Adriana Aparecida da Silva é a melhor maratonista brasileira da atualidade. Quebrou a barreira das 2h30 em Tóquio, no ano passado, com 2:29:17, tempo que a colocou na Olimpíada de Londres-2012. Agora, ao lado do técnico Cláudio Castilho, do Pinheiros-SP, foca todo o planejamento nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. E esse caminho passa pelo Pan-Americano de Toronto, no Canadá, em 2015, onde lutará pelo bicampeonato após o ouro conquistado em Guadalajara-2011. Mas o primeiro passo será no dia 21 deste mês, com objetivo de recorde pessoal na centenária Maratona de Boston, marcada pelas subidas e descidas, que neste ano será ainda mais especial, devido ao atentado à bomba ocorrido na linha de chegada na edição passada.
"Meu objetivo principal são os Jogos Pan-Americanos, mas estamos focados no resultado de Boston. Na verdade, estou pensando em um passo de cada vez. No momento, quero correr a maratona entre 2h27 e 2h28. Se conseguir essas marcas, aí traçarei novas metas", afirma Adriana. "Minha expectativa para todas as maratonas será sempre bater meu recorde pessoal, mas isso depende de vários fatores. Tem ano que em Boston é muito frio, em outros, mais quente; esse é um fator que pode contar bastante."
Consciente, Adriana sabe que as dificuldades serão enormes em Boston devido ao nível das adversárias. Na lista de elite, há 22 corredoras com o recorde pessoal mais baixo do que o dela, sendo três sub 2h20 (a etíope Mare Dibaba, 2:19:52, e as quenianas Rita Jeptoo, 2:19:57, e Jemima Jelagat Sumgong, 2:19:57), e outras 11 sub 2h25, destacando-se a etíope Meseret Hailu Debele (2:20:48), as quenianas Eunice Kirwa (2:21:09), Sharon Cherop (2:22:28) e Caroline Kilel (2:22:34) e a norte-americana Desiree Davila Linden (2:22:38).
Porém, devido à altimetria e às condições climáticas, a história mostra que em Boston, assim como em Nova York, ter os melhores tempos não é sinônimo de bom desempenho. E é nisso que a brasileira aposta. "Boston tem uma característica que me ajuda bastante por ser um percurso difícil", diz Adriana. "Realmente, o nível da prova é bastante forte. Mas a variação do percurso acaba nivelando e favorecendo um final imprevisível. Acredito que tem de ser uma prova de estratégia, pois o início parece ser fácil (devido às descidas), mas você pode pagar um preço alto (no final) se não tomar cuidado com o ritmo."
Dentro da preparação exclusiva para Boston, Adriana disputou os Jogos Sul-Americanos no Chile, em março, e fez um camping de altitude em Paipa, na Colômbia. Mas, na conversa, deixa claro que o pensamento todo está no Rio de Janeiro. "Nesse nosso planejamento, o foco principal é mesmo a Olimpíada. Estamos trabalhando para sempre correr as grandes maratonas, como Boston, visando melhorar as minhas marcas e ganhar experiência para chegar ainda mais preparada para a Rio-2016", afirma Adriana.
ELITE MASCULINA – Entre os homens em Boston, uma desistência de última hora. Como na Olimpíada de Londres, no ano passado, o queniano Moses Mosop justificou uma contusão para desistir da maratona. Além dele, o norte-americano Dathan Ritzenhein e o australiano Jeffrey Hunt também não irão correr. Eles foram substituídos pelos norte-americanos Ryan Hall, que retorna após longo período afastado devido à lesão (que o tirou inclusive da Maratona de Nova York em novembro de 2013) e Abdi Abdirahman, e pelo queniano Mathew Bowen.
Mas, mesmo sem Mosop, a elite de Boston segue muito forte. Com cinco atletas sub 2h05 (o queniano Denni Kimetto, 2:03:45; os etíopes Lelisa Desisa, 2:04:45; Gebre Gebremariam, 2:04:53; e Markos Geneti, 2:04:54; e o norte-americano Ryan Hall, 2:04:58). Além deles, há mais três sub 2h06: queniano Wilson Chebet (2:05:27); e os etíopes Tilahun Regassa (2:05:27) e Shami Dawud (2:05:42).
SEGURANÇA – Neste ano, na 118ª edição ininterrupta (só perde em longevidade para a maratona olímpica iniciada em 1896, em Atenas, realizada a cada quatro anos), Boston adotou um esquema rígido de segurança devido ao atentado à bomba que deixou três espectadores mortos e outros mutilados próximo à linha de chegada, no ano passado.
Pela primeira vez, o guarda-volumes ficará antes do embarque nos ônibus que levam para Hopkinton, onde há a Vila dos Atletas (a largada da prova fica a 42,2 km de Boston). Além disso, mochilas não serão permitidas nem para os corredores nem para os parentes, amigos ou torcedores em geral. Como em Nova York, quem completar o percurso receberá um poncho para se proteger do frio, até conseguir pegar suas roupas. Mais informações e detalhes em www.baa.org.
