O assinante Tadeu Guglielmo realizou um sonho, há quase dez anos, correr a Maratona do Himalaia, confira a história dele do sonho realizado em 2010:
POR TADEU GUGLIELMO
No dia 29 de maio de 2010 participei da Tezing Hillary Everest Marathon, a maratona mais alta do mundo.
A largada ocorre no campo de base número 1, a 5.440 metros de altitude, com ar “batizado”, e chegada em Nanche Bazar, a 3.440 metros de altitude, No meu caso, o mais difícil não foi terminar, mas sim começar…
Duas semanas antes da prova, os participantes estrangeiros (34 naquele ano) se reuniram em um hotel em Kathmandu, capital do Nepal. Dois dias depois, partimos em um “teco-teco” para Lukla, a 2.834 metros de altitude.
Aterrissamos com nossas tralhas no pequeno e perigoso campo de aviação existente no topo do Monte Lukla, no sopé do Himalaia, não sem um pouco de emoção: para aterrissar, o piloto aponta para uma rocha na cabeceira inferior da pista, levanta o bico no último minuto, tocando apenas com as rodas no chão. Depois, só deixa correr poucos metros na direção do paredão, na outra extremidade.
Dica para quem quiser dar uma chance ao risco: sente-se na janela no lado esquerdo para apreciar o Himalaia do ângulo mais impressionante.
Além dos corredores, nossa expedição era formada por 31 trabalhadores (guias sherpas, cozinheiros, carregadores, ajudantes, um chefe), quatro médicos e 14 animais.
Começamos a caminhar rumo ao Campo Base, no outro dia. Foi um repetitivo sobe e desce forçando a aclimatização e transportando apenas o necessário (a bagagem pesada era carregada pelos animais).
Algumas pessoas resistem menos que outras à diminuição do oxigênio.
Foi o meu caso. Tive momentos terríveis (dor de cabeça, falta de apetite, fadiga, enjoo, vômitos, diarreia, insônia, febre, inchaço……). Um pequeno movimento no saco de dormir já era o suficiente para o coração bater num ritmo furioso.
Tive também momentos deslumbrantes.
Os dias amanhecem claro, deixando à mostra os gigantes nevados. A vista era esplêndida, combustível perfeito para mais uma jornada. Outros destaques são as fascinantes aldeias sherpas e a cordialidade, a hospitalidade e simpatia deste povo que se curva e diz “Namaste” em todos os turnos, além dos mosteiros budistas espetacularmente localizados. Tudo isso proporciona uma experiência cultural tão memorável quanto o próprio Everest.
A mais alta montanha do mundo é chamada pelos tibetanos de Chomolangma e pelos nepaleses de Sargarmatha. Nos dois casos, o significado é o mesmo: “Aquela cuja cabeça toca o céu”. O nome mais popular entre nos é Everest, uma homenagem ao geógrafo britânico que primeiro mediu a altitude do pico.
A maratona é sempre realizada no dia 29 de maio, pois foi nesse dia, em 1953, que o sherpa Tenzing Norgay e neozeolandês Edmund Hillary conquistaram seu cume.
Naquele ano de 2010, 98 pessoas concluíram a prova. O primeiro colocado foi o nepalês Phurba Tamang, com o tempo de 3h41. No feminino, Ang Phuti, sherpa, com 5h08. Até a 27ª posição, só deu Nepal. O primeiro estrangeiro foi o indiano Shyam Keslav Singh, com 5h15.
Apesar da prova terminar com um desnível de 2.000 metros, tive a impressão que subi tanto quanto desci.
Além de todos problemas acima citados, ainda tive bolhas nos pés… Finaliza maratona foi mais uma questão de sobrevivência que uma competição. Ao terminar, tornei-me o primeiro sul-americano a completar essa prova na história. No geral, fui o 92º.
Depois da prova em Namche Bazar, fui caminhando para o hotel previamente reservado pela organização. Após um banho quente, deitei na cama com lençóis, fronha e edredom brancos e ainda consegui me manter acordado para pensar que o paraíso deve ser parecido com essa sensação e que tudo aquilo tinha “valido muito a pena”.
Novamente, tive momentos difíceis, mas ao mesmo tempo momentos deslumbrantes que ficaram para sempre!