Turismo e corrida de rua estão diretamente ligados. Principalmente hoje em dia, com diversas opções de provas tanto no Brasil quanto no exterior. Quem treina na USP em São Paulo ou no Aterro do Flamengo no Rio fica “cansado” de correr no mesmo lugar, quer lugares diferentes para, muitas vezes, surpreender-se com o percurso, desafiar-se. Agora, sinceramente, se muitas organizadoras de corridas deixam a desejar, a situação do turista é ainda pior.
Escrevo este texto de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. Domingo estarei, ao lado do Sergio Rocha e de mais quatro assinantes da Contra-Relógio, marcando ritmo na Meia-Maratona de Pomerode, a cidade mais alemã do Brasil. Região rica e bela, com diversas indústrias dos ramos têxtil, de metalurgia e de gastronomia. Como tenho viajado muito, resolvi vir de carro para trazer a família junto. Assim, fico ao lado de todo mundo e ainda posso visitar o amigo Caio Mandolesi e sua turma aqui em Jaraguá. Unindo corrida e turismo. Quem não gosta…
Porém, sinceramente, não é uma decisão fácil. Fazia quatro anos e meio que não dirigia pela Regis Bittencourt, a principal (e diria única) ligação viária de São Paulo com o sul do País. Tinha uma boa expectativa, mas agora, após quase oito horas de viagem (com duas crianças, fizemos algumas paradas, outras interrupções forçadas por trânsito), uma constatação: a rodovia não mudou nada nesses mais de 50 meses. Ou melhor, mudou: agora tem uma enorme quantidade de pedágios e placas informando que está sob concessão. Nem sei quanto gastei, já que tenho o sistema de cobrança eletrônica, mas passei por várias praças.
A rodovia continua bem ruim. Com caminhões fazendo barbaridade, rodando em velocidade muito acima da permitida, não há telefones de emergência, os trechos principais seguem sem duplicação (como a Serra dos Cafezais), buracos e asfalto gasto continuam por lá… Tem vários canteiros de obras, é verdade, mas sinto que estão lá apenas para mostrar serviço, passar a impressão de que o dinheiro do pedágio está sendo reinvestido. Com a privatização, achei que estaria bem melhor. Se pelo menos o dinheiro que o governo federal (não) gastava com a manutenção hoje estivesse sendo investido em saúde, educação ou esporte, eu ficaria mais realizado. Mas sabemos que não é bem assim. Distante disso.
A outra opção que teria, seria ter vindo de avião de São Paulo para Joinville ou Navegantes. Também não somos tratados como clientes ou, melhor, consumidores pelas companhias aéreas. Só números. Neste ano, só de viagens para correr e fazer a cobertura de provas tive problemas em voos para Foz do Iguaçu (Gol) e Florianópolis (Avianca). Para citar dois e não alongar a conversa. A situação é tão estranha que no último domingo, ao voltar do Rio, depois do Ultradesafio SP-Rio, quando o voo da Gol foi pontual, até estranhei. Como não dá para comemorar antes, mexeram na mala da Yara Achôa, aqui da Contra-Relógio, levando um perfume que tinha acabado de comprar.
Estou citando apenas alguns problemas, aéreos e terrestres. E há (muitas) falhas também nos hotéis e restaurantes. Chegamos muitas vezes em uma cidade para correr e não temos informações sobre onde comer, por exemplo. Poderia haver uma parceria (com indicações) entre as organizadoras de provas e as secretarias de Turismo, sejam municipais ou estaduais. E nos hotéis, então… No sábado passado, teve gente que ficou mais de quatro horas para fazer o check-in no Rio. Pediram desculpas depois, pagaram jantar para alguns, mas era um grupo relativamente pequento. Imagine quanto chegarem os turistas da Copa ou da Olimpíada.
Resumindo, o Brasil engatinha na área de turismo. E não vejo evolução, com exceções, é claro. Talvez esse seja o principal motivo que, ano após ano, principalmente nas maratonas, os brasileiros estejam correndo no exterior. Cada vez mais. Cresce o número de brasileiros em Buenos Aires, Chicago, Paris, Berlim, Amsterdã, Disney… enquanto está estagnado nas provas daqui. E, não tenha dúvida, esse fenômeno vai se transferir também para as meias-maratonas, distância “queridinha” dos corredores em todos os lugares. Também com exceções, mas somos melhores tratados fora do País tanto por quem organiza as corridas como por quem recebe. Por incrível que pareça. Corredores são ótimos turistas. Mas sofrem demais aqui em nosso amado Brasil.
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Essa é a nossa triste realidade, um estado paternalista e totalmente sucateado.
