Que ninguém duvide: respirar corretamente durante a atividade física reduz a freqüência cardíaca, aumenta a eficiência cardio-respiratória e ajuda a melhorar o desempenho. Nesse sentido, respirar pelo nariz sempre foi tudo de bom. Ao contrário do que ocorre com a respiração oral, além de alertar o sistema imunológico sobre a presença de gases perigosos, o ar que passa pelo nariz chega aos pulmões filtrado, umidificado e com sua temperatura ajustada, prontinho para ser rapidamente convertido em energia. Infelizmente nem sempre é possível respirar dessa maneira o tempo todo.
A válvula nasal é a passagem mais estreita do nariz, contribuindo com aproximadamente 50% da resistência oferecida à passagem do ar durante o trato respiratório. A partir da descoberta de que mesmo pequenas alterações na sua abertura proporcionavam mudanças significativas no fluxo de ar, vários dispositivos foram inventados tanto no sentido de tentar alargá-la como para evitar que se feche durante a inspiração. Em meio a tanta criatividade – até clipes de prender papel foram entortados na tentativa de cumprir a missão! -, dois tipos de dilatadores se destacaram.
POR DENTRO OU POR FORA? A ESCOLHA É SUA. Inventado por Bruce Jonhson, o tipo "Breath Rigth" é um dilatador tipo externo. Fixado horizontalmente à pele do dorso do nariz, consiste de uma estreita tira adesiva que contém duas lâminas paralelas de plástico. Indo de uma asa à outra do nariz e atuando como molas, a finalidade dessas tiras é evitar que as abas das narinas se fechem. É descartável e produzido em tamanhos variados. Embora exista um modelo impregnado com mentol, os fabricantes afirmam que seus produtos não contêm qualquer droga ou princípio ativo, sendo sua ação apenas mecânica, não química.
Criado pelo sueco Björn Petruson, o tipo "Nozovent" é um dilatador tipo interno. Melhor seria dizer-se semi-interno, já que fica parcialmente para fora. Confeccionado em silicone e em vários tamanhos, quando dobrado e posicionado na cavidade nasal, age como se fosse uma alavanca, empurrando simultaneamente as duas asas nasais para fora. Embora possa ser reutilizável, após três meses de uso diário perde o efeito mola e precisa ser substituído.
Até de abril de 2006 haviam sido publicados mais de 60 estudos científicos sobre os vários dilatadores nasais. Muitos foram feitos em pacientes, outros em pessoas saudáveis, de diferentes raças, em descanso e durante exercício, antes e depois de descongestionamentos nasais. Em todos esses trabalhos foram consideradas tanto as sensações subjetivas dos voluntários como feitas medições objetivas das áreas transversas mínimas de suas cavidades nasais.
Com a dificuldade de comparar resultados sendo reduzida tanto graças ao uso de aparelhos modernos como pela utilização de protocolos padronizados, parte dos estudos voltou-se para a obtenção de dados físicos. Em trabalhos dessa natureza, onde o colapso (fechamento total) da válvula nasal durante a inspiração é geralmente parte do problema, os parâmetros de inspiração nasal dão as informações mais importantes.
No entanto, ao considerarem as necessidades específicas dos atletas, 13 estudiosos resolveram ir mais longe nas suas pesquisas. Pensando em quem pratica atividade física, eles definiram não a válvula nasal em si, mas sim a freqüência cardíaca e o consumo de oxigênio como sendo os principais fatores a serem analisados. São esses os trabalhos que nos dizem respeito mais diretamente.
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS. Doutora do Departamento de Otorrinolaringologia do Kungsbacka Hospital, na Suécia, Eva Ellegard, ela própria uma pesquisadora profundamente interessada no assunto, reuniu no seu mais recente estudo todos os achados científicos apontados pelos diversos cientistas e publicados até abril de 2006. Do total de 138 trabalhos analisados, 46 foram por ela classificados como direcionados aos praticantes de atividade física, sendo que todos foram feitos pelos 13 cientistas anteriormente citados. À luz de tão expressivo cruzamento de dados, as observações da Dra. Eva têm, portanto, incontestável base científica.
A maioria das pessoas troca a respiração de nasal para oronasal (boca+nariz) tão logo o exercício atinge determinada intensidade. Ainda assim, de 40 a 57% da respiração continuam sendo feitos pelo nariz. Nos esportes de contato, onde os protetores bucais são obrigatórios, tais números tornam-se ainda mais significativos. Durante o exercício, com os músculos nasais operando a válvula, o efeito prático adicional dos dilatadores mecânicos são menores que na situação de repouso. "Entretanto, frente a aumentos de carga, ambos os tipos de dilatador podem fazer com que a respiração exclusivamente nasal seja sustentada por mais tempo. Quando a intensidade do exercício por fim obriga à troca, a melhora na parte nasal permite comprovar pequenos aumentos de rendimento em alguns poucos casos. Nos demais não acontece absolutamente nada", afirma Dra. Eva em seu extenso trabalho.
De grande relevância para os atletas, o consumo máximo de oxigênio foi medido em diversos desses estudos. Por depender de fatores genéticos, treinamento e tipo de exercício praticado, varia de pessoa para pessoa e não se pode esperar que mude pela simples e pura dilatação nasal. Em apenas um dos testes, ao ser usado o dilatador externo, a ventilação melhorou e o consumo submáximo de oxigênio se reduziu. O fato se deu quando o exercício era feito em certa intensidade, acontecendo queda semelhante nos batimentos cardíacos. Em todos os demais testes nada houve a esse respeito. "A freqüência cardíaca durante o exercício não mostra alterações nem quando se compara o uso do dilatador nasal com a aplicação de um pregador nasal. Idêntica reação aconteceu entre indivíduos que haviam sentido maior facilidade em respirar pelo nariz ao usar dilatadores externos placebo em situação de repouso", diz Dra. Eva.
