Notícias Redação 22 de junho de 2020 (0) (191)

Como os treinadores e seus alunos estão enfrentando este período de pandemia

Seguimos com a série de postagens sobre treinadores de corrida e suas novas rotinas junto aos seus orientandos no período da pandemia. O personagem desta vez é o treinador André Savazoni, editor assistente da CR e professor de Educação Física, que lançou neste ano a assessoria Savazoni Running Team, em Jundiaí.

“Como tenho alunos dentro e fora do Brasil, em mais de 60 cidades e 7 países, por trabalhar de forma 100% online no treinamento de corrida na Savazoni Running Team, tive contato com a pandemia boas semanas antes de chegar efetivamente ao nosso país.

Foi interessante essa primeira vivência para ter uma noção de como estavam as ações em Portugal, França, Estados Unidos. Vietnã, Canadá, Singapura e Alemanha, locais onde vivem alguns dos alunos.

Desde o início, a minha orientação foi sempre a mesma. Primeiro ponto (e determinante): respeitar as normas legais das cidades e/ou regiões onde vive. Praticamente em nenhum local, salvo algumas exceções, claro, houve a proibição efetiva de correr. Na maioria dos locais, o procedimento foi para que se corresse de forma isolada, ou seja, sozinho, mantendo um trabalho para a saúde física e a mental. Houve restrições, sim, por exemplo, de deslocamentos, podendo correr a uma distância X da residência.

Internamente, temos um Brasil enorme e com condições totalmente diferentes dependendo do local onde você mora. Tenho alunos em São Paulo, mas também no interior do Pará, próximo à Floresta Amazônica, isolados, como comparação. Em cidades de médio porte e em outras pequenas. Impossível criar regras ou determinar algo para todos.

Quem trabalha na Educação Física com treinos presenciais e em apenas um local, teve uma outra visão, porém, no meu caso, precisei (e preciso) sempre analisar, conjuntamente com o aluno, as características de onde ele está inserido. Com ou sem pandemia. Faz parte do trabalho de professor.

No segundo ponto, deixei todos livres, para que, quem não se sentisse à vontade, por inúmeros fatores, para não praticar as atividades ao ar livre, que buscássemos outras alternativas. Confesso que uma minoria dos meus alunos parou efetivamente de correr. A maior parte manteve 100% dos exercícios. Eu mesmo entrei na quarentena correndo e irei seguir assim, pois aqui em Jundiaí, onde moro, dá para fazer treinos sem ver ninguém (fiquei somente uns 20 dias mesmo parado para tratar de uma dor na posterior, pois era um ótimo momento para isso).

O que realmente pedi para todos foi para que corressem (e sigo falando isso diariamente até hoje) em locais afastados, sem aglomerações, em horários com menos pessoas (bem cedo, às 5h, 6h, como exemplo, ou mais tarde, 20h, 21h) e evitassem qualquer treino em grupos, a não ser com parentes e que vivam na mesma casa (pai e filha, casais, irmãos, e por aí vai). Ah, e ainda disse também para todos não entrassem nessa “loucura” de correr dentro de casa, dando voltas na mesinha da sala que isso, literalmente, não levaria a lugar algum!

Por outro lado, independentemente da escolha de cada um, com o fechamento das academias, montei uma sequência de circuitos e de exercícios de fortalecimento e/ou alongamento para aí sim fazerem em espaços pequenos, dentro de casa, na sala de casa, varanda, quintal, corredor, utilizando espaços em condomínios de casas ou apartamentos desde que permitidos etc. Com o peso do corpo, basicamente, mas com materiais fáceis de ter em casa, como halteres.

Falando especificamente dos treinamentos de corrida, mantive as preparações de todos até que as provas fossem canceladas ou não. Alunos da Flórida, por exemplo, até março, participaram de corridas normalmente.

Mantive planejamentos com metas intermediárias, utilizando, inclusive, as provas virtuais para quem gosta. Dá para trabalhar muito bem distâncias dos 5 km aos 21 km mesmo sem provas. Inclusive, pela minha forma de ver a corrida, as provas são uma consequência, não deveriam (e não devem) ser o motivo principal. Inserir a corrida no cotidiano, treinar, precisa sempre ser o atrativo principal, a meu ver. Esse é um dos ensinamentos da pandemia. Sabe o interessante? Com a redução do número de provas e do foco nos treinos, diria que praticamente todos os alunos estão correndo em 2020 melhor do que em 2019.

Com tantos problemas e a dor causada pela pandemia, a saúde mental também tem de ser trabalhada, e os treinos de corrida são uma ótima ferramenta para isso. Inúmeros alunos pediram, inclusive, para ampliar em um ou dois dias de treinos de corrida na semana para poderem arejar a cabeça.

Como forma de motivação e de integração do grupo, mesmo que a distância, por meio do grupo de WhatsApp e redes sociais, no começo de junho participamos do revezamento mundial de 42 km organizado pela NN Running Team, a equipe de Eliud Kipchoge, Kenenisa Bekele e outros.

Foi um revezamento em quartetos, cada um correndo 10,5 km, por meio do Strava, onde estivesse. Dessa forma, montamos quase 20 equipes, unindo corredores de todos os níveis e espalhados pelo mundo. Dividi aleatoriamente ou por regiões, sem preocupação com ritmo. Cada um ficou livre para correr da forma que achasse melhor. Lógico que somos seres competitivos e, mesmo em eventos virtuais como esses, isso aflora.

A cereja do bolo foi que os atletas de ponta seriam sorteados entre as quase 25 mil equipes inscritas (foram cerca de 100 mil participantes pelos números divulgados pela NN Running Team). Ou seja, fariam parte de um time. Para nossa surpresa (e felicidade), Kipchoge caiu em uma das equipes dos meus alunos. O queniano entrou em contato com eles, gravou vídeo nas redes sociais mostrando os alunos, o uniforme da equipe, então, o que era uma brincadeira, uma forma de unir o grupo, se tornou uma grande festa. Inclusive, nesta semana duas camisas devem estar chegando para ele!

Trabalhando dessa forma, mantendo tanto a parte física quanto a psicológica dos alunos em alta, a Savazoni Running Team tem hoje o mesmo número de alunos (entre saídas e entradas) do começo da quarentena no Brasil, o que considero algo muito significativo. E que, com um trabalho envolvendo todos os alunos, posso exercer o que realmente acredito na Educação Física e na corrida, de ajudar a deixar as pessoas mais saudáveis, felizes e preparadas para a vida.”

André Savazoni, da Savazoni Running Team, de Jundiaí

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