40 milhões de brasileiros recebem seu contracheque do governo, ou seja, 120 milhões dependem do governo para viver. Que recurso sobrará para pesquisa, educação e infra estrutura? Quando resolvem privatizar alguma estatal o esquemão toma conta, pessoas e apadrinhados enriquecem do dia para noite.
NÃO EXISTE TURISMO NO BRASIL. Corri a maratona de Berlim no mês passado e a organização para 40.000 participantes é impecável, tudo é perfeito. Aqui uma corrida com 2.000 tem todo tipo de gambiarra, sacanagens e amadorismos.
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Breno, infelizmente, é isso mesmo. E não sinto que estamos melhorando. Poderíamos ser economicamente muito mais fortes com um investimento correto no turismo.
Quero ver se corro Berlim também em 2012.
Abraço,
André Savazoni
A viagem é uma droga, mas o destino é legal. Seja bem vindo ao melhor lugar do Brasil, André!
Excelente post, direto no ponto!
Se você quiser experimentar uma viagem ainda mais “radical” experimente rodar na BR101 sul (Florianópolis ao RS), é simplesmente assustador o que ocorre ali.
Grande abraço, domingo estarei lá em Pomerode!
Caro André:
Parabéns pelo post, creio que demonstra claramente nossa realidade, exemplifico:
Viajei p/ SC em agosto p/ o MD Praia do Rosa. Reservamos pousada com bastante antecedência, uma semana antes da prova, recebi um email sugerindo a troca do apartamento reservado por uma cabana, eis que desconheciam o evento e cobraram muito pouco pelas reservas. Imagine o pavor que ficamos, não daria mais tempo p/ nova reserva. Por sorte, após reclamações confirmamos nossa reserva no preço estabelecido e já adiantado.
Para completar, na Praia do Rosa havia apenas uma pizzaria aberta para o jantar, para outras opções somente se deslocando até Garopaba, o que, com o cansaço após 18 km de prova e a fome, era um infortúnio.
Para quem adora aliar o turismo com a corrida, como é o meu caso e do meu noivo, realmente o Brasil deixa muito a desejar…
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Márcia,
É uma pena que isso continue ocorrendo. Há um distanciamento muito grande em todos os sentidos. Com um evento desse nível que você citou, envolvendo inúmeros corredores e suas famílias (em muitos casos), não daria para firmar uma parceria com dois ou três restaurantes? Claro que sim.
Abraço
André Savazoni
Se vc acha ruim agora imagine quando chegar a Copa e a Olímpiada…
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Alex,
Infelizmente, essa é uma preocupação muito séria mesmo. Falam em infraestrutura de competição, mas parece que ninguém está preocupado com turismo, que envolve hotéis, alimentação, aeroportos…
Abraço
André Savazoni
Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso vai passar longe do Brasil na Copa e nas Olimpíadas. Qualquer pessoa séria daria este conselho para um estrangeiro que perguntasse.
Não adianta reclamar depois, todo mundo tá sabendo.
Sou de Natal e tenho o costume de participar de provas em outros Estados. Definitivamente, a pior coisa que eu acho é chegar no hotel e não poder tomar café da manhã mais cedo por conta do horário da prova, mesmo sabendo que o estabelecimento está repleto de corredores-turistas.
É assim que nós somos tratados pelo Brasil afora.
Uma grata exceção foi na 3ª Meia Maratona das Cataratas que participei em 2009, ocasião em que o hotel onde me hospedei, cujo nome não vou declinar para evitar de fazer propaganda, ofereceu aulas de alongamento e jantar de massas na véspera da prova, bem como transporte de ida e volta para ela.
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Claudio
É assim mesmo, essa história do café da manhã foi bem lembrada. Já vivenciei isso tanto aqui no Brasil quanto na Argentina. Este ano, em Punta del Este, ocorreu o mesmo em alguns hotéis, felizmente, onde estava hospedado, anteciparam o horário para nós, corredores.
A Meia das Cataratas é realmente uma exceção, em todos os sentidos. Vale muito a pena correr lá em Foz do Iguaçu.
Abraço
André Savazoni
Quero receber confirmação de pagamento e inscrição estes feito desde o dia 04/10/2012. jaimeroliveira@gmail.com. jaimebahia.
Quero receber confirmação de pagamento e inscrição para que me prepare para viajar. jaime e esposa. Tambem como chegar ate pomerode. gato.
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Jaime, bom dia
Não sei do que está falando, você deixou um comentário no meu blog, não tenho (nem a revista) nada a ver com a organização da Meia de Pomerode. Isso você tem de buscar com os organizadores da prova.
Abraço
André
Nossa pousada oferece desconto para atletas em eventos na Praia do Rosa.
http://www.descansodorie.com.br