Recorde mundial em Londres?
Abril é marcado por grandes e importantes maratonas, principalmente na Europa, com Roterdã, Paris e Viena, para citar três somente. Mas o destaque é a de Londres, no dia 13, que tem uma das listas de elite mais fortes da história e conta com a participação de Marilson Gomes dos Santos, que tentará baixar os 2:06:34 obtidos no próprio percurso inglês.
Mas grande expectativa é em relação à estreia do britânico Mo Farah nos 42 km, e para a possibilidade de quebra do recorde mundial, conseguido pelo queniano Wilson Kipsang em Berlim, no ano passado, com 2:03:39.
Nascido na Somália e naturalizado britânico, Mo Farah passa boa parte do ano treinando no Quênia. Começou a se destacar no Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, em 2009, quando foi ouro nos 5.000m e prata nos 10.000m. Mas a consagração veio em 2012 e 2013. Primeiro, na Olimpíada de Londres, correndo em "casa", foi ouro nas duas competições, não dando espaço para os quenianos nem para os etíopes. Chegou, então, ao Mundial de Moscou, na Rússia, no ano passado, como o "homem a ser batido". Mas não foi derrotado por ninguém. De novo, fez dobradinha com duas vitórias incontestáveis nos 5.000m e 10.000m.
Como recordes pessoais, Mo Farah tem 12:53.11 nos 5.000m (Mônaco-2011), 26:46.57 nos 10.000m (Eugene-2011), 27:44 nos 10 km (Londres-2010), 43:13 nos 15 km (Portsmouth-2009) e 1:00:59 na meia-maratona (New Orleans-2013). Dentro da preparação para Londres, o britânico correria a Meia de Nova York, disputada no dia 16 de março, após o fechamento desta edição.
Os olhares sobre Mo Farah ficam ainda mais fortes em função do que alguns estreantes têm feito nas maratonas. O último exemplo foi o etíope Tsegaye Mekonnen, de apenas 18 anos, que debutou com estreia na Maratona de Dubai, em janeiro deste ano, com incríveis 2:04:32. O garoto, inclusive, está inscrito em Londres. Dentro dessa linha, outro estreante nos 42 km que pode surpreender é o etíope Ibrahim Jeilan, ouro no Mundial de Daegu e prata no de Moscou nos 10.000m (derrotou Mo Farah na Coreia do Sul e perdeu para ele na Rússia).
Mas tanto Mo Farah quanto Mekonnen e Jeilan terão muito trabalho. A lista dos favoritos na maratona inglesa é realmente extensa, incluindo os quenianos Geoffrey Mutai, Wilson Kipsang (atual recordista mundial) e Emanuel Mutai (recordista de Londres), o etíope Tsegaye Kebede (atual campeão da prova) e o ugandês Stephen Kiprotich (ouro na Olimpíada de Londres e no Mundial de Moscou).
Outra atração de Londres será o ex-recordista mundial Haile Gebrselassie como coelho. O etíope terá a missão de levar o primeiro pelotão em ritmo de quebra de recorde mundial até o km 30 – uma função sempre dada aos marcadores de ritmo na prova inglesa. "Todos sabem da dificuldade de quebrar o recorde mundial no percurso de Londres, mas com Haile como coelho e com quatro dos mais rápidos corredores de maratona da história nesta prova, há uma chance real de vermos algo especial", afirmou o diretor de Londres, Hugh Brasher.
No feminino, a disputa também promete ser acirrada na capital inglesa. Entre as mais rápidas, estão as etíopes Tiki Gelana (2:18:58) e Aberu Kebede (2:20:30) e as quenianas Priscah Jeptoo (2:20:14, atual vencedora da prova), Florence Kiplagat (2:19:44) e Edna Kiplagat (2:19:50). Mais informações no site oficial da Maratona de Londres, o
www.virginmoneylondonmarathon.com.
Elite masculina em Londres
Geoffrey Mutai (QUE) 02:03:02*
Wilson Kipsang (QUE) 02:03:23**
Emmanuel Mutai (QUE) 02:03:52
Ayele Abshero (ETI) 02:04:23
Tsegaye Mekonnen (ETI) 02:04:32
Feyisa Lilesa (ETI) 02:04:32
Tsegaye Kebede (ETI) 02:04:38
Stanley Biwott (QUE) 02:05:12
Marilson dos Santos (BRA) 02:06:34
Martin Mathathi (QUE) 02:07:16
Stephen Kiprotich (UGA) 02:07:20
Samuel Tsegay (ERI) 02:07:28
Mustapha El Aziz (MAR) 02:07:55
* Geoffrey Mutai fez esse tempo em Boston 2011, mas não é reconhecido como recorde mundial em função das características do percurso. Sua melhor marca "oficial" é 2:04:15.
** Atual recorde mundial, obtido em Berlim 2012.