Boston é a maratona das maratonas? Hoje, depois de percorrer as 26.2 milhas da prova americana, posso garantir com toda a certeza que sim. Possui um charme que não encontrarei em lugar algum. Já corri Nova York? Não. Mas Boston é feita pelas famílias, que literalmente abrem suas casas para a passagem dos corredores há 116 anos. Esse é o diferencial. É o staff dos staffs. Com água gelada, apoio irrestrito, sorvete, duchas, esponjas, palavras de incentivo, respeito… Essa Boston dos sonhos, porém, também pode ser um pesadelo. Cruel. E bem quente. Como foi nesta segunda-feira, 16 de abril de 2012. Mas, já dianto, faria (e farei) tudo novamente!
Todos os detalhes dessa aventura você poderá conferir na edição de maio da Contra-Relógio. Ouça uma palhinha também no podcast Contra-Relógio no Ar desta quarta-feira (18). Agora, só para adiantar, Boston é diferente de tudo porque não é corrida na área central, mas sim nos vilarejos (seriam bairros, mas aqui tratam como cidades) percorridos nos 42 kms. Sem grades na ruas nem nas casas, sem qualquer separação física, com o público literalmente dentro da prova. Isso é Boston. Inclusive, foi esse público que garantiu que, não só que eu completasse a prova com todas as dificuldades e sofrimento, como os outros participantes.
Dentro da cidade de Boston, você corre as últimas três milhas, para arredondar. O restante, é no coração dos moradores. Algo impressionante e inesquecível. Por mais palavras que eu encontre para descrever, só uma confirmação posso te dar: treine muito, acerte uma maratona, tenha o Boston Qualifying (BQ), separe um bom dinheiro para a viagem e corra a prova. Vale muito a pena. Só assim poderá senti-la. Boston é uma prova para vivenciar, para vestir a camisa e curtir.
Nesta segunda-feira, na prova mais quente em 116 anos (por que não ganho na Mega-Sena, já que tenho tanta “sorte” com maratonas no calor?), Boston mostrou ao mesmo tempo seu lado cruel. Sabe aquele desenho de criança do Pica-Pau com o anjinho aconselhando e o diabinho mandando ver? Foi a analogia que encontrei para representar o que foi a prova. O sonho e o pesadelo juntos, lado a lado, desde a largada às 10h com 26,7ºC e só esquentando, até os 32°C, sem brisa, sem sombra, sem refresco. Se acham que estou exagerando, os vencedores fizeram 2h12 no masculino e 2h31 no feminino, então….
Mantive uma prova constante, até o km 15, dentro do programado para sub 3h, mas não seria possível.O corpo poderia entrar em colapso (e não tenham dúvidas, teria entrado). Segurei, fechei a meia em 1:32:00 e decidi, ao cruzar o tapete das 13.1 milhas, que em termos de desempenho, a Maratona de Boston terminava ali para mim. O restante, seria curtição (na medida do possível, claro). Batendo mão nas criancinhas, tomando sorvete (dois picolés) e um geladinho (chup-chup em alguns estados) para refrescar, colocando gelo no boné, na nuca, pegando água gelada da população, tentando de alguma forma “esfriar” o radiador. E tudo isso entregue pelo público, a grande alma de Boston.
Fechei em 3:26:13, em termos de tempo, bem acima dos 3:09:28 que me levaram a Boston (ou dos 3:09:34 de Punta de Este, ambas em 2011), ou do sub 3h que estava preparado, mas nunca tinha sentido durante a prova e, principalmente, nas últimas três milhas, festejando, fazendo “aviãozinho” como o Vanderlei Cordeiro de Lima, festejando com os punhos cerrados, cantando com a população, cruzando a “Finish Line” tão sonhada e, 100m à frente, chorando como uma criança. Nem sei de onde veio a água, já que estava com o corpo seco! Foi inesquecível, emocionante e, apesar do sofrimento, do corpo pegando “fogo” até agora mesmo com várias cervejas, às 23h quando escrevo este texto, faria tudo de novo. Boston é realmente tudo o que falam e mais um pouco. Pode me aguardar, dona Boston, que irei voltar. Mas, na próxima vez, já que esperou 116 anos para esse calor, por favor, me dê um bônus!
