Gilmar e Renilson são corredores de verdade! Na alma e nas atitudes! "São símbolos para o nosso grupo, exemplos de disciplina e técnica e principalmente de uma vibração contagiante. Todos se sentem vencedores junto a eles, que são diferenciados pelo talento nato", destaca Augusto César Fernandes, diretor técnico da Assessoria Corre Brasil, com quem a dupla treina.
Gilmar Rodrigues nasceu em Serra dos Aimorés/MG, a 150 km de Teófilo Otoni. Ao completar oito anos, já era ajudante de seu tio, um magarefe. "É assim que chamam os açougueiros naquela região. Íamos nos sítios e fazendas oferecer nosso serviço: matávamos o gado e retirávamos toda a carne", recorda Gilmar.
A corrida aconteceu quase na mesma época. Gilmar conta que era muito comum ir correndo para os sítios nas cidades da região: "Aos 12 anos eu saía de casa com uma maletinha de facas embaixo do braço e corria diariamente – somando ida e volta – de 12 a 20 km. Chegar no horário, bem cedo, era obrigação, pois era hora marcada com o fazendeiro. Bebia água nas bicas. Corria quase sempre descalço, com os sapatos ou sandálias na outra mão, para não atrapalhar!"
A distração era participar das poucas provas que aconteciam por lá, e Gilmar foi ficando conhecido porque quase sempre vencia e o povo cobrava: Quando você irá correr a São Silvestre? Em busca de uma vida melhor, em 1999 Gilmar chega em São Paulo. "Vim para trabalhar, comecei como ajudante de caminhão, mas logo voltei ao ofício de açougueiro, onde estou até hoje!"
Morador em Diadema, Gilmar treinava sozinho em 2006, o que para ele não era nada demais: "Correr sempre foi minha condução e condição de vida!" Apesar disso, ao passar a treinar mais seriamente, procurou, juntamente com a esposa, a Corre Brasil: "A intenção era a de manter a saúde e talvez melhorar meus tempos".
O treinador Augusto conta: "Gilmar tem personalidade explosiva, mas com um humor inigualável é o mais brincalhão do grupo e gosta de provocar os colegas. É muito esforçado e busca o melhor nos treinamentos e nas corridas. Sua evolução foi rápida: em apenas três meses passou dos 38 minutos nos 10 km para os 35. E aos 39 anos está correndo 10 km para 34 minutos e os 21 km em 1h20. Se tivesse sido descoberto antes seria um competidor de destaque!"
ANTES DA LARGADA NASCE UMA AMIZADE. A primeira viagem com o grupo da Corre Brasil foi para a Corrida de Itu, dia 9 de fevereiro de 2008. Faltando alguns minutos para a largada, Gilmar, que estava treinando com a equipe há apenas dois meses, olha o corredor ao lado e pergunta em quanto tempo ele pretendia correr os 10 km? "Eu quero fazer perto dos 31 minutos", disse ele. Gilmar virou o rosto, engoliu em seco e pensou: duvido!
O açougueiro achava difícil que aquele rapaz franzino com um tênis estranho, dois números maior nos pés, pudesse correr tanto. Esperou o fim da corrida para tirar a prova real. "Eu me surpreendi! Ele não fez o tempo que gostaria, mas correu demais, pois qualquer marca abaixo dos 35 minutos em Itu é considerável mesmo!"
O nome desse desconhecido estava estampado em sua camiseta, que trazia a seguinte mensagem: "Renilson Vitorino, de Euclides da Cunha para o Brasil!" Ao ler um monte de rabiscos e autógrafos na camiseta, Gilmar riu, mas precisou aquietar-se, afinal o resultado fez com que ele se reaproximasse de Renilson em tom de desculpas: "Fui até ele e o cumprimentei, apesar dele não estar muito contente, e o convidei a fazer parte de nossa equipe."
COM DOAÇÕES PARA A SÃO SILVESTRE. Renilson Vitorino nasceu em Euclides da Cunha/BA. Estudava pela manhã e ajudava a família trabalhando na roça; foi assim durante 22 anos. "Quando comecei a correr em junho de 2001, ganhava a maioria das provas da cidade, mas precisava juntar algum dinheiro e então fui trabalhar de ‘taxista de carrinho de mão' na feira de sábado, quando ficava com um carrinho para levar as compras das donas de casa. Conseguia 5 a 10 reais e com esse dinheiro comprava bananas para a semana, para comer uma antes e outra depois do treino".
A possibilidade de correr a São Silvestre surgiu quando Elson Ribeiro, professor de educação física da cidade, lhe deu 100 reais para estimulá-lo a buscar mais apoio e ir para São Paulo. Isso foi o bastante para Renilson sair batendo de porta em porta dos comerciantes locais e amigos, com uma camiseta na mão pedindo colaboração, com o compromisso de colocar no nome de cada um na camisa e com ela completar na avenida Paulista. Renilson juntou exatos R$ 350 e decidiu que iria para São Paulo correr a São Silvestre em 2007.
A iniciativa do professor Elson foi decorrente dos resultados que Renilson então fazia, como correr os 12 km da prova de Jacobina em 40 minutos (treinando apenas três vezes por semana) ou, com calor de 38 graus, conseguir 1h25 na meia-maratona de Juazeiro. E assim Renilson partiu com várias notas de 5 reais dadas por nomes que queriam cruzar com ele a linha de chegada da São Silvestre.
Na largada da prova, misturado à massa e assustado com a multidão, Renilson partiu para o que poderia ser sua redenção. "Larguei no povão e corri tudo que podia, fiz o meu melhor e cheguei em 148º no geral" Ele tinha vindo da Bahia exclusivamente para correr a São Silvestre, o dinheiro acabou e foi morar de favor em São Miguel Paulista, onde trabalhou de servente de pedreiro, mecânico de fogão e o dinheiro esticou, mas logo estava no fim novamente.
NA CORRIDA DE ITU, A ÚLTIMA ESPERANÇA. Renilson já tinha corrido a prova de aniversário da cidade de São Paulo, quando cravou 33 minutos nos 10 km, e na beira da desistência resolveu arriscar tudo no que seria sua derradeira corrida e seus últimos reais; se inscreveu na prova de Itu. "Quando lá cheguei senti que daria para correr bem; queria ao menos correr com os ponteiros!"
Fez os 10 km para 33:30, um ótimo tempo para um percurso nada plano e com a temperatura sempre acima dos 30 graus. Renilson lembra o que disse para Gilmar no final: "Foi sofrido, mas faz parte! Uma voz reclamava e eu ouvia repetidas vezes em minha mente: não desista! Você vai arrumar um jeito e ficar em São Paulo!"
Gilmar acolheu o amigo Renilson em sua casa, em que morou por quase um ano, e lhe ajudou a arrumar emprego com carteira registrada. Renilson trabalha agora em uma banca de churros dentro de um grande supermercado, o mesmo em que Gilmar é açougueiro.
Renilson é um atleta sereno, que usa a alegria para vencer as adversidades e assim desenvolve a confiança em seu potencial. "Eu não vejo os outros corredores como adversários, apenas como competidores, que são como eu, com vontade de vencer!"
Renilson teve uma rápida evolução; já no início emplaca 32 minutos e segundo seu técnico em breve se aproximará dos 30 minutos. "Os 15 km para 47 minutos, a meia maratona para 1h07, é um atleta muito resistente que tem um ritmo parecido para provas de 5, 10 ou 21 km. Por essa razão acredito que ele será um grande maratonista!" Isso já está projetado para 2014 ou 2015", observou Augusto Fernandes.
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paarabens gilmar!!!!!