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E O OSCAR VAI PARA… 10 Grandes filmes sobre corridas e corredores

Telona – Jonas Furtado – Outubro/2008

 

10 grandes filmes sobre corrida e corredores da história do cinema

Todo cinéfilo que se preze já enfrentou uma maratona de cinema na vida. Charmosas e exaustivas, como a prova clássica do atletismo e seus 42 km, elas requerem disposição e persistência de quem quer chegar ao final de suas oito, dez horas de duração praticamente ininterruptas. Mas o termo não é a única associação entre nosso esporte predileto e a Sétima Arte.

Corridas e corredores estão em cartaz em Hollywood desde as primeiras décadas do século passado, quando os grandes heróis das maratonas olímpicas eram cercados por glamour e figuravam entre os esportistas mais famosos do planeta. Desde então, praticamente todos os gêneros já celebraram o casamento entre pipoca e asfalto: Drama, Comédia, Ação, Musical, Animação… A união é pé-quente e resultou em muitos prêmios e indicações nos mais famosos festivais de cinema mundo afora, inclusive o Oscar (Carruagens de Fogo, por exemplo, ficou com quatro estatuetas em 1982, enquanto Forrest Gump levou seis em 1995).

Para falar a verdade, nós, aqui da Contra-Relógio, estamos mais interessados no cinema de maratona – obras que recorrem às corridas para desenvolver personagens singulares em suas tramas – do que em varar madrugadas sentados numa poltrona.

Com vocês, os vencedores do nosso próprio Oscar.

 

MELHOR TRILHA SONORA

ROCKY (Rocky, EUA, 1976)

Quem corre: Rocky Balboa (Silvester Stallone), um boxeador da Filadélfia.

Por que corre: Para ganhar condicionamento físico e espairecer

Onde corre: Principalmente pelas ruas da Filadélfia

Distância: 10 km

Melhor cena de corrida: Quando Rocky consegue completar seu rigoroso treino nas escadarias do Museu de Arte da Filadélfia

Ok, Rocky Balboa é um lutador, mas algumas das cenas mais lembradas de toda a série dos filmes trazem o protagonista correndo no embalo de canções que viraram ícones de superação esportiva – (ex. “Eye of the Tiger”, do The Survivors). Isso acontece porque nas tramas os treinos de corrida do boxeador funcionam como uma espécie de indicador de sua forma física. Como no Rocky original, em que ele primeiro desiste, decepcionado, de seu treinamento nas escadarias do Museu de Arte da Filadélfia, para depois completá-lo, triunfante, ao som de “Gonna Fly Now”. É a transformação do esportista comum em um campeão pela sua determinação. O local até hoje atrai milhares de fãs de Sylvester Stallone e seu mais famoso personagem para fotos. É também no topo da escadaria do museu que uma estátua em homenagem a Balboa é erguida no terceiro filme da série, que traz mais cenas clássicas de corrida – como os treinos na praia com Apollo “Doutrinador” Creed, o ex-rival que o ajuda a preparar-se para a luta em que tentará reaver seu cinturão. Os esforços nas cenas de ação eram tão intensos que levaram Stallone a parar de fumar durante a gravação de Rocky para ganhar fôlego.

 

MELHOR ATOR

DUSTIN HOFFMAN – MARATONA DA MORTE (Marathon Man, EUA, 1976)

Quem corre: Thomas Babbington Levy (Dustin Hoffman), estudante de pós-gradução em História da Universidade de Columbus

Por que corre: Na primeira metade do filme, para treinar para maratonas e esquecer o suicídio do pai. Depois, pela própria vida.

Onde corre: Nova York (EUA)

Distância: Maratona

Melhor cena de corrida: São duas, na verdade. A de abertura, com closes da sombra de Babe enquanto ele corre e de seu surrado Adidas; e a em que os capangas do vilão nazista perseguem o protagonista, que foge descalço por avenidas e quebradas na madrugada nova-iorquina.

Para entrar na pele de Thomas Babbington Levy (Babe para os amigos), um corredor obsessivo que busca nas longas corridas diárias alívio para as lembranças retumbantes do suicídio do pai, Dustin Hoffman perdeu seis quilos e corria seis quilômetros por dia como preparação. Conta o produtor Robert Evans que o ator corria ao menos um quilômetro antes de gravar as cenas de ação: “Hoffman nunca precisava fingir que estava sem fôlego – ele realmente estava”. O esforço foi recompensado com uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator em Drama e um filmaço Policial de tramas surpreendentes. Em uma Nova York assolada pelas temperaturas escaldantes e caóticas manifestações populares – como uma greve de padeiros que deixa os moradores sem pão por semanas –, Babe concentra todos seus esforços em honrar a memória paterna com sua tese de doutorado e em treinos rigidamente cronometrados para conseguir completar uma maratona. Até que o irmão mais velho vem ao seu encontro – e traz em seu encalço toda sua teia de relações exclusas, que inclui a disputa por diamantes, confrontos com agentes secretos e até um veterano nazista inspirado em Joseph Mengele.

