20 de setembro de 2024

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Performance e Saúde admin 12 de março de 2013 (0) (111)

Em busca da passada ideal

Quando se fala em técnica de corrida, pensa-se logo em um treinador acertandoa postura de seus corredores e realizando séries de exercícios educativos para corrigir pontos específicos do gesto de cada um. Mas além das questões posturais, como a inclinação correta do tronco, a posição dos braços, quadril e a forma de tocar o pé no solo, um ponto que gera dúvidas em corredores é a relação entre o comprimento e a frequência de passada nas diferentes velocidades de corrida.

A velocidade de corrida, ou ritmo, é determinada pelo produto entre a quantidade de passadas por minuto (cadência) e o comprimento de cada passada. Aumentos de velocidade podem ser obtidos de três maneiras: aumentando-se a cadência das passadas, o comprimento de cada passada, ou ambos. Quando optamos por uma velocidade nova, mais alta, o organismo vai naturalmente experimentando relações diferentes entre as duas variáveis até chegar num ponto ideal. Além disso, é comum que corredores tentem mudar sua passada conscientemente, experimentando em treinos às vezes com passadas mais curtas e rápidas, às vezes com passadas longas e mais lentas.

A velocidade natural de corrida, aquela que não exige esforço consciente por parte do corredor, é o resultado da otimização neural feita com base nas corridas que fizemos anteriormente em nossas vidas, num processo semelhante ao de uma criança que aprende a caminhar. No início, os passos de um bebê são incertos, descoordenados, e com o tempo o sistema nervoso ajusta os movimentos, eliminando contrações musculares desnecessárias etc.

O mesmo processo acontece com a corrida, e tentar interferir ativamente nele costuma ser um erro. Isso porque, com a experiência adquirida ao longo de quilômetros e quilômetros, nossos músculos aprendem a contrair-se de forma a gastar o mínimo possível de energia para cada velocidade. Assim, não apenas estamos adaptados do ponto de vista mecânico, mas também do ponto de vista energético para correr em nosso ritmo "natural".

Tentar modificar a relação entre o comprimento e a frequência de passada tem o efeito agudo de aumentar o custo energético da corrida (gráfico 2), com efeitos prejudiciais para a performance. Este ritmo natural de corrida, aliás, não é fixo. Muito pelo contrário: conforme aumentamos nosso ritmo de corrida, tanto a frequência quanto o comprimento de passadas aumentam, porém em proporções diferentes. A frequência de passadas aumenta mais lentamente, e atinge seu pico em cerca de 70-80% da velocidade máxima de corrida, a partir de onde diferenças de velocidade de corrida são alcançadas quase que exclusivamente por passadas mais largas (Gráfico 1).

 

FORMAS DE MUDAR A PASSADA. Mas por que tentar aumentar ou encurtar o tamanho da passada de uma hora para outra não funciona? São vários os fatores que contribuem para a resposta, e vamos detalhar um pouco cada um deles:

– Aumentar a passada tocando o pé mais à frente: a corrida pode ser vista como uma série contínua de saltos. A cada passada existe uma fase de aceleração quando o pé empurra o chão (no final da pisada) e uma fase de frenagem quando o pé toca o solo (o início da pisada). Quando se tenta "esticar" a passada colocando o pé um pouco mais à frente no momento de tocar o solo, muda também o ângulo que a perna fica em relação ao corpo e ao chão. Essa maior inclinação gera uma maior frenagem, que resulta em perda de energia cinética, e diminui a eficiência do movimento.

– Aumentar a passada saltando mais: a oscilação vertical do corpo também influencia na economia de movimento. Passadas mais largas (saltos mais compridos) necessitam ser também mais altos, o que diminui a eficiência do gesto.

– Encurtar a passada: apesar de não ter problemas mecânicos tão óbvios, a passada encurtada irá demandar uma maior quantidade de movimentos ativos por parte do corredor, ou seja, parte do movimento que antes era gerada pela simples inércia do salto agora necessita de energia muscular para ser desempenhada.

A corrida é um movimento natural para o homem, e sua eficiência mecânica e energética são avaliadas e melhoradas constantemente pelo organismo. Exercícios para correção postural e para melhora de potência dos membros inferiores auxiliam a criar uma base para que o corpo possa naturalmente ajustar sua forma preferida de correr. Exercícios para tornar as pernas mais fortes e elásticas, por exemplo, permitem passadas mais longas num processo gradual que acompanha as adaptações ao treinamento em si. Atropelar este processo quase sempre é dar um passo em falso, com o perdão do trocadilho.

 

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