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Caro André, vizinho de Blog.
Parabéns duplo: um, por ter batalhado nessa maratona e dois, por ter escrito tão bom texto.
Você se vingará desse sol em breve.
Grande abraço,
Sérgio Rocha
Numa prova que até o campeão de 2011 quebrou, terminar é uma vitória e tanto. Parabéns! Agora deixa de moleza e escreve logo a matéria completa.
Parabéns pela participação e conclusão da prova naquelas condições além das extremas!
Se você diz que Boston é a maratona das maratonas e que você diz que almejava um sub 3h, que futuramente você possa voltar com esta mesma garra e que este limite seja batido.
Para os seus leitores que acompanharam os seus relatos de treinos e dedicação específica para este maratona, certamente guardarão com carinho e satisfação a edição de maio da Contra-Relógio como forma de recordação.
Mais uma vez, Meus Parabéns!
Ah sei lá viu, se eu estivesse inscrito pra Boston este ano eu talvez até largasse, mas não completaria a prova e aproveitaria o treinamento pra fazer uma maratona em melhores condições climáticas e conseguir a marca abaixo de horas. Poderia ser até em Porto Alegre. Me parece que está havendo um pequeno exagero com relação à Boston, agora virou sonho de consumo. Não estive aí mas me parece de longe que não é tudo isso, uma maratona disputada com clima imprevisível, que serve água e gatorade quentes. Por aqui falam cobras e lagartos da Maratona de SP por bem menos. Acho que se fosse pra eu correr uma maratona forte no mês de abril seria em Paris, percurso plano com clima ótimo e organização perfeita.
Parabéns André.
Pelo visto, foi duríssima a edição deste ano. Mas deu pra notar que vc pode curtir muito a experiência. Acho que fez muito bem em deixar o RMP para outra oportunidade.
Bom turismo por aí!
Abs, Shigueo
André, Boston te proporcionou a realização dos grandes heróis, você agora está na história global assim como outros tantos gigantes do esporte. Mas foi realmente um castigo com você um calor da grandeza que se apresentou. Eu não escondo que ficaria muito frustado e sentiria sim uma raiva danada. Mas como dizem por ai: a vingança é um prato que se come frio! Tomara que a sua próxima maratona seja em clima bem frio! Abcs e bom descanço.
Belo texto. Acho que essa foi a melhor Boston possível para uma estreia. Se tornou épica!
Adorei o texto, acho que quando a emoção é intensa belas palavras saltitam em nosso cérebro. Parabéns, acompanhei toda esta trajetória de perto e vibro muito por vc. E, nossos sonhos nem sempre se concretizam da forma como sonhamos…Lembra Paris 30gr em 2011?Grande beijo
Show André!
Ir para Roma e não ver o Papa é igual ir para Boston com BQ e não corrê-la, faça sol, chuva ou neve!!!
E toma outra Samuel Adams hoje!!! tem que se hidratar!!! kkk
Abrax!
Que texto! emocionou aqui. Parabéns André! orgulho dos amadores voadores!!!
André, parabéns pelo resultado e pelo excelente texto, que capturou com perfeição o que foi a prova. Aguardo ansiosamente seu relato na próxima CR. E ano que vem tem mais !
PARABENS ANDRÉ! Realizou o sonho de muitos e ainda em uma edição histórica de Boston, afinal o calor castigou mas também “marcou” para sempre esta corrida. Abraços!
Sensacional! Parabéns, André, Boston é para poucos…nesse calor então, baita azar! Abs
André, parabens por mais uma conquista, mesmo não alcançando seu tempo, mas cumpriu seu objetivo que foi fazê-la!! Nada acontece por acaso,essa prova realmente será lembrada sempre por vc, é ótima acontecer os imprevistos , pois assim nos superamos e temos mtos episódios para lembrar!! Grande abraço!
Parabéns, o clima foi realmente duro e quebrou muitos favoritos! Abaixo um link interessante comparando as estratégias de alguns corredores de elite e suas conseqüências:
http://www.sportsscientists.com/2012/04/boston-strikes-back-boston-2012.html
Abraço!
