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Blog do Corredor Especial Redação 15 de junho de 2018 (0) (243)

El Cruce de Los Andes: a missão de dois “caveiras”

“Vá e vença”. Estampada na saída do prédio em que está instalado o BOPE – Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro -, a frase é curta, mas mostra como os caveiras, como são chamados os policiais do batalhão, encaram diariamente suas missões, no trabalho ou na vida pessoal. Alçados à fama com o filme “Tropa de Elite”, os caveiras estão acostumados a um treinamento duro, mas necessário para o sucesso das operações policiais morro acima, com diversos obstáculos no caminho e quase sempre com cerca de 30 quilos de equipamento no corpo.

Com uma dura rotina de trabalho e de treinamento específico, é de se esperar que os policiais aproveitem ao máximo o tempo de folga para descansar. Mas um grupo de 13 integrantes do batalhão resolveu encarar uma planilha de treinamento de corrida e hoje o BOPE é presença certa nas provas no Rio. Dois deles resolveram ir além: o cabo Rafael Sodré e o sargento Sérgio Dantas estão treinando duro para o próximo El Cruce de Los Andes, de 5 a 10 de fevereiro numa área de vulcões entre o Chile e a Argentina. A ideia de fazer a prova surgiu no início deste ano e os dois partiram em busca de apoio para viabilizar o projeto.

“Eu já conhecia esta prova e lancei a ideia para o Rafael, que logo aceitou o desafio”, conta Sérgio, que corre desde os 16 anos e tem 12 maratonas no currículo, uma delas em 2h51. Aliás, não é de hoje que Dantas consegue encaixar trabalho e corridas no seu dia a dia. Durante alguns anos, convocado a fazer a segurança pessoal de uma alta executiva de um grupo multinacional, o sargento teve a oportunidade de estar em algumas maratonas internacionais.

“Esta executiva era corredora e eu, como segurança, corria junto. Vendo minha performance ela me convidou a fazer as maratonas das quais participava. Estive em Chicago, Nova York, Amsterdã e Frankfurt”, conta o sargento, há 17 anos na Polícia Militar, 11 deles no BOPE.

ESTILO E DESAFIO. Com quase 30 anos de corrida e precursor da modalidade no batalhão – de performance, não apenas como parte do treinamento profissional -, Sérgio ganhou novo estímulo ao conhecer Rafael e sentir-se desafiado.

Há cinco anos no BOPE, Rafael começou a correr para o curso de ingresso na unidade de elite. Foi aprovado e como resultado dos treinos no Aterro do Flamengo, fazia os 10 km em 36 minutos. “O Sérgio ficou sabendo do meu tempo nos 10 km e não acreditou; afinal eu treinava sem qualquer orientação, apenas para manter a forma e passar no curso. Ele se sentiu desafiado e adiou sua aposentadoria das corridas”, brinca Rafael, de 30 anos, que hoje cultiva os treinos em conjunto e A amizade com Dantas.

Aliás, dos treinos em conjunto surgiu a ideia de fazer El Cruce de Los Andes. Desde a confirmação da inscrição, Sodré e Dantas cumprem uma planilha do treinador Alan Marques, da Speed Assessoria Esportiva, e garantem que com orientação especializada seus tempos vêm baixando. Hoje, Rafael Sodré faz a meia-maratona para 1h20, e Sergio Dantas para 1h26.

Um dos organizadores da equipe de corridas do BOPE, o 2º sargento André Lopes, garante que os corredores cumprem as planilhas com disciplina. “As planilhas são flexíveis. Nosso treinador conhece nossas missões, nossas operações e atividades de instrução. Procuramos seguir as rotinas de treino, sem pular as atividades. Os resultados de todos vêm melhorando”, garante o sargento, de 38 anos. Apesar de correr desde os 16 anos, o policial militar fez sua primeira prova somente em 2011.

Hoje, toda a unidade, mesmo os que não integram a equipe de corrida, acaba envolvida na modalidade. Muitas vezes o estímulo parte do próprio comandante, o tenente-coronel Wilmam René Gonçalves Alonso. “Por vezes, ele convoca todos que estão no batalhão para uma corridinha de 15 km de ida e volta à Praia Vermelha, na Urca”, revela Dantas, que faz planos para fazer as provas de 50 km do Circuito XTerra em 2013. Já Rafael Sodré sonha conseguir encaixar seus treinos para fazer um Ironman em 2014. Atualmente, os corredores do BOPE têm feito provas de 5 km a maratona, de acordo com a preferência de cada, sempre com bons desempenhos.

Mas a corrida, além dos conhecidos benefícios, também tem aproximado a Polícia Militar do Rio de Janeiro, através do BOPE, à sociedade. Não é raro ver os “caveiras” treinando junto às assessorias esportivas nas praias, no Aterro do Flamengo e mesmo no batalhão ou no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças da PMERJ.

PLANILHA DADA É PLANILHA CUMPRIDA

Neste momento, a planilha dos dois atletas está direcionada para aumento do volume visando ao El Cruce. Como estratégia de periodização, inserimos a Maratona de Búzios (ocorrida em novembro) como prova preparatória, já que apresenta grandes subidas e descidas. Também como preparação teremos uma meia-maratona por trilhas na Patagônia, no começo de dezembro.

A partir desse momento, as semanas possuem treinos com características específicas da prova. Ou seja, três dias seguidos com treinos longos em trilhas e terreno acidentado com grandes variações de aclive e declive. Também não esquecemos os treinos de caminhada em subida, muito importante para esta prova.

Como o El Cruce tem três dias de prova longa (30, 40 e 26 km), a preparação será feita com ¾ do volume da prova, aproximando-se ao máximo do que eles vão enfrentar por lá. Há também o acréscimo da mochila com carga durante os treinos longos, que será feito de maneira progressiva, chegando a um treinamento bem próximo do cenário real da prova.

Os policias do BOPE têm como característica excelentes preparos físico e mental, estando sempre preparados para suportar altas cargas de estresse. Além disso, eles têm “cabeça” de atleta, o que facilita muito o trabalho. Como os policiais possuem uma rigorosa rotina de exercícios, e dentro dela a corrida é utilizada como ferramenta de condicionamento físico, o trabalho do Sodré e do Dantas está direcionado especificamente para a prova. A grande dificuldade do treinamento é encaixar a rotina pesada de trabalho e de treinos com o descanso, já que eles têm pouco tempo para isso.

De uma forma geral as planilhas são prescritas após um teste de desempenho. Assim, cada atleta terá uma planilha bem próxima da sua realidade, mas isso não é o suficiente. Dada a especificidade do trabalho destes corredores, é preciso também avaliar a função de cada um dentro do BOPE. Entender cada equipe e sua rotina de trabalho operacional é fundamental para acertar a prescrição.

Com estes dados em mãos nos reunimos para analisar a escala de trabalho e ajustar a planilha de cada um. Dessa forma, conseguimos controlar melhor a quantidade de treinos e descansos semanais. E os resultados têm sido expressivos. Em dois meses de trabalho, conseguimos, na meia-maratona, tirar 4 e 6 minutos, dos tempos Dantas e do Sodré, respectivamente.”

Alan Marques, Speed Assessoria Esportiva, treinador da equipe do BOPE.

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