Blog do Corredor André Savazoni 16 de setembro de 2011 (4) (128)

Edicarlos resume a história de milhares de atletas brasileiros

Na semana passada, escrevi um texto aqui no blog comentando como a cada Olimpíada e Mundial de Atletismo fico desanimado por ver como o Brasil caminha para trás, perdendo as oportunidades de ouro de evoluir no esporte. Sendo superado por países de populações bem menores e com condições econômicas e sociais inferiores à nossa. Diariamente, temos contato com histórias de talentos desperdiçados. Ou melhor, que não tiveram as condições ideais para buscar os resultados ou começaram tarde no atletismo (e nas corridas). Muitos, nem vão ter essa chance!

Resolvi, então, contar a história do Edicarlos Rodrigues, de 39 anos, que treina com o Adriano Bastos e busca apoio financeiro para disputar o solo do K42 Villa La Angostura, na Patagônia argentina, em novembro deste ano. É claro que há inúmeros outros atletas na mesma situação do Edicarlos, mas não conseguiria citar e revelar a história de todos. Então, o texto abaixo representa o cotidiano de centenas (ou seriam milhares?) de bons corredores brasileiros que precisam só de um empurrão para melhorar ainda mais os resultados. E o Edicarlos já tem 39 anos. Quantos são os de 15, 16, 20, 25 anos? E se ele tivesse começado mais cedo? Onde teria chegado? Essa resposta, nunca teremos. Por isso que torço para que um dia, realmente, nos tornemos uma nação esportiva, com um projeto para o atletismo que inclua, também, a parte educacional.

Edicarlos é atleta desde 2000. Sempre treinou sozinho. Mas não conseguia melhorar os tempos. Em janeiro de 2010, acertou uma parceria com Adriano Bastos, em São Paulo. “Fiz 5 km do Circuito do Sol em 18:59, fiquei mortinho, parecia que tinha levado uma surra. Cheguei em casa arrasado e pensei: ‘Poxa, o que está acontecendo? Treino todos os dias e não consigo correr bem”, conta Edicarlos. “Olhando sites de corrida, vi alguns comentários sobre assessorias esportivas. Já conhecia o Adriano das provas e mandei um e-mail para ele.”

O corredor disse que se surpreendeu quando Adriano Bastos não só respondeu o e-mail como disse que poderia ajudá-lo. “Começamos a treinar depois de um mês e meio e, já na abertura do Circuito Corpore, fiz meu melhor tempo nos 5 km, com 17:38, entre os 17 primeiros colocados”, lembra Edicarlos.

Em seguida, o atleta foi chamado para correr uma etapa do Circuito de Montanhas em Paranapiacaba. “Acabei vencendo minha primeira prova. Ganhei todas as etapas de 2010 nos 6 km: Paranapiacaba, São Sebastião, São Bento do Sapucaí, São Francisco Xavier, Espírito Santo do Pinhal e por fim Atibaia”, afirma Edicarlos.

Em 2011, manteve a evolução. Inclusive, disputando também provas no asfalto. Na Meia-Maratona da Praia Grande, sua estreia nos 21,1 km, marcou 1:20:41. Edicarlos considera como melhor resultado a primeira colocação nos 12 km na K42 Bombinhas, em agosto, no litoral catarinense, com 57:40. “Estamos treinando para o desafio do ano: fazer o K42 na Patagônia. Mas, para isso acontecer, estou tentando arrumar parceiros que possam me ajudar a ir ate lá. O próximo desafio será a Meia das Pontes, no dia 25 de setembro. Quero fechar com o tempo de 1:20:00 e assim manter o ritmo para a Patagônia”, diz o corredor.

O técnico Adriano Bastos resume bem a história de Edicarlos. “Ele nos procurou para que eu pudesse treiná-lo e desde o início deixou claro o fato de não ter condições de pagar pelo serviço. O que não impediu que eu aceitasse treiná-lo. Desde o primeiro momento, ele demonstrou muita força de vontade. Sua dedicação aos treinos e competições foi excepcional, trazendo ótimos resultados e pódios, além de cativar a todos os demais alunos por sua simplicidade e educação”, explica Adriano Bastos.

