20 de setembro de 2024

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Notícias admin 12 de outubro de 2014 (0) (94)

#CORRONOESCURO

Muito se discute sobre as vantagens e as desvantagens na hora de optar por um período ou outro para correr, assunto que tende a parecer inesgotável. Algumas dessas teclas batidas à exaustão dizem respeito à melhor visibilidade de treinar à luz do dia – fica mais fácil ver os possíveis obstáculos, e ser visto mais facilmente por quem está dirigindo. E no quesito das vantagens da preparação física noturna, a campeã parece ser a incidência menor da poluição, sob a alegação de que a movimentação de carros é menor durante a madrugada e que, por isso, o ar estaria menos carregado de poluentes e de gás carbônico, expelido pelos veículos muitas vezes em grande concentração. Mas algumas pessoas simplesmente não funcionam no período da manhã. Se você é do tipo que não consegue dormir cedo e costuma ser mais ativo no período noturno, precisa conhecer o manifesto do movimento B-Samfundet (Sociedade B), porque provavelmente seu rendimento na corrida também seria maior nas altas horas. O B-Samfundet tem origem na Dinamarca. A tendência, criada em 2006, já foi introduzida na Noruega, Finlândia e um pouco mais timidamente na Grã-Bretanha. Com base em pesquisas científicas, a Sociedade B defende a tese de que cada indivíduo tem seu próprio ritmo biológico, uma espécie de "relógio interno", que é geneticamente determinado. Segundo esses estudos, uma "pessoa B" possui um ritmo interno de 25 a 27 horas, enquanto o de uma "pessoa A" tem um ciclo de 23 horas. As "pessoas B" são mais produtivas no final do dia e têm dificuldades de despertar de manhã cedo, que é quando as "pessoas A" são mais ativas. É verdade que a luta do movimento é contra a tirania da sociedade industrial, fazendo voltar o debate para a criação de uma comunidade de horários mais flexíveis, com maior equilíbrio entre trabalho e lazer – e melhor qualidade de vida. Portanto, se você sente culpa por treinar melhor à noite, readapte-se e seja feliz. O fato é que correr na rua é extremamente perigoso em qualquer horário, principalmente pela falta de respeito dos motoristas. Mas há outros pontos que se devem levar em consideração para praticar seu esporte preferido de acordo com seu ritmo biológico. A CR ouviu especialistas e corredores para colher dicas importantes que deixarão os treinos noturnos mais seguros e eficientes.

RELÓGIO BIOLÓGICO. Segundo o neurologista Oscar Bacelar, o relógio biológico individual deve ser levado em conta no momento de definir o horário da corrida. Para quem tem um nível de concentração maior à noite, o que certamente melhorará o desempenho, é importante ficar atento à rotina. "Um dos inconvenientes de exercitar-se mais tarde pode ser o do estresse do dia, acumulado durante o trabalho, já que o corpo passou por pelo menos 12 horas acordado e pode estar sobrecarregado pelos esforços físico e emocional dos afazeres diários", disse Bacelar. Para resolver esse problema, o neurologista recomenda encaixar a sessão de treinamento pelo menos três horas antes de dormir, ou isso pode atrapalhar ainda mais o sono. Ou pior, o acordar. "Mesmo quem tem um ritmo biológico noturno, acaba afetado pela liberação de hormônios durante o exercício, que proporciona uma descarga de substâncias animadoras no organismo, como a serotonina, que estimula a vigília, o alerta. O corpo pode ficar cansado, mas o sono pode ser mais superficial, porque diminui a quantidade de ondas lentas e de sono profundo, o chamado REM."

VISIBILIDADE. Muitas espécies de animais possuem aguçada visão noturna, mas a do ser humano é muito limitada, o que nos faz necessitar de aparatos, alguns bem sofisticados, para melhorá-la. Outros acessórios são bem simples e podem e devem ser usados, na opinião do maratonista e oftalmologista Vitor Luna Sampaio, que indica a aquisição de um bom par de óculos, seja para correr à noite ou durante o dia. "Enquanto o excesso de claridade agride a visão e pode ocasionar uma fadiga ocular, na obscuridade os olhos produzem sensações enganadoras. Por exemplo, uma luz imóvel pode parecer movimentar-se e balançar, formando largos arcos, enquanto uma luz em deslocamento pode dar a impressão de mover-se para um lado, quando na verdade está indo para frente", explicou.
Quem já tem problemas oculares deve redobrar os cuidados para correr. "O ideal é que o corredor com miopia não abra mão de correr com óculos especiais, para a correção do grau e a proteção contra a luz, o vento e os detritos", orienta o especialista. Já o astigmatismo, que induz a fotofobia, dá problemas de dia e à noite e, nesses casos, o indicado são óculos de lentes cambiáveis, para proteção contra a claridade e a correção das distorções de luzes noturnas, com as lentes amarelas. "É bom que o atleta escolha locais que já conheça, para evitar os buracos e outros obstáculos, o que ajuda a minimizar o perigo de lesões."
"Correr no contrafluxo também é indicado, porque se o motorista não vir o corredor, pelo menos ele vê o carro", disse Vitor. Mas aí entra o quesito proteção, já que correr contra o fluxo pode aumentar a possibilidade de poeira, pedrinhas e outros detritos – que são deslocados pela passagem dos automóveis – atingirem os olhos do corredor.

