POR JUNIOR NINO | @juniornino01 @corredoresdointerior
A corrida de rua é uma paixão que muitos de nós cultivamos, não apenas pela atividade física, mas pela liberdade que ela proporciona. Contudo, em meio à busca incessante por performance e resultados, é fácil perder de vista o que realmente nos fez amar esse esporte. Neste artigo simples, quero compartilhar minha experiência sobre como essa pressão pessoal quase me afastou da corrida e como ainda tento encontrar um caminho de volta para resgatar a alegria de correr.
Em minha jornada como corredor, já vivi momentos bons e ruins desde 2017, quando comecei a correr mais frequentemente para emagrecer e manter o peso, e, consequentemente, a participar de provas de corrida. Após lutar contra o sobrepeso por grande parte da minha vida, a corrida se tornou uma forma de libertação, e logo me vi apaixonado pela atividade ao colocar a primeira medalha no pescoço em maio daquele ano.
Mesmo treinando de forma desordenada, consegui conquistar meus primeiros 2 pódios ainda em 2017. Essas conquistas me motivaram a me dedicar ainda mais, buscando planilhas de treino e orientação de profissionais. Entretanto, em 2018 (e depois em 2019), enfrentei um grande desafio: uma lesão chamada Síndrome da Banda Iliotibial no joelho esquerdo, que me afastou da corrida por dez meses em cada ocasião. A frustração foi imensa, pois eu estava evoluindo bem e me dedicando. A dor e a necessidade de parar de correr me deixaram em um estado de negação e raiva. Desativei aplicativos de corrida, afastei-me de grupos e tentei evitar tudo que me lembrasse o esporte. A corrida transformou-se em uma lembrança dolorosa. Hoje, acredito que sofri uma espécie de “Depressão Esportiva”.
Mesmo lesionado, comecei a organizar provas de corrida na minha cidade (que antes não possuía nada relativo a este esporte) e também fui um dos idealizadores da criação de uma equipe local. Nos anos seguintes, recuperado da lesão, continuei no esporte, conquistando alguns pódios e até criando uma página no Instagram dedicada a isso para incentivar mais pessoas, chamada @CorredoresDoInterior.
Com o passar dos anos, e talvez pelo sentimento de “tempo perdido” em 2018 e 2019, eu sempre buscava melhorar meus tempos (como atleta amador) ou aumentar as distâncias. Ainda assim, a lesão dava sinais de que poderia voltar, frustrando meus planos e me fazendo dar um passo para trás novamente.
Essa busca e a pressão que eu colocava em mim mesmo aumentaram ano após ano. Chegou a um ponto, em 2023, em que percebi que a situação estava fora de controle, com uma busca desenfreada por performance. A corrida havia se transformado em um fardo, e muito pesado. Essa obsessão começou a ter um custo mental muito grande, me fazendo escolher detalhadamente em quais provas participar e analisar quem seriam os possíveis competidores na minha categoria por idade. Eu perdia tempo com análises desnecessárias, apenas para antecipar a possibilidade de subir ao pódio ou não. Claramente, uma situação que gerava ansiedade. Se percebesse que a chance de troféu seria difícil, já ficava desanimado em participar da prova.
Essas questões já estavam atrapalhando meu dia a dia semanas antes da prova, e muitas vezes até depois, quando eu não alcançava o objetivo que havia traçado (ou até mesmo quando eu o alcançava). Mesmo conquistando boas colocações e pódios, aquilo já não me preenchia mais. Passou a ser “só mais um”. Em 2023, de 11 provas, conquistei 9 pódios, mas já não era algo tão especial, tanto faz se eu ganhasse mais um, no dia seguinte já passou aquele sentimento e começava a pensar se conseguiria na próxima prova. Não fazia sentido essa preocupação excessiva, esse desgaste, ganhar mais um troféu. Pra quê? Pra aumentar meu ego? Pra postar nas redes sociais para os outros verem? Pra quê? Até em casa já estava ruim achar lugares pra colocá-los. Ao refletir no final do ano, percebi que a pressão que eu mesmo impus havia se transformado em um peso que carregava todos os dias, afetando meu bem-estar. Até pra treinar já ia meio desanimado, dependendo do tipo de treino. NÃO! BASTA! Não dava mais para continuar assim, eu estava começando a sentir aversão à corrida, algo que nunca imaginei que aconteceria.
MUDANDO A CHAVE
Iniciei 2024 querendo “mudar a chave”. Resolvi tentar reeducar minha mente e voltar a correr por prazer, diversão e saúde, como foi quando comecei no esporte, em 2017. Diminui as participações em provas, fiz treinos sem planilha e foquei em outras áreas da vida pessoal, como estudos e vida profissional. Hoje, posso dizer que aos poucos estou melhorando, mas ainda não estou 100%. Acredito que, talvez, um acompanhamento com psicólogo esportivo ajudará ainda mais a me libertar totalmente de pensamentos que prejudicam a alegria de correr.
Embora o caminho de recuperação seja longo e ainda esteja em processo, essa mudança de perspectiva tem sido libertadora. Compreendi que a busca por performance não deve eclipsar a essência do que me faz amar correr: o sentimento de liberdade, a endorfina e a conexão com meu corpo e a natureza.
Superar a si próprio e bater recordes pessoais é ótimo, assim como conquistar bons resultados e colocações, mas é preciso ter uma mente preparada para não ultrapassar os limites da obsessão e deixar que isso se torne uma pressão excessiva. Isso pode custar caro, seja causando problemas de saúde, seja afastando a pessoa do esporte, tirando o prazer de correr.
Acredito que o verdadeiro valor está na experiência, na sensação de liberdade que a corrida proporciona e na saúde que ela traz. Não tenho nada contra quem corre apenas por tempo e colocações (mesmo sendo atleta amador), mas a linha é tênue. Para alguns, a alegria está aí, e se a pessoa sabe lidar bem com isso, então, sem problemas, vai fundo e alimente seu ego. Eu, de 2024 pra frente, só quero dar meu máximo quando for pra superar a mim mesmo, meus RP’s, sem pensar em pódio, troféus, ou na colocação que eu chegarei.
A mensagem que quero deixar para os corredores amadores que leem este texto é: mantenham os limites na busca por resultados. A corrida deve ser uma fonte de alegria, não uma pressão constante. Não permitam que a competitividade transforme essa paixão em um fardo. Sejam gentis consigo mesmos e lembrem-se de que cada passo deve ser um reflexo do que realmente amam. A corrida é uma jornada, não um destino. Desejo a todos muitas corridas por prazer, saúde e a alegria que nos une a esse esporte maravilhoso.