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Bebidas energéticas ajudam ou prejudicam os corredores?

Nutrição – Andreia Torres - Agosto 2007

Bebidas estimulantes ou energéticas têm um enorme sucesso entre os freqüentadores de bares noturnos, sendo geralmente consumidas junto com bebida alcoólica, notadamente uísque, drinque esse que leva a uma sensação de euforia e dá mais ânimo para encarar as longas noitadas. Recentemente, corredores (e outros esportistas) passaram a ingerir essas bebidas antes e durante competições e treinos, acreditando que com esse “doping light” conseguirão melhores performances. Para esclarecer o tema, consultamos nossa nutricionista, que se posiciona a seguir.

Em primeiro lugar, é importante que não se confundam as bebidas energéticas com as esportivas (como All Sport, Esportage, Gatorade, Marathon e Powerade). Estas são isotônicas, ou seja, contêm as mesmas proporções de nutrientes encontradas normalmente em nosso sangue. Já as bebidas energéticas são hipertônicas, com quantidades de nutrientes em concentrações superiores à do sangue, e por isso geralmente provocam mais sede.

Isto significa que, enquanto as bebidas esportivas têm como principal finalidade repor líquidos, carboidratos e eletrólitos durante e após os exercícios, as energéticas (como Adrenalinrush, Atomic, Bad Boy, Burn, Cocaine, Flying Horse, Monster, Powerhouse e Red Bull) não devem ser utilizadas com a finalidade de matar a sede. As mesmas têm uma composição diferenciada, que varia de acordo com a marca, e que geralmente inclui substâncias como cafeína, metilxantina, vitaminas do complexo B e açúcares, além de componentes herbais exóticos, como guaraná, ginseng, maltodextrina, inositol, taurina, carnitina, creatina, glicuronolactona e ginkgo biloba.

Apesar da combinação de nutrientes nas latinhas, o ingrediente mágico das fórmulas parece ser o marketing, que conseguiu aumentar as vendas das bebidas energéticas em 80% após 2004, principalmente entre jovens, devido às estratégias agressivas que incluem patrocínio de atletas e apoio aos eventos culturais em todo o mundo. Apesar de já movimentarem cerca de 20 bilhões de dólares ao ano em quase 130 países e em diferentes segmentos, o foco volta-se cada vez mais para os praticantes de esportes ou de atividades físicas em geral.

A Red Bull, por exemplo, está iniciando o Road Show, uma estratégia de marketing junto a assessorias esportivas, personal trainers e técnicos, nas principais capitais brasileiras, com o objetivo de difundir ainda mais o consumo do produto nesse meio.

 

Os principais componentes

Por definição, bebidas energéticas são aquelas que tipicamente contêm cafeína, taurina e vitaminas e podem conter uma fonte de carboidratos e/ou outras substâncias, comercializadas com o propósito específico de fornecer melhora real ou perceptiva nos efeitos fisiológicos e/ou de desempenho. Ou seja, nem sempre as fórmulas funcionam e o efeito pode ser puramente psicológico. Entenda então como funcionam os principais componentes dessas bebidas:

Taurina: a lógica de fornecimento de aminoácidos parte do princípio que a taurina tem uma importante função na contração do músculo cardíaco, porém como a dieta brasileira é tipicamente hiperprotéica e como nosso organismo é capaz de produzir a taurina a partir de outros aminoácidos, sua deficiência não parece ser importante na população.  Os estudos na área são controversos; alguns demonstram que uma suplementação oral de taurina é capaz de aumentar a freqüência cardíaca após uma sobrecarga física estressando ainda mais o miocárdio; outras relataram que o aminoácido parece atuar como um antioxidante muscular, diminuindo o dano ao DNA causado pelo exercício extenuante. Ou seja, mais pesquisas nesta área ainda são necessárias.

Glucoronolactona: esta substância é formada, em nosso corpo, a partir da glicose e auxilia nos processos de eliminação de toxinas endógenas e exógenas. De acordo com os fabricantes, na atividade física age como um desintoxicante, diminuindo a fadiga e melhorando a performance.

Vitaminas do complexo B: são usadas pelo corpo como cofatores auxiliares que permitem que a energia seja fornecida a partir dos nutrientes energéticos. Não são componentes essenciais das bebidas, visto que uma dieta balanceada fornece estas e todas as outras vitaminas necessárias para o bom funcionamento do organismo.

Carboidratos: as fórmulas geralmente contêm açúcares de fácil absorção, que além de fornecerem energia também melhoram o sabor das bebidas. Porém, é importante ter em mente que a quantidade de açúcar presente nas bebidas energéticas (10-12%) é muito superior ao das bebidas esportivas (6-8%) e, concentrações elevadas de açúcar diminuem a absorção de água pelo corpo, fazendo com que estas bebidas não cumpram a função de hidratar, especialmente durante exercícios prolongados e vigorosos.

Cafeína: substâncias como o guaraná, usualmente presente nas bebidas energéticas, são as principais fontes de cafeína do produto. A cafeína é uma substância com efeito comprovadamente ergogênico, ou seja, que tem a capacidade de melhorar o desempenho físico e cognitivo, já que aumenta o fluxo sanguíneo para músculos e para o sistema nervoso central, principalmente em indivíduos que praticam exercícios prolongados, como maratonas e triatlo.

Em média, uma lata com 237 ml fornece cerca de 80mg de cafeína, que é a mesma quantidade encontrada em meio litro de café. Porém esta quantidade varia, podendo ultrapassar 300 mg de cafeína por lata de bebida energética.