 

MELHOR ATOR COADJUVANTE.

MICHAEL CERA – JUNO (Juno, EUA, 2007)

Quem corre: Paulie Bleeker (Michael Cera), estudante do ensino médio da Dancing Elk High School

Por que corre: Talvez por esporte, talvez nem mesmo ele saiba

Onde corre: em Dancing Elk, uma cidade ficticia em Minnesota (EUA)

Distância: 400 metros rasos

Melhor cena de corrida: Bleeker correndo pelas arquibancadas do estádio da escola em direção à maternidade, logo após bater o recorde local dos 400 metros

Adolescente desligado, apaixonado por balas Tic-Tac sabor laranja e por sua colega de classe, Paulie Bleeker é a estrela dos Condores, a equipe de corrida de sua escola. Na noite em que encontra a amiga para supostamente assistirem A Bruxa de Blair, ele é seduzido pela garota e perde a virgindade. A trama realmente começa quando, semanas depois, Juno MacGuff (a verdadeira protagonista) aparece grávida na porta da sua casa. As corridas de Bleeker e sua equipe passam, então, a ter uma função temporal no filme, indicando as passagens entre as estações e os estágios da gravidez de Juno. Indicado para o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme e vencedor do Oscar de melhor roteiro original, Juno foi um sucesso estrondoso, colocando Michael Cera sob os holofotes de Hollywood (foi eleito o melhor ator com menos de 30 anos pela Entertainment Weekly) e transformando o uniforme bordô dos Condores em um objeto cult entre os fãs, sendo vendido em sites da Internet. Mais do que merecido: com Paulie Bleeker, Cera construiu um dos personagens coadjuvantes mais bacanas dos últimos tempos.

 

MELHOR COMÉDIA

NOS TEMPOS DA BRILHANTINA (Grease, EUA, 1978)

Quem tenta correr: Danny Zuko (John Travolta), o líder da gangue dos T-Bird da Rydell High School

Por que tenta correr: Para impressionar o amor de sua vida

Onde tenta correr: na pista do colégio, na Califórnia (EUA)

Distância: qualquer uma que não requeira muito esforço

Melhor cena de corrida: As confusões de Danny durante os treinos da equipe do colégio

Cigarros, bebida, rachas de carro… O badboy Danny Zuko deixou todos os seus vícios em segundo plano e foi às pistas para provar seu valor à Sandy (Olívia Newton-John). O esforço durou menos do que resolução de ano novo, mas valeu algumas cenas hilárias do rockabilly tentando conciliar os treinos da equipe de atletismo da escola com seus hábitos nada saudáveis e o penteado turbinado à brilhantina. Se não conseguiu chamar a atenção da amada pelo desempenho, Danny alcançou o objetivo ao se enrolar com as barreiras na pista e ir ao chão (advinhe quem vai socorrê-lo?). Indicado para o Oscar de melhor canção original e em cinco categorias do Globo de Ouro, incluindo melhor filme de Musical e melhor ator para Travolta. Embora os personagens sejam amigos de colégio (e tenham, supostamente, em torno de 18 anos) a maioria dos atores já estava bem longe da adolescência quando participaram do filme – John Travolta, por exemplo, tinha 24 anos, e Olívia Newton-John, 29.

 

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

 

FILHOS DO PARAÍSO (Children of Heaven, Irã, 1997)

Quem corre: Ali (Amir Farrokh Hashemian) e Zahra Mandegar (Behare Seddiqi), estudantes do ensino fundamental

Por que correm: Para esconder dos pais um segredo

Onde correm: Pelas ruas de Teerã (Irã)

Distância: Revezamento

Melhor cena de corrida: A corrida final, em que Ali tenta resolver toda a encrenca em que se meteu.

