A estratégia tem se repetido, com “bons resultados”, para fazer uma corrida de sucesso nos dias atuais.
Primeiro ponto, colocar um kit “pomposo”, “luxuoso”, nem precisa ser tudo isso, mas o marketing é fundamental.
Se a sacola pesar na hora de retirar, mesmo que com produtos que serão deixados de lado, melhor ainda!
Redes sociais, então, precisam “bombar”, para isso, é fundamental acertar no percurso. Ou seja, uma meia-maratona com 21 km ou até um pouco menos, sensacional! Marque com GPS e, então, ainda, tire uns 300 m a 400 m. Nos 10 km, “aferição” com GPS e 200 m a menos, é garantia de comemorações.
Isso garantirá um sucesso e o “recorde pessoal”. Com fotos, comentários, festa e garantias de amor infinito (e retorno no próximo ano garantido), além de resultados “impensados”, “uma surpresa”, “muito abaixo do esperado”, “novamente o melhor tempo na mesma prova, um ano depois”… e por aí vai.
Também, imagine, uma prova de 21.097 m com 20.697 m… “margem de erro”… o que são 500 m a menos? Apenas 2:30 para quem corre a 5:00/km? Insignificante, não é mesmo!
Agora, se você comentar sobre isso, perguntar se aquela foto do relógio com 20,850 m (ainda com a margem de erro, olha ela aí de novo, dos GPSs que é ao menos de 3%) poderá ser queimado vivo… nas redes sociais! Uma heresia o que está fazendo.
Se quiser deixar ainda “melhor”, a maioria das Federações estaduais oficializa uma prova sem a necessidade da aferição do percurso. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Assim, está garantido: a corrida é oficial. Acaba qualquer discussão.
Ah, para ajudar, na “divulgação”, espaço para fotos com placas, painéis e outras imagens no momento da chegada.
Nem gosto de ficar falando nesse tema, mas se der uma “esquecida” na fiscalização, nos locais de corte de caminho, melhor ainda. Quanto menos controle, mais sucessoooooo!
Não sei por que os organizadores reclamam, as pessoas reclamam, é tão simples fazer uma corrida de sucesso!
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Até que enfim uma crítica sincera. Parabéns pelo texto.
Eu concordo com o texto, mas faço um contraponto.
Nós, corredores mais “experientes”, estamos cada vez mais chatos.
Todo corredor já foi iniciante um dia. Já confiou em GPS, já se gabou de um kit pomposo etc.
E tem mais, nem todo mundo está nessa “vibe” sistemática de aferição de percurso milimetricamente ajustado, de recorde pessoal, de qualificação para majors, mas se sente feliz quando “bate” seu tempo numa prova tipo 10km ou tipo meia maratona.
Eu já fui assim, tive o meu ano de deslumbre na corrida, vivi tudo isso que vejo nas redes sociais. Fui um dos primeiros caras na minha cidade a ter GPS de corrida, cheguei a confiar cegamente nele no começo, depois estudei e aprendi mais sobre o tema. Também não ligo para um kit bacana desde que a organização seja boa, mas me sinto satisfeito quando vou numa prova que além de boa organização, oferece bom kit se comparado com o valor de outras provas. Exemplo disso, circuito Track & Field, que vem se mantendo ano após ano, com sucesso absoluto. Coincidência ou não, em sua maioria, é o perfil do corredor supracitado.
Aí eu pergunto: pra que questionar o cara se o recorde pessoal dele é válido? Onde isso vai levar? O que vai mudar na nossa vida? Deixa o cara se enganar e viver uma farsa pessoal. Ele está afetando a vida de outra pessoa com isso?
Onde quero chegar. Tem espaço pra todo mundo, e o importante é ser feliz, no final das contas, somos todos amadores, e vamos trabalhar na segunda-feira pós prova.
Mas a crítica é ao contrário. Não é para a pessoa, Felipe. A pessoa apenas faz parte da engrenagem. Cada um faz o que quer.
O que critico é o sistema que montaram de “provas de sucesso” e as pessoas aceitam, engolem. Mas a pessoa em si não é nem foi o foco desse meu questionamento, dessa “brincadeira” no texto.
