No começo, eram só caminhadas curtas, depois mais longas, até que minha mulher Liz me falou do lançamento da equipe de corrida do Palmeiras. Por insistência dela, fui a um treino e a partir de então nunca mais deixamos de correr. Foram inúmeras provas de 5, 10 e 15 km (a primeira São Silvestre quase toda caminhando em 2h50), 21 km, até chegarmos aos 42 km.
Fizemos a Maratona de São Paulo 2010, depois a do Rio e a de Sevilha. Então os desafios foram aumentando: 3 participações na Maratona de Búzios por trilhas e montanhas, os 56 km da Two Oceans, 75 km da Bertioga-Maresias, duas vezes na Comrades (2014 e 2015). Neste ano, algumas meias, a Maratona do Vinho e a de SP, quando esticamos para 60 km e nos consideramos aptos a enfrentar a primeira ultra de 100 km.
E lá estávamos participando da 44ª edição da 100K del Passatore, na Itália, realizada entre os dias 28 e 29 de maio, com saída em Firenze ou Florença e chegada na cidade de Faenza. Passando por várias vilas medievais e construções seculares no meio do caminho. Por que 2 dias? Porque a prova tem início às 15 horas e como a maioria dos corredores completa em mais de 9 horas, então a chegada acontece durante a madrugada.
São 3 pontos de cortes – com tempos camaradas – já que o limite é de 20 horas para terminar os 100 km. Este ano largaram 3 mil e chegaram 2 mil. Existem inscrições na modalidade cadeirantes, deficientes físicos e visuais, caminhada nórdica e a corrida propriamente dita, que optamos.
Muitos participantes da terceira idade, entre eles um que me disse ser esta sua 20ª vez na prova. Exatamente às 15 horas, sob sol e calor de 30 graus, a largada. Caminhos maravilhosos, vistas incríveis (enquanto não escureceu), mas com muitas e fortes subidas, especialmente na primeira metade.
Alguns iam ficando pelo caminho, mas quando vi um cadeirante subindo o morro, apoiado por uma bike e movimentando apenas um braço, pensei: vou me queixar do quê?
Um grupo de amigos italianos que fiz na prova, me amimou quando eu mais precisava para reerguer a moral. Cantaram até Aquarela do Brasil, já que viram no meu numeral (453) a sigla "BRA", e não éramos muitos. Apenas eu, a minha esposa e outro corredor, que não chegamos a conhecer.
No meio do percurso (50 km), à noite, temperatura de 8 graus, em função da altitude. Prevenidos, levamos um corta vento para colocar, no alto da montanha. Nas barracas dos pontos de apoio (a cada 5 km), senhores e senhoras, os "nonos e nonas", faziam o trabalho voluntário de nos servir de comida a mais diversa e líquidos idem. Pessoas e momentos inesquecíveis.
Faltando 20 km, o cansaço bateu forte. Mas e o desejo de concluir? A lembrança dos treinos e de todos que torcem por você ajudavam a seguir em frente.
Enfim, mais uma cidade à frente, e desta vez é Faenza! Entramos na vilarejo e depois de uma curva o pórtico de chegada, com um cronômetro antigo. Terminei os 100 km em 12h41 e Liz em 16h37.
Mais informações em www.100kmdelpassatore.it . Leia também depoimento de Ely Behar sobre sua participação na prova, em 2008, em www.contrarelogio.com.br (basta colocar Passatore no campo "Pesquisar no site").
Luiz Carlos Clemente dos Santos é assinante de São Paulo