na pele e nos tecidos circunvizinhos. Além disso, por fornecer um outro estímulo às fibras do nervo, a sensação do frio pode inibir a sensação de dor. A aplicação do gelo pode estimular a liberação de endorfinas no local da lesão, o que também contribui para a diminuição da dor.
Há evidências que mostram uma ligação forte entre o espasmo do músculo e a dor. Um aumento na dor conduz ao espasmo do músculo, que conduz subseqüentemente a mais dor e assim por diante. Isso causa uma resposta negativa. Portanto, reduzindo a dor, o gelo pode reduzir o risco do espasmo do músculo.
Reduzindo a taxa metabólica, o gelo reduz a necessidade de oxigênio das células. Assim, quando o fluxo sanguíneo for limitado pela vasoconstrição, o risco de morte celular devido às demandas de oxigênio (necrose celular secundária) será diminuído.
Indicações para uso da crioterapia
As formas de aplicar gelo
Há várias maneiras para se aplicar a terapia com gelo. Em caso de dúvida, procure um profissional qualificado para orientá-lo quanto ao método mais adequado ao seu caso.
Durante a crioterapia pode haver um desconforto considerável nos primeiros minutos como uma dor intermitente ou latejante, porém essa sensação começa a diminuir dando lugar à uma sensação de queimação e no final dos 20 minutos a sensação será de dormência no local, além de vermelhidão temporária.
Nas primeiras 24 horas, pode ser feito de 2 em 2 horas. Após este período, aplicar 4 ou 5 vezes por dia.
Bolsa ou pacote de gelo: é umas das maneiras mais eficazes de se aplicar a crioterapia. O contato próximo do gelo com a pele mantém, durante todo o tempo, a temperatura baixa na área lesada, permitindo que os efeitos fisiológicos aconteçam. Para isso, você pode utilizar um saco plástico ou bolsa comercializada (especial para este tipo de aplicação), com pedras de gelo (ou gelo triturado) dentro e fixar no local a ser tratado por faixas que acompanham a bolsa ou ataduras de crepe para que fiquem pressionadas contra a pele. Esta aplicação deve ter duração de 20 minutos. No caso de se utilizar o saco plástico, recomendamos envolvê-lo com uma toalha úmida para conduzir melhor o frio sem riscos de queimaduras na pele. A bolsa comercializada pode ser colocada diretamente sobre a pele.
Massagem com gelo: este método trabalha de forma diferente dos outros. Enquanto o gelo está sendo movido constantemente sobre a área afetada, as sensações, principalmente de dormência, ocorrem mais rapidamente que na aplicação com bolsa, por exemplo. A massagem é realizada com um cubo grande de gelo e deve ser aplicada com movimentos paralelos à fibra do músculo. Para facilitar o manuseio, recomendamos colocar no freezer ou congelador copos descartáveis com água e utilizar a pedra de gelo que se formará. IMPORTANTE: é imprescindível proteger a pele da mão com um tecido pois ao segurar a pedra de gelo sem proteção poderão ocorrer queimaduras nas pontas dos dedos! Envolva um lado da pedra de gelo com um pano (onde irá segurar) e aplique a outra extremidade do gelo diretamente na pele, fazendo movimentos, sem deixar parado sobre a pele. Utilizar por 5 a 10 minutos numa área correspondente a 10 a 15 cm.
Bolsa de gel: podem fazer parte do tratamento com baixas temperaturas, mas não devem ser usadas como substituto para as opções anteriores. Elas servem como auxiliares, nos momentos em que se fazer o pacote ou bolsa com pedras de gelo se torna difícil. Algumas bolsas de gel permanecem moles mesmo após um tempo prolongado no freezer. Mesmo as que endurecem, se utilizadas conforme orientação, são bem práticas, podendo ser reutilizadas sempre que quiser. Porém, como trocam calor com a pele, acabam perdendo a capacidade de resfriar após um tempo (diferentemente do gelo). Recomenda-se manter sobre a pele por 10 minutos, preso com uma faixa e após este período virar a bolsa e prender novamente, deixando por mais 10 minutos.
Gelo mole: uma maneira prática e reutilizável de fazer a crioterapia é fazendo o gelo mole. Para isso, será preciso um saco plástico bastante resistente onde será colocada uma proporção de 3 copos de água para 1 copo de álcool líquido. Amarre bem e coloque dentro de outro saco plástico. Leve ao freezer ou congelador. O gelo fica mole, facilitando a aplicação, pois se molda ao corpo. Cuidado para a mistura não entrar em contato com a pele para não haver riscos de queimadura. Envolva o saco plástico numa toalha úmida para melhorar a condução do frio. Aplique por 20 minutos na área lesada.
Banhos frios de imersão: eficaz para lesões da mão, pé, punho e tornozelo. Encha parcialmente uma bacia com água e coloque os cubos de gelo, o suficiente para deixar a água gelada e não somente fria. Mergulhar a área afetada (pé ou mão) e manter por 4 minutos, movimentando a mão ou o pé para a água não se aquecer próxima à pele. Retire, aguarde 1 minuto e volte a mergulhar até completar 20 minutos.