SEGURANÇA. Uma das preocupações da maratonista e matemática Bráulia Borges é com a segurança. Geralmente, por questões de disposição e também dos horários de trabalho, ela corre à noite. Muitas vezes, não consegue chegar a tempo de pegar o treino com a assessoria esportiva da qual faz parte e precisa cumprir sua planilha sozinha mesmo. "Quando corro sozinha, já é bem tarde. Nesses casos, fico atenta às pessoas ao redor e não levo nada de valor, uso apenas o frequencímetro."
Bráulia concorda que, infelizmente, existe um agravante no seu caso: a visão de sexo frágil, e de haver pessoas que aproveitam o fato de uma mulher sozinha, à noite, correr, muitas vezes, em locais desertos. Seja no Rio de Janeiro, onde mora, ou em outras cidades onde esteja, nas férias ou a trabalho, seu principal equipamento é a informação.
"É importante saber se é local iluminado e que não seja deserto. Também não devemos levar nada para chamar muita atenção e procurar permanecer na faixa destinada ao corredor, e não na rua, para evitar acidentes. Não uso nenhum equipamento diferenciado. As outras precauções que tomo são: não levar nenhum bem de valor, como celular ou algo que chame atenção, e aviso a pessoas da família que estou indo correr, o percurso que pretendo fazer e em quanto tempo devo retornar."

ALIMENTAÇÃO. A boa notícia para quem não consegue seguir os horários da manhã para cumprir os treinos é que se podem obter mais vantagens ao correr à noite no quesito nutrição. As sessões provavelmente serão depois do expediente e, com isso, haverá tempo de sobra para planejar a alimentação adequada. Vivian Ragasso, nutricionista esportiva do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte, é quem orienta.
"O ideal é ingerir carboidratos e proteínas, tanto antes quanto após as sessões. Supondo que a pessoa realizou um almoço equilibrado por volta das 12h e fez também um lanche da tarde às 15h, às 18h, antes de sair para correr, basta uma simples refeição com pão integral, rico em fibra, queijo branco magro, tomate, peito de peru, cenoura e beterraba ralada junto com uma fruta de baixo índice glicêmico, que pode ser maçã ou pera."
A nutricionista recomenda que após o treino, o corredor tente ir direto para o jantar. Nesse caso, a refeição deve conter uma carne magra (peixe ou filé de frango, sem ser frito ou empanado), além de uma porção de carboidrato, que pode ser obtido com batata cozida ou arroz. Para acompanhar, indica, ainda, "uma boa e grande porção de salada crua variada e legume cozido colorido".
Outra possibilidade seria jantar mais cedo. Nesse caso, Vivian sugere que o lanche seja "invertido", se no pós-treino o corredor incluir uma porção de leite ou iogurte, sem gordura, de preferência. "Caso o exercício dure mais de 90 minutos, talvez seja necessário incluir suplementação de carboidrato diluído. Mas a dose depende do objetivo de peso, performance e modalidade de cada um", alertou a especialista, ressaltando que o atleta não deve relaxar com o aporte hídrico ao longo de dia.

CLIMA. O treinador Marcus Peixoto de Oliveira, do Rio, orienta seus alunos a se preocuparem com a adequação das roupas usadas para o treino e a prestar atenção às informações sobre o clima, principalmente aqueles que acabam correndo em horários diferenciados aos que a assessoria dá apoio ao grupo.
A umidade do ar e a temperatura são fatores que devem ser levados em conta na hora de definir o horário para incluir o esporte na rotina. Os primeiros horários da manhã costumam ser os de temperatura mais amena e, portanto, os mais recomendados para exercitar-se. À noite, a umidade do ar também tende a estar baixa.
Marcus ainda ressalta ser fundamental que o corredor chame a atenção de quem passa pela rua, para evitar acidentes, já que é mais difícil de ser visto à noite. "Existem roupas, tênis e bonés feitos com tecido refletivo, desenvolvidos realmente com o intuito de chamar a atenção em locais mais escuros." Acaba sendo um equipamento necessário para quem corre mais tarde, para fugir do calor ou outras questões que envolvam trabalho e preferência, mas também para quem corre muito cedo e, no inverno, treina antes de o sol nascer.

EQUIPAMENTOS

Os safelights são indispensáveis pela alta luminosidade. Diferentemente das luzes de segurança que são comercializadas hoje em dia no Brasil, o atleta fica muito mais visível.
Óculos ganham armações mais leves e anatômicas e a tecnologia já permite que as hastes otimizem a aderência, à medida que se transpira, para garantir que a armação permaneça firme no lugar. Há também a opção de lentes duplas intercambiáveis que permitem se adaptar a qualquer condição de luz.
Grandes marcas já fabricam tênis equipados com tecidos refletivos, como a Nike (Lunarglide), Asics (modelos com tecnologia Lite-Show), Adidas (Adipure) e Mizuno (Wave Creation 14).

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