Compare as quantidades de cafeína nas bebidas energéticas com outras bebidas comuns:

Bebida mg de cafeína por litro de bebida
Bebida achocolatada 10-120
Chá 169-211
Coca-Cola 95
Coca-Cola diet 110
Bebidas energéticas:
Adrenaline Rush (sem açúcar) 298
Burn 480
Cocaine 1111
Diesel 433
Monster 292
Red Bull 321

Barras de 50g de chocolates contêm quantidades que variam de 12 mg (chocolate ao leite) a 40 mg (chocolate amargo).

Alternativa à cocaína

A Red Bull foi a primeira marca a entrar em vários países, inclusive no Brasil, e é o líder em vendas, porém não é o produto mais polêmico do mercado. O Cocaine, bebida altamente cafeinada (200mg/lata), é vendido por seu inventor, James Curby, como “uma alternativa legal ao uso da cocaína”.

Apesar de alguns acharem o slogan engraçado, especialistas em saúde e entidades governamentais consideram o nome abusivo. Além disso, avaliam como sendo muito elevadas as quantidades de nutrientes por porção e, já que o uso indiscriminado a longo prazo ainda não é bem compreendido, em 5 de maio de 2007, a bebida foi banida do mercado norte-americano, mas ainda pode ser encontrada sendo vendida ilegalmente na internet. O fabricante (Redux Beverages) o relançou em 17 de junho de 2007 com o nome temporário “Insert Name Here:”, já que a empresa luta na justiça para reaver a antiga marca.

Apesar de bebidas energéticas não serem prejudiciais se utilizadas com moderação e em situações apropriadas, é importante saber optar por marcas que não apresentem concentrações abusivas de nenhuma substância, além de entender como nossos corpos podem reagir com o uso das mesmas.

 

De acordo com a legislação brasileira, as bebidas energéticas podem ter a adição de cafeína como ingrediente no limite máximo de 350 mg/ L. Os seguintes ingredientes também são permitidos, conforme os limites máximos no produto a ser consumido: inositol (20 mg/ 100 mL), glucoronolactona (250 mg/100 mL), e taurina (400 mg/ 100 mL).

A mais importante destas substâncias é definitivamente a cafeína, que além dos efeitos ergogênicos parece também aumentar o consumo de lipídios pelo corpo, poupando as reservas de carboidratos, o que é muito importante em exercícios de longa duração.

Porém, assim como muitas outras substâncias, o que é bom em quantidades pequenas é ruim em quantidades exageradas. Ou seja, apesar da cafeína aumentar momentaneamente a performance física e mental, o consumo abusivo na maioria das vezes prejudica o desempenho, já que pode causar tremores, desordens do sono e problemas gastrintestinais.

 

boxe

Cafeína controlada

O Comitê Olímpico Internacional (COI) baniu o uso da cafeína em certos níveis que podem ser detectados na urina dos atletas. Obviamente, a quantidade de cafeína que um atleta pode consumir sem prejudicar seu desempenho varia de acordo com a tolerância prévia à substância, com a massa corporal, com o uso de outros alimentos que contenham cafeína e com o tempo entre o consumo e a atividade física.

Um consumo moderado de até 3 mg/kg de peso oferece um risco baixo de desenvolvimento de efeitos colaterais e também de ultrapassar os valores admitidos pelo COI  (estes não podem ser superiores a 12µg/mL na urina). Por exemplo, para um atleta com 70 kg, isto corresponde a 210 mg de cafeína ao dia. Ou seja, um máximo de 1 lata de bebida energética, uma xícara de café e uma lata de refrigerante diários.

 

 

Sem efeito para alguns

Se você já tem o hábito de beber cafezinho o dia todo, ou toma várias latas de refrigerante diariamente ou ainda abusa do consumo de chocolates, não encontrará nenhum benefício com uma dose extra de qualquer bebida energética, uma vez que um consumo superior não maximiza a performance.

Além disso, como a concentração de cafeína no sangue tem seu pico máximo atingido entre 2 e 4 horas após o consumo dessas bebidas, elas deveriam ser ingeridas entre 1 e 2 horas antes do início de eventos longos.

 

 

Estímulo perigoso

Em relação ao consumo das bebidas energética com álcool, trata-se de uma combinação que pode ocasionar alguns problemas:

  • Bebidas energéticas são estimulantes e o álcool é um depressor do sistema nervoso central. Assim, os efeitos estimulantes podem mascarar a intoxicação e impedir que o indivíduo perceba que deve parar de beber já que não se sentirá tão cansado ou tonto.
  • Apesar da pessoa se sentir bem disposta e alerta com o consumo de energéticos, a concentração de álcool estará alta no sangue, ou seja, uma vez que os efeitos estimulantes do energético não estejam mais presentes, os efeitos colaterais do consumo exagerado de álcool aparecerão, o que pode induzir vômitos e depressão respiratória.
  • Tanto o álcool quanto a cafeína possuem efeitos diuréticos, desidratando o indivíduo e aumentando a toxicidade do álcool.

Outras situações impróprias ao consumo incluem:

– Gestação: nesta fase da vida a cafeína passa mais tempo dentro do corpo da mulher, já que o organismo leva mais tempo para se livrar dos compostos desnecessários. A cafeína geralmente passa de 4 a 6 horas no corpo, porém em gestantes esse tempo aumenta para até 18 horas, expondo o feto à substância. Em um estudo sueco, o consumo de apenas 100 mg de cafeína ao dia, quantidade facilmente ingerida através da alimentação, foi associado com um aumento no número de abortos espontâneos. Portanto, bebidas energéticas não são uma boa idéia neste período.

– Indivíduos com doenças cardiovasculares também devem evitar o consumo excessivo de cafeína, já que o estímulo pode ser suficiente para levar a um ataque cardíaco em pessoas com condições patológicas pré-existentes.

 

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