Banhos de contraste: este pode ser um uso altamente benéfico do gelo e do calor. Deve somente ser usado na fase subaguda em que o ferimento está começando a cicatrizar. Encha uma bacia ou balde com água e gelo e outro com água quente (com temperatura entre 40ºC e 45ºC). Mergulhe o membro afetado na água fria e mantenha por 3 minutos. Imediatamente em seguida, mergulhe-o na água quente e mantenha por 1 minuto. Repita a operação até completar 20 minutos, terminando com a água fria. É preciso deixar água quente e fria de “reserva” para repor, porque após alguns mergulhos a água fria esquenta e a quente, esfria.
Sprays: Os sprays também têm a finalidade de resfriar a região lesada. Eles contêm líquidos que evaporam rapidamente, diminuindo a temperatura superficial da pele. São úteis em situações de emergência, porém o tempo de ação é curto, além de ser mais superficial.
Existem no mercado bolsas que funcionam como compressa fria, que não necessitam ir ao freezer ou congelador. Este tipo de material serve como auxiliar, mas não substitui a bolsa de gelo, na medida em que mantém a temperatura da pele mais baixa por apenas 10 ou 15 minutos (o tempo ideal é de 20 minutos neste tipo de aplicação) e troca calor com a pele, ou seja, no final dos 20 minutos, o calor do corpo já aqueceu o material. É ideal para aplicar no trabalho ou levar no dia de uma prova, mas chegando em casa a bolsa de gelo é a melhor opção.
Precauções e contra-indicações ao gelo
É preciso ter cuidado quando for utilizar o gelo nos seguintes casos:
A crioterapia não deve ser usada nos seguintes casos:
Água quente
Apesar de ser mais agradável e confortável, a utilização da água quente nos tratamentos ortopédicos se limita a alguns casos onde o objetivo de reduzir a dor deve estar somado à necessidade do relaxamento muscular, na ausência de edemas ou hematomas.
Como recursos da termoterapia temos o calor superficial e o calor profundo. O calor superficial é obtido através de compressas, bolsas e imersões com água quente e infravermelho. O tratamento com calor profundo necessita de aparelhos específicos que emitem ondas que penetram pela pele e atingem camadas mais profundas que o calor superficial, como ultra-som, ondas curtas e microondas. O banho de parafina é um calor superficial utilizado nas extremidades como mãos, pés, punhos e tornozelos. Porém, quando aplicado nas mãos ou pés para tratamento das articulações dos dedos funciona como “calor profundo” devido à pequena espessura das estruturas que envolvem a articulação.
O uso do calor contribui para:
Indicações
Formas de aplicação do calor
Da mesma forma que o gelo, temos algumas opções diferentes para a aplicação do calor. Quando indicado, qualquer opção de calor é válida para atingir os objetivos, porém vale lembrar que se utilizado na fase aguda, pode ser prejudicial.
A aplicação do calor deve proporcionar uma sensação agradável. Seja qual for a opção escolhida, se o calor for excessivo, uma toalha deverá ser colocada sobre a pele para evitar queimaduras. Se preciso, dobrar a toalha. Quando a temperatura da bolsa estiver agradável, pode ser utilizada uma toalha úmida sobre a pele, o que conduz melhor o calor.
Bolsa de água quente: é a maneira mais conhecida de se aplicar calor. Para isso, coloque água quente (não fervente) dentro da bolsa de borracha comercializada, tomando o cuidado de fechá-la bem para não haver riscos de vazamento e queimaduras. Manter sobre a região dolorida por 20 minutos.
Bolsa de gel: para aquecer este tipo de bolsa, você deve seguir as orientações do fabricante. Será preciso colocar a toalha entre a pele e a bolsa, pois a temperatura fica bem alta. Este tipo de aplicação permanece mais tempo quente que a bolsa de borracha. Usar por 20 minutos.
Banhos quentes de imersão: eficaz para lesões da mão, pé, punho e tornozelo. Encha uma bacia ou balde com água quente com temperatura de aproximadamente 40ºC a 45ºC e mergulhe a área afetada (pé ou mão), mantendo por 20 minutos. A imersão de todo o corpo em banheiras pode ser muito útil para alívio de dores e tensões nas costas, relaxando os músculos.
Existem também bolsas térmicas elétricas ou que se aquecem em contato com o oxigênio. Elas também podem ser utilizadas, tomando-se o cuidado com temperaturas elevadas.
O infravermelho pode ser utilizado, inclusive em casa, porém é preciso ter cuidado com a distância da lâmpada em relação à pele para evitar queimaduras. Iniciar com uma distância de 50 cm e ir aproximando até que o calor fique agradável. Neste caso, também é recomendada a utilização de toalha úmida entre a pele e a lâmpada para conduzir melhor o calor.
Precauções e contra-indicações ao calor
É preciso ter cuidado ao se aplicar calor como tratamento nos casos de:
O calor não deve ser utilizado nos seguintes casos:
Conclusões – A crioterapia deve ser utilizada sempre que houver traumas ou lesões agudas por ter ação fisiológica mais completa e eficiente. Tanto os métodos de aplicação do calor como do gelo descritos nesta matéria devem ser utilizados como parte de um tratamento e não como única forma de aliviar os sintomas. Por isso, é importante a orientação de um profissional qualificado e a consulta médica para que o diagnóstico seja estabelecido e para que o tratamento completo seja orientado.
LEIA ESTA MATÉRIA COMO FOI EDITADA NA REVISTA IMPRESSA, CLICANDO AQUI