Esta sensação muitos corredores já sentiram. Após 30-35 km de uma maratona, chega o cansaço, a fadiga e aquela voz que sussurra nos ouvidos e se faz ecoar por toda a mente: ‘O que você está fazendo aqui? Pare com isso! Tanto esforço para quê'? Quem já se habitou a esta situação, muito comum nas maratonas, sabe que não se deve parar, que desistir, jamais! Afinal, quem disse que correr é só alegria?

Superado esse instante de dúvida, temor e sofrimento, e convicto do propósito de concluir o percurso, o corredor – relembrando todo o seu árduo treinamento de várias semanas ou meses – retoma o fôlego e a resistência, partindo em direção ao seu destino. Alguns minutos após cruzar a linha de chegada e recobrado os sentidos, logo ele se pergunta, com a mais absoluta confiança de um novo triunfo: ‘quando vai ser a próxima'? Afinal, quem disse que corrida é apenas sofrimento?

Correr é assim. Um misto de dor e prazer, sofrimento e satisfação. Ao concluir o percurso, seja ele qual for, a sensação do dever cumprido supera qualquer dificuldade encontrada pelo caminho. Por esse motivo, logo o corredor se pergunta quando será a próxima competição.

E o desafio pode estar mais próximo do que se imagina! Atualmente, muitos corredores têm como objetivo a participação em várias maratonas ao longo do ano. Algumas delas até mesmo com diferença de alguns dias ou semana. Veja o caso do belga Stefaan Engels, que pretende disputar 365 maratonas em 365 dias. Isso mesmo! O verdadeiro Forrest Gump! É loucura ou apenas um planejamento estratégico para o alcance de uma meta?

Longe de estar apoiando tal empreitada – não por ser contra, mas pela logística que isto implica – serei menos aventureiro e mais de acordo com a realidade da maioria dos corredores. Assim, para aqueles que, após concluírem uma maratona já pensam na seguinte – na próxima semana ou um pouco depois – qual o melhor modo de se preparar para estes desafios?

Para os corredores que fizeram uma preparação adequada, ou seja, que treinaram regularmente por pelo menos 3-4 meses e já haviam planejado a participação em múltiplas maratonas (portanto, treinaram com este objetivo), não resta muito a fazer em termos de treino para melhorar o condicionamento.

BASTA O DESCANSO ATIVO. Após a primeira maratona, o corredor deverá buscar a recuperação adequada por meio do descanso ativo. Mas o que é o descanso ativo? É muito simples!

No descanso ativo o corredor não pára o treinamento, porém reduzirá em quantidade e intensidade os exercícios. Além disso, ele irá buscar em outras atividades físicas o meio para manter-se em movimento. Assim, a caminhada, passeios de bicicleta, atividades aquáticas ou alguma outra modalidade esportiva serão utilizadas como uma maneira do corredor permanecer em movimento, enquanto recupera suas energias para a próxima disputa.

Agora, vamos tratar de um exemplo prático. Para quem participou das maratonas de São Paulo e Porto Alegre (já foram duas!) e ainda vai correr a do Rio de Janeiro, o que fazer?

Esta pergunta não é fácil de responder, principalmente quando consideramos que cada corredor é um caso único e particular no que diz respeito à individualidade biológica. Isto significa que cada um responde de um modo distinto aos estímulos externos (no caso, às exigências físicas e psicológicas da maratona), necessitando de mais ou menos dias para uma completa e saudável recuperação.

Porém, quem planejou o desafio das múltiplas maratonas deve estar consciente de que não conseguirá participar de todas (conforme o exemplo que estamos propondo) em perfeitas condições de recuperação, por melhor que tenha se preparado. Mas por que? Exatamente pelo curto intervalo de tempo entre as provas. De um modo geral, após uma maratona em que o corredor tenha buscado o seu melhor rendimento, serão necessários entre 14-21 dias para uma completa restauração das forças do organismo, a não ser que ele tenha corrido a maratona anterior sem forçar.

Portanto, será inútil querer buscar quebrar recordes pessoais em todas essas maratonas consecutivas. A participação estará assegurada, mas não se pode esperar marcas superiores. É o preço que se paga pela ousadia!

Mas, enfim, respondendo à questão prática, como o corredor, após fazer São Paulo e/ou Porto Alegre, irá se preparar para o Rio de Janeiro? Considerando-se que, entre SP e PoA foram 3 semanas de diferença e entre PoA e o Rio são mais 8 semanas.

Bem, não há fórmulas milagrosas para isso. Mas o bom senso aliado ao conhecimento da fisiologia do exercício e da pedagogia do treinamento esportivo podem solucionar a questão. E o descanso ativo será o meio para se alcançar o sucesso desta empreitada. Porém, sem deixar de lado o treino de manutenção do condicionamento.

Veja o treino