Performance e Saúde admin 12 de outubro de 2014 (0) (316)

Atenção à trombose venosa profunda

Adriano Bastos passou parte do mês de janeiro nos Estados Unidos. Foi vice-campeão da Maratona Disney, atrás do também brasileiro Fredison Costa, e participou de outras provas na Flórida de 21 km e 42 km. Porém, no avião, no retorno de Orlando para São Paulo, um incômodo. "Com aproximadamente três horas das oito previstas do voo, senti uma forte dor na panturrilha esquerda e o seu enrijecimento. A princípio, achei que poderia ser apenas um espasmo ou uma contratura muscular devido ao longo período na mesma posição. Desembarquei com esse incômodo, uma sensação que mais se assemelhava a uma lesão muscular, mas sem qualquer inchaço", conta o corredor.
Após breve descanso, retornou, na mesma semana, à rotina de treinos. "Continuei com o desconforto na panturrilha, mas imaginando ser apenas muscular. Porém, no final de semana seguinte, a dor começou a intensificar muito fortemente e impedir até mesmo que caminhasse normalmente, sem mancar. Ainda insisti em fazer um pedal no domingo, mas logo após a dor ficou ainda mais forte", relata Adriano Bastos. Na segunda-feira, então, o corredor foi ao médico. Que logo desconfiou: trombose. "Na hora, ele já me encaminhou ao hospital com um pedido de urgência para a realização de um ultrassom. O exame confirmou ser uma trombose."
Em recuperação, o atleta ficou afastado dos treinos, tomando injeções subcutâneas anticoagulantes na barriga durante 30 dias, para que a trombose não aumentasse a extensão. "Pelo grau da dor nesse momento, não era algo que me impedisse de treinar se quisesse, mas, segundo os médicos, o risco do trombo (coágulo) se desprender durante um esforço físico e subir pelas artérias principais era grande, o que resultaria em uma embolia pulmonar." Essa situação vivida por um atleta de elite pode ser bem mais corriqueira do que imaginamos. A incidência da trombose é relativamente comum (50 casos/100 mil habitantes de acordo com estatísticas médicas). Com o crescimento do número de brasileiros viajando ao exterior para correr meias e maratonas, principalmente, além de unir o esporte com turismo, é importante ficar atento aos avisos do corpo e também tomar algumas medidas preventivas.
Adriano Bastos nunca tinha vivenciado uma situação parecida nem tem casos na família (hereditariedade pode ser uma das causas). "No meu caso, considero uma fatalidade. Mas alguns fatores podem ter contribuído, como ter corrido uma maratona no domingo e embarcado na segunda-feira à noite com a musculatura ainda inchada e cansada; estava sem meia de compressão; sou daqueles que entram no avião e não se mexem por nada, fico sempre parado. Durmo quase o voo todo. Além disso, estava muito calor em Orlando, você sai do hotel cedo, passa o dia passeando… Tem ainda a questão da hidratação e da pressurização da cabine", comenta o maratonista, agora 100% curado clinicamente, mas que lutava no período da entrevista para recuperar a forma física após o longo tempo de inatividade.

A DOENÇA – De nome composto, a trombose venosa profunda (TVP) é uma condição grave que se traduz por um coágulo sanguíneo que se forma e entope alguma veia do sistema venoso profundo (portanto não sendo possível visualizá-lo a olho nu) geralmente da panturrilha, e origina um quadro clínico caracterizado por dor, vermelhidão, calor local e empastamento (endurecimento) da musculatura da região.
Pode ser causada por longos períodos de inatividade dos membros inferiores, como em posição sentada, principalmente (comum em aviões, por exemplo). Portanto, é válida a recomendação médica de se movimentar e caminhar frequentemente durante longas viagens de avião ou também de carro.
A ação terapêutica em caso de uma trombose é composta de medicação anticoagulante e repouso relativo, mas a liberação para exercícios de caminhada e/ou corrida somente após a alta médica. É importante essa atenção, pois se ficar sem tratamento, uma trombose venosa profunda acarreta um maior risco de o doente vir a contrair uma embolia pulmonar – um coágulo se solta e através da corrente sanguínea chega ao pulmão, onde obstrui um vaso, o que pode levar até a morte.
A rotina de Bastos agora mudou. Como teve a trombose, antes de qualquer viagem longa de avião, terá de tomar uma injeção de anticoagulante. "No meu caso será obrigatório, pois já tive o caso. Agora, como precaução, para quem vai ao exterior, recomendo embarcar com meia de compressão, caminhar pelo avião a cada 1h, 1h30, e procurar hidratar-se bastante. Esses três fatores são fundamentais", considera o maratonista.

Perguntas e respostas

O endocrinologista e médico do Esporte Ronaldo Arkader, mestre e doutor pela USP, e o fisioterapeuta do Esporte David Homsi, especialista em fisioterapia musculoesquelética e mestrando em Ciências da Reabilitação na Unifesp, responderam algumas questões importantes para os leitores da Contra-Relógio sobre a trombose.

Contra-Relógio – Por que ocorre a trombose no voo? O risco é maior na ida ou na volta, quando estamos viajando para maratonas ou meias?
Ronaldo Arkader e David Homsi – A principal causa da trombose venosa é a imobilidade prolongada, comum nas viagens aéreas e terrestres, que obrigam a pessoa a ficar sentada por horas na mesma posição. Lesões nos vasos e desequilíbrio nos fatores de coagulação do sangue também são responsáveis pela formação de trombos. Podem ocorrer na ida e na volta, e sem preferência de distância. Independentemente de estar na primeira classe, executiva ou econômica em voos, cuidado. É fundamental sempre levantar, fazer movimentos rotacionais da articulação do tornozelo, ficar em pé e forçar a ponta dos pés. Tudo isso ajuda no retorno venoso e na prevenção da trombose.

CR – Tem a ver com a atividade física ou é algo que pode acontecer com qualquer um?
Arkader e Homsi – Afeta qualquer um, entretanto, se o paciente possui alguns fatores predisponentes (obesidade, tabagismo, nas mulheres o uso de anticoncepcional), pode desencadear a lesão. Após atividade física de alto rendimento ou por longos períodos, a musculatura está "cansada" e em função disso podem ocorrer episódios de trombose também.

CR – O que podemos fazer para minimizar, principalmente nos voos?
Arkader e Homsi – É recomendável o uso de meias elásticas apropriadas para o peso e a estatura e com compressão adequada, ou seja, ter em sua trama de 18% a 20% de elastano; abaixo disso não é compressão. Manter a hidratação acima do normal também é importante, assim como procurar se movimentar e alongar durante a viagem.

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