“É um cara que começou tarde no esporte e que está sabendo tirar muito bom proveito dessa limitação. Percebendo que o nível das provas de rua é muito elevado e a disputa bem mais acirrada, o que consequentemente deixa um atleta de mais idade e que está começando agora no esporte ainda com menos oportunidades, o Edicarlos resolveu arriscar todas suas fichas, força de vontade e potencial nas corridas de montanha, modalidade onde acabou se destacando de forma surpreendente desde a primeira participação”, afirma Adriano. “Por incrível que pareça, uma prova tão pesada e difícil como essa, que é a corrida de montanha, que teoricamente deixaria o atleta lento, ainda está ajudando o Edicarlos a melhorar seus tempos nas corridas de rua nas distâncias de 5 km, 10 km e 21,1 km.”

“O que vejo hoje no Edicarlos é um cara que até pouco tempo atrás tinha um sonho de se tornar um atleta de elite, mas ao mesmo tempo via isso como algo de certa forma impossível, primeiro pela idade, depois pelas poucas oportunidades que a vida lhe deu. Agora é simplesmente um dos melhores corredores de montanha do Brasil e com um sonho ainda maior: chegar entre os 20 primeiros colocados geral da K42, considerada a mais importante e difícil corrida de montanha da América”, completa Adriano Bastos.

Pela história do Edicarlos, com a parceria e apoio do Adriano Bastos, homenageio os milhares de atletas brasileiros que, com histórias de vida semelhantes, lutam diariamente em um esporte nobre como o atletismo. Quem tiver interesse em conversar mais com o Edicarlos ou apóia-lo, o e-mail é ebresportes@gmail.com.

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4 Comments on “Edicarlos resume a história de milhares de atletas brasileiros

  1. Imagine onde poderia chegar um atleta que corre sem orientação de um profissional, treinando 6 dias na semana, em torno de 80km, e que ja chegou a fazer 10 km em 30:54, e 21 km em 1h07, tendo que conciliar com o serviço diário dos mesmos 6 dias na semana como carteiro. Esse sou eu, e esse é o Brasil onde os valores existem, mas não aproveitados!

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    José Raimundo,

    Primeiramente, meus parabéns. Realmente é isso que quis mostrar com esse texto. Talentos de monte, nós temos. Só precisamos descobri-los e dar a estrutura necessária para seu desenvolvimento.
    Humildemente, espero começar uma campanha, a partir aqui do blog, falando com dirigentes, empresas, técnicos, corredores, políticos… acho difícil ter sucesso, mas garanto que tentarei.
    E sinta-se homenageado pelo texto. Foi escrito para ATLETAS assim, com tudo maiúsculo, como você, que são centenas (talvez milhares) por nosso Brasil.

    Um abraço

    André Savazoni

  2. Este final de semana presenciei uma situação inusitada durante uma prova em Alegre, 24 hrs. Farroupilha! Um grupo de mulheres, corredoras aqui do Sul, se uniu para prestar apoio a atletas por elas escolhidos. Este apoio direciona-se não só durante as provas, mas pagam passagens, estadia e demais despesas. O grupo já possui inclusive nome “Viva Vó” (o nome surgiu pq uma delas, certa ocasião, viajou para SP p/ prestar apoio a um atleta que deixou de participar da prova dizendo que a avó havia falecido!). Muito bacana o trabalho por elas realizado, fiquei sabendo que já atuam a bastante tempo e já possuem vários projetos!

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    Márcia,

    Muito legal essa história. Se conseguir, me passe o contato desse grupo de mulheres para conversar com elas. São projetos como esse que só engrandecem o nosso esporte.

    Abraço,

    André Savazoni

  3. Correr com orientação de uma assessoria esportiva faz toda diferença na vida de corredores amadores.

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    Daniela,

    Não considero treinar com uma assessoria, algo obrigatório. Agora, uma parceria com o treinador, com um trabalho individualizado, tem razão, faz muita diferença. E o Edicarlos é um exemplo disso. Conseguiu, em sete meses com o Adriano, baixar todas as suas marcas pessoais, o que dificilmente teria feito sozinho como ele mesmo relatou.

    Abraço,

    André Savazoni

  4. Realmente para quem quer ser um profissional é muito importante um patrocinador mas para os atletas amadores bastaria que os organizadores e sei lá mais quem fossem menos gananciosos cobrando inscrições com valores mais reduzidos.

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