20 de setembro de 2024

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Sem categoria admin 10 de março de 2015 (0) (504)

Correr até passar mal?

Para se atingir um bom patamar de condicionamento físico, toda atividade deve ser executada adequadamente e de maneira planejada. A prática da corrida de forma intensa e prolongada acaba por fazer com que alguns adeptos do esporte passem dos limites que seu físico permite. Mais do que dores musculares e cansaço, ultrapassar os barreiras pode provocar mal estar constante e, às vezes, desmaios, enjoos, náuseas, incômodos estomacais e intestinais e especialmente vômito, durante ou pós treinos e provas. Não faz muito tempo, circulava pela internet um vídeo de Usain Bolt passando mal após um de seus treinos – e muito amador deve ter achado que então não era só com ele que o problema acontecia…
"Chegar à exaustão é comum em treinos onde são efetuados muito tiros. Os corredores podem apresentar sintomas de cansaço ou mal estar. Nesta circunstância é sugerido ao treinador analisar a situação do atleta e suspender a atividade", afirma Carlos Ventura, o Carlão, treinador de vários atletas de elite, inclusive José João da Silva, bicampeão na São Silvestre.
Já Jomar Souza, especialista em Medicina do Exercício e do Esporte, destaca que o vômito pós-exercício ocorre, geralmente, quando o corredor excede seu limiar anaeróbico. Para entender melhor o assunto, é necessário saber um pouco do metabolismo do corpo humano durante a atividade física.
Nos primeiros 30 a 60 segundos do exercício, o organismo utiliza o metabolismo anaeróbico – energia acumulada no músculo proveniente da quebra do ATP da creatinafosfato. Porém, essa fonte energética se esgota rapidamente, e logo o oxigênio passa a prover energia para o corpo – o que é chamado de metabolismo aeróbico. Ambos, então, começam a agir juntos e seus resíduos são liberados pela respiração.

ÁCIDO LÁTICO. Mas o metabolismo anaeróbico gera outro resíduo – o ácido lático. Quando o organismo atinge o limiar lático, ou seja, o limite aceito pelo corpo, geralmente por conta de uma atividade física prolongada e desgastante, o ácido lático não é corretamente eliminado, se acumula nos músculos e vai para a corrente sanguínea, deixando o sangue mais ácido, fenômeno conhecido como acidose metabólica. As náuseas e os vômitos são gerados justamente por essa acidose.
"Como o suco gástrico é ácido, o organismo elimina primeiro a acidez do estômago, o que é mais rápido, mas não combate o problema e apenas serve como um desagradável sinal de alerta; se persistir, o atleta continua vomitando e perde líquidos, potássio, magnésio, o que pode levar a uma desidratação", comenta Jomar.
O médico explica que quando o corredor chega ao ponto de vomitar é porque o esforço foi exagerado para o seu condicionamento físico ou houve uma estratégia de hidratação e alimentação inadequadas, ou, ainda, as duas coisas ao mesmo tempo. Durante a corrida, o fluxo sanguíneo passa a ser direcionado mais para pernas, pulmões, coração e cérebro. Estômago e intestino recebem menos sangue, o que retarda a digestão do alimento que ainda está ali e, dessa forma, o organismo provoca vômito, para eliminar aquele excesso.
Segundo Jomar, um episódio de vômito em prova ou treino não é algo preocupante, desde que não se torne frequente. "Quando o corredor está em treinamento, o objetivo é superar suas marcas e diminuir os tempos, por isso os esforços além do seu próprio limite podem acontecer. Porém, quando o vômito ocorre durante a competição, significa despreparo. Caso o problema volte a se repetir, recomenda-se que o indivíduo procure um médico do esporte ou um fisiologista para que exames complementares sejam realizados."

SINTOMAS PRÉVIOS. Jomar adianta que em casos de intolerância alimentar podem existir sintomas preexistentes, mas precisam ser investigados da mesma forma que outros problemas prováveis, e mais sérios, como refluxo gástrico, hérnia de hiato ou síndrome do cólon irritável, que causam náusea e diarreia, necessitando cuidado adicional para a prática do exercício. Dessa forma, problemas como gastrite, refluxo gastroesofágico e outras patologias intestinais – que podem ter sido a causa dos vômitos – precisam ser identificadas.
Estar bem alimentado e hidratado antes, durante e após a corrida é fundamental, como prevenção. De acordo com Jomar, se a origem for uma alimentação incorreta, com ingestão de alimentos de difícil digestão ou ricos em fibras ou gorduras, ou ainda estômago cheio, o acompanhamento de um nutricionista pode ajudar.

PLANILHA DE REFEIÇÕES. A nutricionista esportiva Simone Abreu, do Spaço Heloisa Rocha, lembra que o primeiro passo é estipular o horário dos treinos para que seja montada uma planilha de refeições pré-treino, baseadas no tempo de digestão que o atleta terá para dar inicio ao exercício.
"É preciso fazer uma investigação junto ao corredor para identificar os alimentos que ele já constatou na sua rotina alimentar que lhe causam má digestão e não incluí-los nas refeições pré-treino. No geral, uma refeição rica em carboidratos, com pouca gordura e proteína no dia anterior à prova é o mais indicado para armazenar energia. No dia, se o evento for pela manhã, o tipo de refeição pré-treino dependerá do tempo que o atleta terá para digestão", afirma a nutricionista.
A recomendação comum é a ingestão de água antes e durante a prova em pequenas quantidades para não causar refluxo, uma média de um copo pequeno a cada 30 minutos de atividade, a depender da temperatura ambiente. Quanto à ingestão de sólidos, Simone recomenda, de modo geral, que no caso de atividade pela manhã, um lanche mais reforçado, como um sanduíche de pão integral com claras de ovo mexidas.
"Se o corredor só tiver uma hora entre a refeição e a prova, terá de dar preferência a alimento líquido para facilitar o tempo de absorção. Um shake ou um suco de beterraba com espinafre aumenta a produção de óxido nítrico e melhora o rendimento. Quando as competições ultrapassarem 90 minutos de duração, o participante deverá fazer uso de repositores de eletrólitos e gel de carboidratos. Se a prova tiver duração de uma hora não serão necessários suplementos, somente a ingestão de água", orienta Simone Abreu.

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