Corridas de revezamento baseiam-se na determinação de cada um dos corredores em dar tudo de si e na cumplicidade entre eles para atingir o objetivo do grupo. Ambos os ingredientes estão presentes nas peripécias de Ali, de 9 anos, e sua pequena irmã Zahra quando o mais velho perde os sapatos da caçula. De uma família pobre que passa por dificuldades financeiras, os dois escondem dos pais o ocorrido e, para irem a escola, passam a revezar o único par de tênis infantil que restou na casa. Acelerando pelas estreitas ruas dos subúrbios de Teerã, aos trancos e barrancos, conseguem manter o segredo entre eles. Até que Ali convence seu professor de educação física a inscrevê-lo como representante da escola numa corrida de quatro quilômetros. Mas a vitória não interessa ao garoto. Ele quer, sim, é o prêmio destinado ao terceiro colocado: um par de tênis novos. Um dos melhores filmes iranianos da década de 90, a época de ouro do cinema local, Filhos do Paraíso foi indicado para o Oscar de Melhor filme estrangeiro em 1999. Na versão original, o epílogo informa que Ali viria a se tornar um corredor de grande sucesso internacional.

 

MELHOR ATRIZ

FRANKA POTENTE – CORRA LOLA, CORRA (Run Lola Run, Alemanha, 1998)

Quem corre: Lola (Franka Potente), uma garota punk de cabelos laranja.

Por que corre: Para salvar a pele do namorado que perdeu dinheiro de um gângster

Onde corre: pelas ruas de Berlim (Alemanha)

Distância: 5.000 metros

Melhor cena de corrida: O filme todo, praticamente.

Nenhum outro personagem do cinema conseguiu manter o ritmo de corrida imposto por Lola durante todo este clássico do cinema alemão. A performance da punk alaranjada nos 20 minutos que tem para impedir o amado de se meter em mais uma enrascada é digna de recorde mundial em provas de fundo. Tudo começa quando seu namorado, Manni, perde no metrô 100 mil marcos alemães do gângster para quem trabalha. Ele liga para Lola e dá o ultimato: se ela não aparecer com a quantia em 20 minutos, ele irá praticar um assalto. A epopéia insana pelas ruas de Berlim repete-se por três vezes, já que nas primeiras tentativas algo sai errado, impedindo a protagonista de cumprir sua missão – mas o intuito de salvar o amor de sua vida é tamanho em Lola que até voltar no tempo se torna possível. Vencedor da escolha do público no Sundance Festival na categoria Cinema Mundial, foi descrito pelo crítico do New York Yimes, Peter Rainer, como “tão rápido quanto uma bala perdida”.

 

MELHOR FILME

CARRUAGENS DE FOGO (Chariots of Fire, Reino Unido, 1981)

Quem corre: A equipe de atletismo olímpica britânica, liderada por Harold Abrahams (Bem Cross) e Eric Liddell (Ian Charleson)

Por que corre: Para derrotar a favorita equipe americana, pela fé ou por eles mesmos

Onde corre: Na Escócia, na Inglaterra e na França, durante os Jogos Olímpicos de Paris, em 1924

Distância: 100, 200 e 400 metros rasos

Melhor cena de corrida: Difícil escolher tamanha é a fartura de momentos clássicos, mas a seqüência de abertura, com os atletas correndo na praia ao som da música-tema, é especialmente inspiradora.

Fotografia, roteiro, direção, trilha sonora: tudo encaixa formidavelmente no grande épico dos filmes de corrida e corredores. Carruagens de Fogo retrata a história da equipe britânica de atletismo na Olimpíada de 1924, em Paris, a partir das experiências pessoais de suas maiores estrelas: Harold Abrahams e Eric Liddell, que impuseram derrotas surpreendentes aos favoritos atletas americanos nos 100 e 400 metros, respectivamente. Abrahams, judeu, vê na medalha de ouro o caminho mais rápido para ganhar respeito junto à discretamente preconceituosa elite inglesa. Liddell, cristão, encara seu dom como um presente divino e usa as corridas para pregar sua crença. Os figurantes que aparecem como corredores receberam o triplo do valor usual devido aos dias extremamente quentes e ensolarados das filmagens. Ganhou quatro Oscar, incluindo o de melhor filme, e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Baseado em fatos reais, o filme abusa da licença artística em um de seus momentos emblemáticos: não foi Abrahams, mas sim Lord Bughley (que no filme aparece como Lord Lindsay) o primeiro homem a circundar os 367 metros do pátio da Grande Corte, em Cambridge, durante os 43 segundos de duração das 12 baladas do relógio ao meio-dia. A decisão do diretor David Puttnam fez com que Bughley o proibisse de usar seu nome verdadeiro na obra.

 

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