Para unir uma viagem de férias com parentes e amigos a uma maratona, procurei na internet as (poucas) alternativas disponíveis para o mês de janeiro. Rapidamente surgiu a opção ideal: a Maratona de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A prova parecia ser boa, os custos da viagem eram aceitáveis e Dubai tinha potencial turístico para contentar a todos.
Após comprar a passagem e reservar hotel e carro pela internet, fiz a inscrição de todos da família para as provas. Além da maratona, ocorrem no mesmo dia uma prova de 10 km e uma family run de 3 km.
Apesar da grande quantidade de informações disponíveis na internet, ir para um lugar desconhecido, com usos e costumes diferentes dos ocidentais, causa um pouco de preocupação. Contudo, depois de estar lá por alguns dias, nos sentimos totalmente seguros e não tivemos dificuldades para treinar, passear, se alimentar e fazer compras.
Chegamos em Dubai uma semana antes da prova, disputada em 25 de janeiro, uma sexta-feira, o dia de descanso semanal dos islâmicos. Houve tempo suficiente para nos recuperarmos da longa viagem (14 horas de voo) e para adaptar o corpo à diferença de seis horas no fuso horário. Reservei o primeiro treino para verificar qual o melhor caminho do hotel até a largada da maratona. Devido a algumas obras na área e a ausência de calçadas em algumas ruas, o caminho mais curto teve que ser descartado, sendo substituído por outro um pouco mais longo, porém mais seguro.
A largada e a chegada ficam em frente ao prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa, que é uma das principais atrações turísticas de Dubai. Recomendo ficar em algum dos hotéis situados num raio de 3 km do edifício, o que possibilita ir a pé para a prova e também alguns treinos no Safa Park, um bonito parque público ao redor do qual existe uma larga calçada com 1.450 metros de comprimento com piso excelente e quase toda sombreada. Muita gente caminha e corre nesse local; a maioria dos homens e mulheres correm com roupas "normais", porém vi algumas mulheres com o xador e niqab (trajes femininos islâmicos, geralmente da cor negra, que só deixam parte do rosto à mostra).
A entrega do kit ocorreu em um hotel recém-inaugurado na mesma região. Tudo fácil e organizado, porém sem feira ou qualquer produto da maratona à venda.
COMO NA PISTA DE ATLETISMO – O clima nessa época do ano é muito agradável em Dubai, com temperaturas ao redor de 15°C durante a noite, subindo até os 27°C quando o sol está mais forte. Tivemos sorte no dia da maratona. Surgiu um nevoeiro que aumentou a umidade do ar e só permitiu que o sol começasse a brilhar após as 9 horas. Penso que esta deve ser uma das únicas maratonas que permitem correr em uma boa temperatura e depois ir para a praia no mesmo dia.
O percurso merece destaque: totalmente plano, sem qualquer subida ou descida, com o piso perfeito, e sem a habitual inclinação lateral das ruas para escoamento de água, desnecessária devido à quase total ausência de chuvas em Dubai. Para tornar a prova ainda mais rápida, há poucas curvas, só duas fechadas e mais algumas suaves. Existem dois trechos retos de 12 e 13 km paralelos à praia. A sensação é quase a mesma de correr em uma pista de atletismo de boa qualidade.
O abastecimento também é ótimo, abundante e fácil de memorizar: água em garrafas a cada 2,5 km desde o km 5 até o km 40 e, além da água, isotônico em garrafas, esponjas, assistência médica e banheiros a cada 5 km.
No dia da prova, cheguei sem dificuldades ao local da largada, entrei na baia fechada, selecionada previamente pelo tempo estimado de conclusão, e, sem apertos ou empurra-empurra, me posicionei próximo ao local reservado para os atletas de elite. Aproveitei o tempo antes da largada para procurar algum brasileiro, mas não encontrei. Após a largada, pontual e sem atropelos, ainda no primeiro quilômetro, avistei um atleta com a Bandeira do Brasil estampada nas costas da camiseta. Começamos a conversar e descobrimos que o ritmo pretendido na primeira metade era o mesmo, resolvemos então correr juntos até onde fosse possível. Infelizmente já no km 15 o meu novo amigo, Guilherme Gaia, de São Paulo, teve que fazer um pit stop não programado em um banheiro químico. Mas, como ele perdeu pouco tempo, me alcançou novamente no km 22.
META SUB 3H – Até esse momento, estávamos mantendo um ritmo suficiente para terminar a prova abaixo de 3 horas, que era a meta do Guilherme e, no meu caso, apenas um sonho, já que fiquei um mês sem treinos de corrida em dezembro, devido a uma inédita e persistente contusão no quadril.
Após mais um quilômetro correndo juntos disse a ele que eu não estava mais conseguindo manter o ritmo, e nos despedimos novamente. Passei então a administrar o esgotamento típico do maratonista que faz a primeira parte da prova mais rápido que o seu condicionamento permitiria, e resolvi caminhar por alguns metros nos kms 30 e 35, aproveitando para tomar nestes dois postos uma garrafa inteira de isotônico.
Consegui terminar a prova em 3:05:33, quinto lugar na faixa etária de 50 a 54 anos, um tempo bom, considerando meu condicionamento, porém lamentando a oportunidade perdida, já que as condições da prova eram perfeitas para se obter um recorde pessoal. Logo após a chegada encontrei o Guilherme, que terminou em 3:03:44, um pouco acima de seu objetivo.
Dez brasileiros completaram a Maratona de Dubai, 30 concluíram a de 10 km e mais 17 fizeram a prova participativa de 3 km, sendo que dez desses pertenciam ao nosso grupo de viagem.
ALTA PREMIAÇÃO – A participação dos atletas de elite é um espetáculo à parte, certamente atraídos pelas polpudas bolsas e pela premiação em dinheiro. São US$ 200 mil para o primeiro colocado masculino e feminino, US$ 80 mil para o segundo e assim segue até o prêmio de US$ 8 mil para o décimo. Há ainda um bônus de US$ 100 mil para a quebra do recorde mundial.
A prova foi dominada pelos etíopes, tanto na corrida masculina quanto na feminina; entre os cinco primeiros homens só o quinto era do Quênia, todos com tempos abaixo de 2h05. Entre as mulheres, a Etiópia ficou com as sete primeiras posições, com a vencedora completando em 2h23 (veja os resultados completos na seção de Notas nesta edição).
Recomendo fortemente essa maratona para quem quer correr no exterior, uma vez que a prova é quase perfeita e ótima para resultados rápidos. Os únicos pontos fracos são a falta de uma feira pré-prova, a ausência de premiação na faixa etária e o surpreendentemente modesto abastecimento no final da corrida.
O turismo também é muito interessante, com ótimas atrações: subir no mirante situado no 124º andar do Burj Khalifa e conhecer o shopping Dubai Mall que faz parte do mesmo complexo; fazer um safári pelo deserto com jantar e passeio de veículo 4×4 pelas dunas, e aproveitar as praias de águas cristalinas. Em Abu Dhabi, que fica a uma hora e meia de carro, a Grande Mesquita e o parque Ferrari World, que tem a montanha russa mais veloz do mundo, são excelentes opções.
*João Theoto Jr. é assinante de Jundiaí-SP