Assim, no dia 19 de abril, domingo (a maratona é realizada na segunda, no feriado do Dia do Patriota) ensolarado e frio chegamos a Boston e fomos quase direto para a feira da maratona. A feira é enorme. Talvez a maior de todas as outras que participei. Apesar da multidão, a retirada do kit é rápida e fácil.
Às seis horas do dia seguinte deixamos o hotel em direção ao Boston Common, onde uma fila de ônibus escolar nos levaria à largada em Hopkington. Aqui, como em Nova York, temos que esperar mais de duas horas num frio de 6 graus para a largada da primeira onda.
A largada é congestionada. Mas logo nos primeiros cem metros há uma ligeira dispersão e pude, assim, estabelecer o meu ritmo. Já no primeiro km ainda em Hopkington surge a primeira subida, seguida de uma acentuada descida. Em Ashland, depois de uma sequência de subidas e descidas, passo por Dick Hoyt, 68 anos, empurrando numa cadeira de rodas o filho quadriplégico Rick de 46 anos. O público simplesmente vai ao delírio quando eles passam. É muito emocionante ver o tremendo esforço desse pai que já finalizou centenas de maratonas com o filho.
Em Framingham inicia-se uma longa descida. Acredito ser o melhor trecho da prova. O público incentiva muito. Aliás, a prova inteira há a presença constante de um público animado e incentivador. Eu, que corri com o nome Brasil na camiseta, ouvi os gritos de "Brasil! Brasil!" inúmeras vezes e por todos os lugares.
UMA PARADA, PARA UM BEIJO. Logo depois do km 21, passo em frente ao Wellesley College e vejo centenas de garotas num barulho ensurdecedor, portando cartazes em que pediam um beijo. E vários maratonistas – eu, inclusive – pararam alguns preciosos segundos para realizar o desejo destas estudantes. Agora vem o distrito de Newton por volta do km 27. Considero a parte mais difícil da prova. Uma sequência de subidas que vai em direção à famosa Heartbreak Hill, quase em frente ao Boston College.
Depois de vencer a Heartbreak Hill, já no km 36 e aproximando do centro de Boston, sinto as panturrilhas reclamarem. Diminuo um pouco o ritmo a fim de manter o meu batimento cardíaco numa zona de segurança, embora a partir do km 37 haja apenas descida em direção à chegada.
Ao atingir a Hereford Street eu sei que a maratona está no fim. De repente, viro à esquerda e descortina-se a Boylston Street com o pórtico de chegada bem lá na frente na Copley Square, a uns 400 metros. É de arrepiar o barulho do público ao longo da rua.
Com um tempo de 3h44 estou contente, considerando meus 52 anos de idade. Claro, a prova não é plana. Havia rajadas de vento gelado por quase todo o percurso. A temperatura por volta de 7 graus. Mas o público foi fantástico durante todo o tempo. E isto conta muito a favor. Sobre a organização, hidratação e beleza do percurso, eu prefiro nem comentar. É por essas e outras que a Maratona de Boston é considerada o crème-de-la-crème das maratonas.
Ney Caires é ortodontista e assinante de Salvador