Belíssimo texto! Fiquei emocionado! E olhe que sou um “corredorzinho de meia tigela” que ainda está batalhando para fazer um sub 60 nos 10 km rs rs rs!!!Fico pensando como deve ser difícil uma maratona, ainda mais com um clima tão adverso. Parabéns!!!Um abraço
Parabéns André,
Que belo relato este seu!!
Realmente, 31° graus é muito calor, sem sombra ainda….e o tempo do vencedor em 2h12m já justifica tudo, comparando com o tempo do vencedor de 2011, é uma grande diferença sem dúvidas.
Fica tranquilo, tenho certeza que você fará novamente o “indice” e voltará para Boston para sua “vingança”, e dessa vez com temperatura baixa e rumo ao sub-3h!
Abraço!!
Parabéns André!
Belíssimo texto, parabéns pelo tempo, considero que pelas severas condições climáticas que ocorreram durante a prova, você obteve um ótimo resultado, ser sub 3h30 num tempo quente desses é tão difícil quanto ser um sub 3h num tempo digamos “perfeito”, segundo o artigo publicado na Revista Contra-Relógio número 178 (Julho de 2008) com o título “Corra no Clima” o médico e fisiologista Renato Lotufo disse que a temperatura ideal para o bom desenvolvimento do corpo humano na corrida é entre 12°C e 16°C, com uma umidade relativa do ar na casa dos 35% a 60%. Portanto “na minha opinião” você tem duas opções para fazer o seu tão sonhado sub 3, a primeira é continuar com seu treino para maratonas “perfeitas” até que você tenha sorte de encontrar uma maratona nas condições ideias de temperatura que o Lotufo disse, e a segunda opção é fazer treinos mais “casca grossa”, prevendo uma amplitude térmica maior tanto para mais quente como para mais frio, desse jeito você consegue, afinal você é jovem e tem muita “lenha para queimar”, agora o melhor é você curtir o máximo possível sua visita ai nos Estados Unidos, nem vou te lembrar da sua próxima missão, que é o sub 4 no K42 de Bombinhas, risos!!!
Nos vemos pelas maratonas desse mundão.
Um grande abraço!!!
Parabéns André! Realmente é um feito muito grande. Completar uma maratona já é difícil e você o fez em condições totalmente adversas! E o seu tempo foi (e é) inalcancável para muitos, rs. Estou certo que seu sub-3 horas é só questão de tempo. Agora a pergunta que não quer calar: por que seu pace caiu tanto na altura do Wesleyle College? Rs
Parabéns pelo sonho realizado e por compartilhar toda essa emoção de correr em Boston com a gente.
Muito legal André. Parabéns pela prova e pelo brilhante texto!
Correr a maratona de Boston é para poucos, completá-la, para muito poucos, e fazê-la em menos de 3h30 nessas condições, para um pequeno grupo de batalhadores, que merecem nossa admiração e nossos parabéns. Que venham as próximas maratonas. Um abraço!
Assim como a Boston Marathon é histórico, esse relato tb é.
Quem leu consegue imaginar cada momento que vc passou nas 26.2 milhas e apesar das dificuldades encontradas durante o percurso, serve muito como motivação para todos irem em busca do Boston Qualifying e concretizar o sonho dos “verdadeiros maratonistas” !!!
Sensacional!!
Olha o nosso André aí gente!!!!!!!!!Cara, muito legal, acompanhei, torci e vibrei por vc. Muito bom te ver feliz. Grande beijo.
Parabens André!! Que texto! Tambem fiz a prova e foi exatamente isso. Uma crueldade maravilhosa! Chicago e NY podem até ter mais pessoas na rua, mas a integração e participação delas em Boston é muito melhor!!
Ano que vem estaremos de volta!
Abraçao
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Prisco, pena que não nos encontramos pessoalmente. Não faltará oportunidade. Pior que já estou vendo com o Marcos Paulo (negociando muito, claro) para já buscar uma prova rapidinho e tentar o índice para 2013. É isso mesmo, rs.
Abraço
André