Notícias André Savazoni 31 de outubro de 2018 (1) (230)

Biamputada, Adriele Silva disputa a Maratona de Nova York no domingo

Adriele Silva é triatleta biamputada e também participa de provas de rua. Este ano, devido à categoria não estar mais presente no paratriatlon, ela vem se dedicando às corridas de rua. Neste próximo domingo (dia 4), ela estará Maratona de Nova York. Em maio deste ano, ela foi a primeira mulher biamputada a correr 21 km na Muralha da China e, em 2017, competiu no IronMan.

Ela tinha 25 anos quando precisou amputar os pés e a ponta de alguns dedos das mãos em 2012. Deu entrada no hospital com cólicas renais e o quadro evoluiu para uma infecção generalizada. Teve quase falência de alguns órgãos e duas paradas cardíacas. Ficou 64 dias internada, 20 em coma induzido. Recuperou-se com o esporte e se tornou paratriatleta. Ela mesmo conta a história, abaixo.

“Foi em outubro de 2012. Eu tinha 25 anos, trabalhava e cursava engenharia de produção. Era uma terça-feira. Senti fortes cólicas ao acordar e fui para o hospital. Os médicos fizeram apenas um exame de urina, que confirmou minha suspeita: pedra no rim. Não era a primeira.

Voltei para casa tomando analgésico. O negócio era tomar medicação e esperar a pedra sair. Acontece que a dor piorou cada vez mais e comecei a vomitar. No fim da tarde, retornei ao hospital. Os médicos perceberam que a situação era mais grave. Solicitaram outro exame de urina, um de sangue e um ultrassom. À noite o exame de urina e o de sangue ficaram prontos e comprovou-se que eu já estava com uma infecção grande. Um médico chegou a prescrever antibiótico, mas outro disse que deveríamos aguardar o ultrassom no dia seguinte.

O resultado deste último exame revelou que a pedra estava entupindo o canal da urina.

Diagnóstico médico: 5% de chances de sobreviver.

Enquanto eu aguardava para realizar o procedimento para a desobstrução, uma enfermeira entrou no leito e logo chamou a equipe da UTI: eu já estava morrendo.

Tive insuficiência pulmonar, do fígado e dos rins. A infecção se alastrou muito rapidamente.

Segundo os médicos, eu deveria ter tomado os antibióticos antes.

Sem oxigênio e sem forças para bombear o sangue, as extremidades do meu corpo foram afetadas. Três dias depois do primeiro atendimento no hospital, meus pés e alguns dedos das mãos já estavam necrosados.

Fui colocada em coma induzido. Tive duas paradas cardíacas. No vigésimo dia de UTI, me acordaram. Fui comunicada sobre o ocorrido e soube que iriam operar meus pés. Eu nem me mexi. Só concordei piscando os olhos.

Durante minha internação, não tive muito essa coisa de ficar desesperada, de negação. Eu só me concentrava em ficar viva.

Eu sabia que existiam próteses, então pensei em seguida: tudo bem. Sabia que o processo ia ser longo.

Todo mundo que entrava no quarto rezava por mim: enfermeiras, faxineiras Nos primeiros dias de internação, inclusive, meu tio levou um padre pra me ver. Pensei: ferrou, já era. Mas, aos poucos, fui melhorando.

Saí da UTI e fiquei no leito. Tirei a sonda de alimentação e o respirador alguns dias antes de ter alta.

Antes de eu ficar doente, eu e meu namorado estávamos brigando bastante.

Quando tive alta, ainda ficamos juntos por uns quatro meses. No fim, não deu certo. Ele simplesmente foi embora. Eu sofri, mas era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que não dava para ficar focada nisso.

No primeiro mês após a alta, eu já tinha voltado a me mexer inteira. Fiquei cinco meses na cadeira de rodas. Depois, coloquei as próteses e rapidinho me adaptei. Saí do hospital sem sequelas.

Eu não era uma pessoa desinformada, e isso me ajudou muito. Eu não tinha mais os pés e pronto! Fazer o quê? Sou prática até demais. Eu tinha o conhecimento de que a vida não havia acabado.

Claro que a recuperação não foi uma maravilha. Nos seis primeiros meses fiquei mal, mas não era uma coisa tão depressiva. Nunca passou pela minha cabeça que eu não conseguiria me reerguer.

Ainda na cadeira de rodas, decidi procurar um esporte para me ajudar na reabilitação. Comecei com natação e atletismo em um local em Jundiaí, onde moro, e depois cheguei ao triatlo. Em 2014, eu já estava bem integrada aos esportes.

Fui conhecendo gente, coisas boas foram aparecendo na minha vida. Meu objetivo não era ser atleta profissional, mas com o tempo eu vi que apostar na carreira era uma oportunidade.

Em meados de 2015, fiz um comercial de TV para a Braskem e eles propuseram me patrocinar. Foi aí que comecei a me dedicar exclusivamente ao esporte.

Em 2016, fiz minha primeira prova internacional e conquistei a medalha de prata.

Depois disso, foquei no Ironman. É uma prova bem maior do que as que eu costumo fazer e com pessoas não-amputadas. São 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de bicicleta e 42 quilômetros de corrida.

Hoje, treino de três a seis horas por dia. Para o Ironman é o triplo, é necessário comer melhor e preciso de mais pessoas ajudando.

A competição foi em maio, em Florianópolis (SC). Não cheguei a concluir a prova, mas pelo pouco tempo de preparo que tive e pelas dificuldades, cheguei longe.”

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