Blog do Corredor André Savazoni 14 de outubro de 2016 (1) (107)

Completar a Maratona de Nova York. O objetivo de Carolina Vieira

img-20160612-wa0048A corrida, como escrevi nesta semana, é o nosso momento. Cada um tem o seu desafio, sabe o seu cotidiano, os pontos positivos e negativos. Isso merece um texto especial, desse individualismo fundamental. Mas, hoje, a história é da Carolina Sena Vieira, de Florianópolis, que vive a expectativa de correr a Maratona de Nova York, em novembro. Os planos mudaram no meio do caminho e isso que é também outro fator interessante na corrida, reavaliar, analisar e seguir em frente, com mais ou menos subidas.

“Nunca tive história de superação para contar… Nunca fui gordinha, nunca fumei, não sou doente, não sou mãe, enfim, sou uma reles mortal corredora que sempre pôde correr com o tênis que queria, com GPS no pulso e conhecer as paisagens mais bonitas de Florianópolis (minha cidade natal).

Mas confesso que esse chamado tem todo o sentido para mim. Qual sua meta? Respondo: “Completar a maratona de Nova York”.

Nossa, que meta “burguesa”, deves estar pensando… Explico.

Eu sou extremamente competitiva comigo mesma. Corro há três anos, desde 2013, quando comecei a fazer doutorado em Direito (sou advogada e professora).

Logo de início já percebemos, eu e meu treinador, que eu levava jeito para coisa. Primeira prova de 5 km, com dois meses de corrida, 27:30. Primeira prova de 10 km, com sete meses de corrida, 51:00. Primeira meia-maratona, com 1 ano de corrida, 1h55. Fui aprimorando a base, me divertindo e melhorando os tempos.

Próximo passo: o “sub-algo”. Estas eram as minhas metas.

Sub-50 nos 10 km, alcançado (hoje tenho 45:00 na T&F do Iguatemi de 2015, 5º lugar).

Minha meta nunca foi nos 5 km, mas tenho 21:40 na distância.

Daí, comecei a escrever a minha tese de doutorado e simplesmente não saía. Eu sentava com todos os livros em volta… e nada! Era novembro de 2015, então fiz uma promessa: me inscrevi na Maratona de NY de 2016. Só iria fazer a prova se conseguisse terminar a tese até maio de 2016, pois teria a partir dali seis meses para me preparar para a prova. Se eu extrapolasse o prazo, nada feito: eu “teria” de perder o valor do pacote.

Nesse meio tempo, parti em busca do “sub 1:45” na meia. Consegui em janeiro deste ano na Disney, terminando em 1h42 (fiquei entre as 100 primeiras mulheres, em 91º e fui a 6ª brasileira). Tudo estava caminhando maravilhosamente bem!

Me inscrevi na Meia de Floripa, em junho. Pensei: “Estarei começando a me preparar efetivamente para maratona, então dá para tentar um sub 1h40”.

Fui levando a vida entre treinos, livros, sala de aula e escritório de advocacia. Mas, surpreendida por uma dor de dente terrível, diminuí o ritmo da tese. Até descobrir o dente que realmente estava “doente”, foram três tratamentos de canal. E o inevitável atraso no “ponto final” da tese: 9 de junho de 2016, com 10 dias de atraso e a 3 dias da meia de Floripa.

Mas que alívio! Terminei! Vou descontar na pista!

Dia lindo (nos dois últimos anos choveu a cântaros já na largada da prova), 7 graus. “Temperatura perfeita para quebra de RP”, ouvi de um amigo. Deixa para mim, pensei.

Nos primeiros 10 km eu corri solta em ritmo de 4:30. Olhava o relógio e não acreditava. Que bom!

Na virada dos 10 km, peguei uma água e senti um desconforto na virilha. Uma “dorzinha”. Continuei em ritmo de 4:30-4:35.

Terminei a prova em 1h36! Objetivo alcançado, recorde batido. 16º lugar. Mas eu não conseguia colocar o pé no chão.

Na semana seguinte, minha fisioterapeuta afirmou que era muscular, que em uma semana eu estaria boa. Mas a dor não passava. O desconforto era tanto que parecia que a minha perna iria cair do tronco. Isso não está certo, pensei. E meu ortopedista em férias na Itália…

Procurei outro ortopedista, já com uma semana de dor. Até sair o laudo do raio X, foram 10 dias e o diagnóstico: fratura por estresse do ísquio.

Parece besteira, mas a primeira coisa que eu pensei foi: é o destino cobrando a sua conta, Carolina. Você não terminou a tese na data combinada. Você não vai para NY, por bem ou por mal.

Fiz mais todos os exames possíveis: tomografia e ressonância magnética, essa última já com meu médico de volta.

Foram 3 semanas de repouso. Uma semana sem quase andar, mais 3 semanas de muletas. Na 4ª semana retornei com elíptico e fortalecimento muscular. E dor, muita dor. E fisioterapia. E mais dor.

Dia 31 de julho eu voltei a correr, com muita dor, mas orientada pelo médico. “A partir de agora é ladeira abaixo, só vai melhorar”. Pace de 8:00, 4x 1000. Foi o que saiu.

Dia 13 de agosto consegui correr 5 km direto, em 35:00.

De lá para cá, realmente, só tenho melhorado. Mas ainda sinto dores, que gradativamente vêm diminuindo. Os 5 km já estão abaixo de 29:00. A preparação pra maratona está totalmente prejudicada, possivelmente eu tenha tempo para fazer apenas um longo de 28 km. Estou preparada psicologicamente para abandonar a prova por volta do km 25. Mas lá no fundinho tem um pedaço de mim que quer terminar. Acho que é a primeira vez que uma medalha vai ter tanto significado para mim.

Essa é a minha meta: terminar a Maratona de NY (minha primeira prova de 42 km), sem pretensão alguma de tempo, depois de ser surpreendida por uma lesão grave no começo da preparação. Se der para correr os 42, ótimo. Se não der, legal também. Vou ser igualmente vitoriosa ao cruzar a linha de chegada, mesmo que tenha de caminhar um pouco. Porque para mim lá em 6 de novembro o que vai contar mais foram todos estes dias desde 12 de junho de 2016.

Eu sou totalmente contra a banalização da tal da “superação” porque, como diz o meu médico: “a linha que separa a superação da burrice é tênue”.

Se eu conseguir terminar a prova, não considero uma história de superação. Considero uma história de obstinação e de muito, muito lastro. São os meus três anos de corrida e as minhas seis meias-maratonas que vão me permitir ir em busca da minha meta, nada mais.

E ainda bem que o corpo tem memória, não é mesmo?”

Carolina Sena Vieira, de Florianópolis-SC

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One Comment on “Completar a Maratona de Nova York. O objetivo de Carolina Vieira

  1. Legal tua história Carolina… vai lá e termine com saúde e alegria… gostei da frase do teu médico… muito bom! Boa prova!!! Termine sorrindo e depois post aqui como foi!!!

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