Com a presença de atletas de primeira linha, as expectativas para a Maratona de Londres, que aconteceu no dia 22 de abril, eram as melhores possíveis. Na largada estariam dois atletas sub 2h04 e dez abaixo de 2h06. O brasileiro Marilson Gomes dos Santos, que foi 4º no ano passado e fez em Londres sua melhora marca (2:06:34), tinha o 11º melhor tempo do grupo, que contava com a presença do atual campeão em Londres, o queniano Emmanuel Mutai, os recordistas mundiais de maratona e de meia, o queniano Patrick Makau e o etíope Tsegaye Kebede, além do também queniano Wilson Kipsang, campeão da Maratona de Frankfurt em outubro do ano passado, com 2:03:42, apenas 4 segundos mais lento que o recorde mundial, de Makau (2:03:38).
Com quatro nomes sub 2h20, a disputa entre as mulheres também prometia. E a queniana Mary Keitany, recordista mundial de meia-maratona e campeã em Londres 2011, já tratou de avisar que não cometeria o mesmo erro de Nova York no ano passado, quando assumiu um ritmo alucinante na prova, abrindo grande vantagem das adversárias, e acabou pagando o preço no final, perdendo a liderança e a segunda posição ao final.
Com esse cenário todo favorável, havia a expectativa de recorde mundial, especialmente no masculino. A própria briga à parte dos atletas por uma vaga olímpica já favorecia marcas bem rápidas na disputa. Mas a prova foi aos poucos se mostrando não tão rápida quanto se imaginava. O pelotão dos líderes, com 11 atletas, se manteve compacto até a metade da prova, quando o queniano Wilson Kipsang resolveu apertar o passo, levando com ele os também quenianos Abel Kiriu, campeão mundial de maratona, e o etíope Feyisa Lilesa. Mas na passagem do km 35, Kipsang liderava sozinho, com 15 segundos à frente de seus perseguidores. A partir de então, a diferença só aumentou e o queniano cruzou a chegada no Palácio de Buckingham com 2:04:44, mais de 2 minutos à frente do compatriota Martin Lel (2:06:51) e apenas 4 segundos acima do recorde do percurso londrino. Na 3ª posição, ficou o etíope Tsegaye Kebede (2:06:52).
Entre as mulheres, Mary Keitany travou um duelo com a compatriota Edna Kiplagat e definiu a prova nos últimos 3 km, vencendo com mais de um minuto de diferença. Keitany cruzou a linha de chega com 2:18:37, estabelecendo seu recorde pessoal, o recorde queniano para os 42 km e também a terceira melhor marca do mundo na maratona feminina, atrás somente da britânica Paula Radcliffe e da russa Liliya Shobukhova. Kiplagat ficou em 2º lugar, com 2:19:50, seguida da etíope Priscah Jeptoo, com 2:20:14.
Entre os brasileiros, se para Solonei Rocha da Silva a disputa em Londres valia uma vaga nos Jogos Olímpicos, para Marilson, que já estava dentro por uma regra estabelecida pela CBAt, a prova londrina valia como uma confirmação moral da vaga, já que o brasileiro havia falhado na sua primeira tentativa (antes de ser anunciada a nova regra) para obtenção da qualificação, em Chicago. Além da ratificação do índice, se as condições fossem favoráveis, o brasileiro tentaria o recorde sul-americano, que pertence a Ronaldo da Costa (2:06:05 em Berlim 1998).
Marilson correu conforme a determinação de seu técnico, Adauto Domingues, no segundo grupo de coelhos, programados para passar a meia-maratona no tempo de 1h03. Em ritmo de recorde pessoal até o km 30 (com passagem nos 21 km para 1:03:11), a grande dificuldade para o brasileiro veio na segunda metade da prova, quando o vento contra começou a pesar. Mesmo assim, ele terminou em 2:08:03, na 8ª posição, ratificando assim o índice olímpico com sua segunda melhor marca da carreira.
SONHO ADIADO. Campeão da maratona dos Jogos Pan-americanos de Guadalajara 2011, Solonei Rocha da Silva apostou em Londres para tentar carimbar seu passaporte. Convidado pela organização após seu resultado na Maratona de Pádova de 2010, na Itália, quando fez 2:11:32 e conquistou o índice para a disputa pan-americana, Solonei não teve tanta sorte em solo londrino e acabou ficando fora da Olimpíada.
Sentindo o vento contra na segunda metade, o brasileiro, que se manteve dentro do índice até o km 21 (1:05:42), não conseguiu manter o ritmo que precisava e viu seu sonho olímpico adiado. "Eu estava correndo forte. Fiz de tudo, mas não consegui manter, em função do vento." Solonei, que completou em 2:14:57, era coletor de lixo e tem apenas 4 anos dedicados profissionalmente à modalidade.
"Vou ter que segurar a tristeza, mas tenho fé que futuramente ainda vou colher grandes frutos. O que está acontecendo comigo hoje demora de 6 a 7 anos para acontecer com os atletas profissionais. Fico chateado por já ter conquistado alguns títulos importantes e até marcas que me credenciaram a entrar aqui na Maratona de Londres. Mas vou torcer pelos brasileiros que vão estar aqui representando nossa bandeira."
INSCRIÇÃO DIFÍCIL. Diferentemente das grandes maratonas nos Estados Unidos, como Disney, Nova York e Chicago, e também algumas da Europa, como Paris e Berlim, a de Londres, apesar dos seus 37 mil inscritos, está longe de ser uma prova popular entre os brasileiros. Primeiro pela dificuldade de inscrição, possível apenas nas agências oficiais e com a obrigatoriedade de fazer o pacote completo para obtenção da inscrição.
Ao contrário da Maratona de Nova York, em que a quantidade de vagas destinadas aos estrangeiros contempla metade do número de inscritos, na de Londres as coisas são um pouco diferentes. Ainda que a procura e desejo de fazer a prova em solo londrino, até para completar o sonho das cinco Majors (Londres faz parte das cinco grandes maratonas, junto com Nova York, Boston, Chicago e Berlim), a quantidade de vagas destinada ao Brasil é pequena. Quem quiser fazer a prova, tem que se candidatar muito tempo antes junto às agências oficiais.
Existe sim outras formas de conseguir a inscrição. Uma delas é pela loteria, da mesma forma que acontece na de Nova York, e a outra é correr arrecadando fundo para alguma instituição. Este ano, apenas 18 brasileiros estavam inscritos na prova (13 concluintes), contando com Marilson e Solonei. Ainda que pesem todas as dificuldades de correr em Londres, a grande maioria opta pela prova para completar o tour pelas cinco maiores.
Prova bem festiva, com muita gente fantasiada, público torcendo do começo ao fim, Londres com certeza oferece um capítulo à parte quando comparada às outras Majors, principalmente nesta época, em que a cidade se preparou da para receber daqui a alguns meses os Jogos Olímpicos. Quem optar por essa maratona, pode ter a certeza de que fará um tour inesquecível pelos principais pontos turísticos da cidade e que terá torcida do começo ao fim.
A prova larga às 9h45 no Greenwich Park, em três diferentes pontos, como em Nova York (mas sem ondas). Faz um uma volta pela cidade, passando pela famosa Tower Bridge (marca dos 20 km), a roda bem gigante London Eye, o Big Ben e outros pontos, chegando tendo às costas o imponente Palácio de Buckingham.