A crítica é para uma prova que “vende” algo que não entrega. O que não é uma exceção. Para mim, isso é grave e reflete o que estamos vendo no Brasil hoje. Usa o ego das pessoas como ferramenta? Sim. Nesse ponto em questão, abrindo um parênteses, você está certo em seu contraponto, estou criticando quem deixa o senso crítico de lado e aceita uma relação de consumo “furada”.
A questão não é ter uma prova tipo meia-maratona. Pode ter, desde que deixe isso claro. Sem problema algum. O que é errado (e nisso, sim, sigo batendo) é falar em meia-maratona e não entregar 21.097 m. E isso quem determinou não fomos nós, corredores mais ou menos experientes. Existe uma regra.
Em uma comparação apenas para exemplificar, em números, é o mesmo que colocar no rótulo 200 g e entregar 180 g. Não é correto.
O tema é como fazer uma prova de sucesso. E o público aceita, mas o organizador “joga” com isso. E as federações também. Oficializam algo que na verdade, não é oficial. Oficializam 10 km que não tem 10 km. Oficializam meia-maratona com 20,6 km. Ou seja, o consumidor, aceitando ou não, está recebendo um produto que não condiz. Oficializam provas com 9,5 km como se fossem 10 km e que classifica para a elite da São Silvestre.
Abraço
André
Claro, André.
Eu consigo ver a crítica aos organizadores. Mas, para mim, o tom da crítica está muito mais incisivo no comportamento do corredor, nas mídias sociais e, aí, entra o meu contraponto, de que isso faz parte do processo de inserção do corredor nesse mundo.
Eu sinceramente não vejo isso como um problema do Brasil, vejo uma inclinação política nessa afirmação. Vivemos sim um momento turvo na nossa história, que vai esbarrar, sempre, na educação, mas isso é outro assunto. Na realidade, esse tipo de prova não oficial, acontece nos EUA e na Europa. É comum você ver provas de 5km e 10km nos EUA, mas que não foram aferidas/oficializadas, e posso te garantir que depois da prova, chove postagens de Recordes nas redes sociais.
Eu vejo gente sem noção das coisas, que não sabe questionar as coisas, mas que vai aprender na marra. Se um dia um cidadão desses quiser se qualificar pra Boston, por exemplo, ele vai ter que correr uma Maratona certificada, e aí ele vai aprender na dor que Maratona no GPS marca no mínimo 42,5km. E não adianta parar o garmin com 42,2km e postar no facebook, rsrs.
Se a gente for partir pro lado do ego, aí fica impossível. Poderíamos, por exemplo, criticar as marcas fabricantes de tênis, que prometem um monte de coisas que sabemos que não são verdade. Temos casos recentes de processos judiciais à empresas que prometeram coisas e não cumpriram.
Você sabe me dizer que prova não oficial de 10km está classificando para a São Silvestre?
Abração.
Felipe, esse é o ponto. Provas não oficiais existem e devem existir. Mas no Brasil, a não oficial é oficial, a meia-maratona não tem meia-maratona e, então, nessa linha, podemos chamar qualquer prova de maratona, inclusive a São Silvestre! Se tem 42 km ou 15 km, não é maratona. Não há margem de erro. É 42.195 m. Se usou o nome, precisa ter isso. Vale para a meia… o regulamento da Maratona de Campinas informava o seguinte (copiado da prova e apenas como um exemplo):
42 km revezamento em equipes de 3 ou 6 integrantes em percurso de 7.190 metros, totalizando 43.140 metros;
42 km revezamento em dupla 1 (uma) volta no percurso de 21,26 km (por atleta);
42 km individual: 2 (duas) voltas em percurso de 21,26 km; (Totalizando 42,52km).
Por um lado, um ponto positivo, informou a distância correta. Mas não é maratona. Em outras, pode ter a distância que quiser, desde que deixem isso claro.
E as pessoas, como consumidoras, deveriam se importar com isso sim.
Quanto à interpretação do texto, claro, você pode (e deve) ter a sua sobre o tema, se acha que está mais focado nas pessoas do que nos organizadores ou vice-versa ou outra.
Abraço
André