ela quarta vez enfrentei o desafio de correr uma maratona, desta vez em Buenos Aires. E posso dizer que a quarta experiência é tão emocionante quanto a primeira, por tudo que há por trás de uma prova como esta. Enfim, são meses de treinamento e dedicação para se percorrer os 42 km com saúde e segurança e, ao mesmo tempo, desafiar os limites do corpo e da mente, provando para si mesmo das maravilhas (dores e alegrias) resultantes de muito esforço, disciplina e dedicação.
É uma experiência única de se ver gigante diante do que podemos realizar e, ao mesmo tempo, se ver pequeno frente a tamanho desafio… Não é uma luta entre corpo e mente, mas destes dois contra o coração, contra a loucura (ou não) de acreditar que é possível!
Cada atleta tem um objetivo específico ao correr uma maratona, que varia entre completar a prova, se superar ou ganhar a competição – esta última sonhada por poucos privilegiados. No meu caso, o meu grande desafio sempre foi a superação. Meu competidor sou eu mesma na corrida anterior. A busca de uma melhoria constante é o que me move e me motiva a cada dia, a cada treino e em cada competição.
Até dia 12 do mês passado, em Buenos Aires, o meu melhor tempo tinha sido 3h15 na Maratona de Berlim 2008 com todas as condições a favor (temperatura, umidade, relevo, torcida e organização perfeita), conforme relatei na CR de novembro do ano passado. Mas durante a preparação para Buenos Aires, a minha performance acabou surpreendendo a todos que acompanhavam meus treinos – mesmo com todas as minhas limitações de passadas tortas e desajeitadas de uma biomecânica incorreta, eu estava colhendo os frutos de um espírito guerreiro que não se cansa de acreditar: a colheita de 1.752,4 km percorridos em 5 meses de treinos específicos – nada mais, nada menos.
Em função desta melhora na minha performance, eu e meu treinador Heleno Fortes traçamos uma meta extremamente ousada: manter um ritmo de 4:20/km – o que resultaria em 3h02 no tempo total da maratona. Com isto em mente, embarcamos rumo a Buenos Aires: eu, Helmut e meus pais, que pela primeira vez me veriam cruzar a linha de chegada após os 42,2 km.
Na noite da maratona fiquei extremamente ansiosa e só consegui dormir 1 hora. A chuva intensa que caía lá fora e a forte expectativa com o dia seguinte haviam me tirado algo essencial: a paz de espírito. Mas no domingo, caía uma garoa fina e meu coração voltou a ter paz.
UM COMEÇO RUIM. Nos primeiros quilômetros, notei minha perna pesada e meu corpo cansado. O meu corpo reclamava por aquela noite mal dormida, mas fingi não ouvi-lo e fui em frente. Lembrava da Maratona de Porto Alegre quando também passei a noite em claro, ansiosa, e fiz uma ótima corrida no dia seguinte. Havia largado um pouco mais atrás do que de costume, imaginando que os corredores da meia seriam mais rápidos, mas me enganei e perdi preciosos segundos.
Encontrei Fabiano, corredor da minha equipe que faria o mesmo ritmo que eu, e passamos a correr juntos. Passamos o km 21 com 1h32, mas a partir do 26 vi que ele estava melhor e o deixei ir, mantendo 4:22/km, em média. A partir do km 35, no entanto, fui tomada de uma força de vontade enorme. As dores musculares estavam presentes, mas eu corria como uma criança.
Recebi um estímulo importante logo depois, do "marido fotógrafo", e perto da chegada ouvi a voz do meu pai: "Dri!". Foi uma força poderosa! Eu não os via no meio de tanta gente, mas sabia que estavam ali, me esperando, torcendo, me vendo vencer aquele desafio! Como foi bom sentir aquilo! Sorri e acelerei para fechar em 3:06:09. Meu novo recorde!
Adriana Duarte Coelho é assinante de Belo Horizonte