DIRETO AO PONTO. Por se tratar da especialista que é, a Dra. Eva jamais poderia deixar de ser consultada pela "Contra-Relógio" nesta matéria. A respeito do uso específico de dilatadores nasais por corredores, fizemos a ela duas perguntas diretas e objetivas.
Conquanto considerasse a segunda irrespondível, à primeira – Adesivos nasais podem aumentar o desempenho dos corredores? Quando, como e por que? – nos respondeu que o trabalho mais interessante feito a respeito indica uma possibilidade de melhora de 3%. Complementa a resposta dizendo ser muito importante observar que há diferenças consideráveis entre os indivíduos e a forma como funcionam suas respectivas aberturas nasais. Se elas colapsam na inspiração forçada, e se o dilatador oferece resistência a esse colapso, é possível que a pessoa se beneficie com o uso.
Publicado em 2004, o trabalho citado pela Dra. Eva Ellegard foi feito pelos pesquisadores DJ Macfarlane e SK Fong. Com os testes feitos em pista, eles analisaram 30 estudantes chineses, todos homens, adolescentes e atletas. Quando comparado ao uso de placebos, a utilização de dilatador externo verdadeiro aumentou o pico aeróbio e proporcionou um ganho de 3% na velocidade da corrida, que foi medida em km/h. Os autores argumentam que os testes de campo (não laboratoriais) e a utilização de atletas proporcionaram resultados com menor variação intra-individual, o que para eles explica o fato de terem encontrado uma diferença tão pequena e ao mesmo tempo tão significante. Não houve nenhuma melhora durante o teste anaeróbio. Até o momento não se tem conhecimento de qualquer outro trabalho feito em bases semelhantes que confirme ou mesmo reproduza tal achado.
Na falta de polêmica e na sobra de controvérsia, considerando que os resultados obtidos até aqui com os dilatadores são individuais e se ligam a sutilezas como as descritas acima; que os três fabricantes consultados se furtaram a dar informações tanto sobre vendas como sobre as propriedades de seus produtos; que a Associação Brasileira de Rinologia não quis se manifestar a respeito; que vários médicos brasileiros evitaram discutir o assunto (um deles tendo inclusive trabalho científico já publicado); que voluntariamente apenas duas leitoras responderam à consulta feita na CR sobre suas experiências com os dilatadores (ambas positivas); que o investimento na compra de dilatadores é baixo e que os efeitos colaterais de seu uso são praticamente nulos (no máximo uma pequena irritação na pele do nariz), caso você realmente deseje de sua parte encerrar a questão, o melhor a fazer talvez seja você mesmo cuidar da própria experimentação. Nesse caso, na melhor das hipóteses você poderá virar um coelho. Na pior, um ratinho de laboratório. Seja como for, vá em frente. Crie sua polêmica.
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Muito interessante a matéria. Tenho a impressão que a minha válvula é preguiçosa. Tende a fechar quando em atividade física intensa e quando durmo. Concluí que vale a pena experimentar.
Aqui no Brasil é muito difícil achar um dilatador de uso interno, só achei o Respirin (2brasilshop.com.br e americanas.com).
No site amazon.com dos EUA tem vários modelos de dilatadores internos, que devem ser muito mais eficientes do que essas tiras.
A indústria só quer vender essas tirinhas externas, pq são descartáveis e dão lucro maior.
Alerta: Tomem muito cuidado com cirurgia plástica no nariz, que acabam com a função respiratória.
vou testar… tenho dificuldades em respirar,vivo com o nariz tapado, vou testar e depois comento…
Usei ontem para correr. Sempre faço o percurso de 4km no final de semana, e tenho dificuldade para respirar enquanto corro, pois, tenho desvio de septo… enfim… Ao colocar o Dilatado Nasal de uso externo, a mudança foi vista já de pronto! Nunca havia respirado tão bem em toda minha vida, não foi fácil acostumar, por isso iniciei a atividade física uma hora depois. Durante a corrida o meu rendimento foi maior, mas como eu não tenho este costume de respirar bem, tive que parar pois não conseguia controlar direito. Mas eu adorei e usarei para sempre!
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Retificando o que eu falei anteriom/e, as tirinhas “respire melhor” realm/e funcionam. O adesivo só dura 2 ou até 3 utilizações, depois disso, aprendi a reaproveitar as tirinhas, retirando os adesivos próprios das tiras e substituindo-os por fita crepre.
Comecei a usar com sucesso 2 conjuntos de tirinhas “respire melhor” ao mesmo tempo. Cada respire melhor contém 2 pequenos filetes plásticos, então sobreponha os 2 filestes, transformando-os em um filete duplo, e os cubra com fita crepe p/ não machucar o nariz.
Pegue outro respire melhor)já usado) e também repita a operação, fazendo 2 filetes duplos. Recorte 2 pedaços de fita crepe de cerca de 2,3cm, e grude em cada um deles a extremidade de cada filete plástico. Grude os 2 pedaços de fita crepe em cada aba do nariz, assim como se põe o respire melhor.
lexicon@bol.com.br
Já testei uma argolinha de silicone de uso totalm/e interno. Estes não prestam, pq eram grossas, e impediam a livre passagem do ar pelas narinas.
O que parece que funciona são os clipes nasais, pequenas válvulas que abrem internamente as abas nasais, ficando visível externamente apenas uma parte no meio da columela nasal(parte do meio)