A nutricionista e hipnotista Tamara Hamnle, de São Paulo, SP, tinha o sonho de correr a Maratona de Roma. Quando a prova abriu as inscrições para 2021, ela não pensou duas vezes, mesmo sabendo que o sonho poderia ser adiado por conta da pandemia. Ela garantiu a vaga e, depois de muitos e-mails trocados com a organização da prova, com a embaixada e com o governo italiano, ela finalmente voou com destino a Roma para correr a prova, que aconteceu no dia 19 de setembro. Aqui ela nos conta não apenas como foi essa experiência de retorno das provas na Itália, mas também sobre toda a expectativa até realmente conseguir autorização para entrar na Itália sem a necessidade de quarentena.
por Tamara Hamle
“Decidir fazer a Maratona de Roma não foi difícil. Estava na minha lista fazia tempo. Vi um amigo terminando a prova em 2018 e, conversando com ele, tive vontade de percorrer os 42.195 metros que a cidade oferece! Naquele ano, havia terminado Paris e já de olho em algum próximo desafio.
Então, todos nós passamos pelo que passamos, mundialmente falando, e não só os meus planos foram adiados, mas de quantas outras pessoas absolutamente interrompidos. Muitas mortes e uma pandemia nunca antes vista.
No início deste ano, em minhas buscas aleatórias na internet, sempre de olho nas maratonas, vi que Roma estava marcada: 19 de setembro de 2021. A propaganda era: ‘The first marathon after the darkness’ (traduzindo: A primeira maratona após a escuridão).
Me inscrevi no mesmo instante que li a frase. A primeira corrida depois de muito tempo sem estar em prova alguma.
O período entre fevereiro, quando fiz a inscrição, e setembro, quando aconteceria a prova, passou de modo peculiar. As autoridades não liberaram as fronteiras, mês após mês acompanhando, e meu maior desafio era treinar com a dúvida se conseguiria estar na Itália ou não.
Em julho, comecei a mandar e-mails para a embaixada do Brasil na Itália. Responderam que era um assunto da embaixada italiana no Brasil. Pois bem, mais e-mails e a resposta: ‘Não podemos nos responsabilizar’.
Mandei e-mail para a organização da maratona, perguntando se a prova realmente aconteceria ou seria remarcada. A resposta: ‘a prova vai acontecer para quem estiver aqui presente. Quem entrar em Roma, correrá a maratona’.
Agosto chegou e ainda estava em busca de uma liberação legal para conseguir ingressar na Itália. Havia a possibilidade de 14 dias em quarentena, mas perderia a prova. E não conseguiria embarcar antes. 14 dias a mais de férias e na Europa, sem planejamento, não era uma opção. Tinha que resolver de outro modo.
Comecei a juntar toda a documentação de vacinação, testes e exames que já tinha feito, comprovante de inscrição da prova, atestados médicos… encaminhava tudo para o Ministério da Saúde italiano.
Ao todo, foram mais de 180 e-mails. Uma semana antes do embarque, a resposta veio: ‘eu estava liberada para entrar’.
ORIENTAÇÃO PERFEITA. O maior desafio de todos foi estabelecer uma rotina de treino em meio a esse caos e não sabendo se conseguiria estar na prova. Administrar isso tudo exigiu de mim uma habilidade que nem sabia que tinha. Neste momento, quero deixar meu agradecimento mais que merecido e especial a treinadora Simone Machado. Ela, que já me conhece há 8 anos, e me acompanhou em 6 maratonas, foi a responsável por conseguir me preparar fisicamente. Ela tem a palavra certa e me disse exatamente o que eu precisava ouvir. Meu sentimento por ela vai além do respeito profissional e admiração. Eu realmente tenho orgulho de poder chamá-la de técnica, pois ela foi uma peça fundamental nesse furacão pré-maratona.
Liberações concedidas, embarque realizado. A companhia aérea pede o teste PCR negativo e levei também o comprovante de vacinação, que não foi solicitado em nenhum momento.
Na conexão em Lisboa, novamente o teste de PCR no embarque, junto ao passaporte.
Cheguei em Roma no final da tarde e a feira da maratona começaria no dia seguinte. Para entrar, pediram o cartão europeu de vacinação, mas apresentei a carteira de vacinação brasileira e não tive problemas. O PCR novamente foi utilizado (já estava vencendo as 72 horas e por isso achei melhor ir logo na feira).
Máscaras na Europa, somente em ambientes fechados. Nas ruas, todos já descartam o uso. Na feira, usei o tempo todo.
MEDALHA E CAMISETA EXTRA. Ao pegar meu kit, tive uma grata surpresa: ganhei a medalha de 2020 com a camiseta que eles distribuiriam. Estava tudo pronto para o dia 29/03/2020, mas o lockdown fez com que a maratona fosse cancelada e o material que eles usariam já estava pronto. Particularmente, achei fantástica a ideia e aceitei o presente. Todos mereciam uma medalha por 2020!
Kit na mão, tudo pronto! No dia da prova, distribuíram máscaras descartáveis na largada e depois na chegada. Mediram temperatura de todos em um aparelho que era como raio X em aeroporto. Durante a prova, todos sem máscara.
O que dizer da prova? Ela vale cada metro! Lindíssima. E o que mais me impressionou foi o km 17. O Vaticano se apresenta à sua frente, majestoso e grandioso. Um bálsamo para os olhos. Independente de religião, fé ou crenças, achei aquele lugar muito especial. Ao todo são 56 pontos turísticos que a prova te dá a chance de conhecer correndo!
No final, o Palácio Nacional e o Coliseu premiam quem termina os longos 42.195 metros.
Se eu pudesse resumir tudo isso em uma palavra? ACREDITE! Acredite que você consegue e achará um caminho, como eu encontrei. Acredite e continue treinando, pois, se até agora você estava com dúvidas, estou aqui para responder: sim, a maratona é para você!”