As mulheres estão cada vez mais indo para as corridas e para as ruas. Mas o tema não é como deixam o esporte mais bonito e agradável (se bem que é uma verdade, mas não vamos desviar do assunto).
São maioria nas meias-maratonas nos EUA há tempos, com 61% das concluintes. Muito representativas nos 42 km. Aqui no Brasil, impulsionaram o crescimento da maioria das provas no último ano, incluindo a “maratona” de São Silvestre. A organização da Meia do Rio (disputada junto com os 42 km) aposta que elas já terão a maior parcela de participantes a partir de 2016. Será? Daí mesmo que a prova carioca será a mais bonita do mundo (ops, fugi do tema de novo).
Vendo a Juliana Paula dos Santos correr os 5.000 m hoje pela manhã, sabendo da história dela, da relação com o Marilson Gomes dos Santos, com o técnico Adauto Domingues, durante os pouco mais de 15 minutos da prova, pensei em vários temas.
Como para as mulheres é tudo mais difícil, talvez seja por isso que a gana delas e a força mental sejam sempre tão impactantes. Não vou entrar no mérito do que um atleta brasileiro tem de fazer para chegar a um Pan. Aqui, um adendo, por mais que todos saibamos que o nível não se compara ao de uma etapa da Diamond League, de um Mundial ou muito menos Olimpíada, ela foi medalha de ouro …. (sim, a palavra que não escrevi foi essa que você pensou ao ler o texto, que compeça com p…).
Mas o que pensei foi como as mulheres, amadoras ou profissionais, merecem muito mais aplausos do que nós, homens. Isso não é uma disputa sexista, apenas uma comprovação. Que homem se afasta por dois anos do treinos para ter um filho? As preocupações com a família, com a casa, com o crescimento dos filhos, por mais que hoje as tarefas sejam compartilhadas, a balança sempre pesa para o lado delas! Que homem ao sair de shorts ou regata para correr na rua ouve várias buzinadas, piadinhas ou até algo mais por estar treinando? Ou são vítimas de preconceito ou, melhor, pré-conceito por estarem de top ou sainha? Ou nem as usam por uma cobrança delas mesmas, que sempre (ou melhor, na maior parte das vezes) não estão satisfeitas com o corpo em uma cobrança interna e da sociedade? E a questão da segurança, então? Dá para ficar o dia inteiro escrevendo…
Assim, hoje, a simpatia da Juliana Paula dos Santos representou todas essa mulheres nos 5.000 m no Pan de Toronto. Mulheres essas que a cada dia vão mais para as ruas, para as provas, para o esporte. Felizmente. Mulheres que são um exemplo de ritmo, de força mental, de estratégia (como Juliana mostrou e como vemos no nosso dia a dia). Eu brinco em casa que se tivesse a “cabeça” de minha mulher, Mari, teria uns 10 minutos a menos no tempo final da maratona com o mesmo treino!
Acabei de ler o livro “Correr”, do Drauzio Varella, que tem uma passagem do encontro com a maratonista Adriana Aparecida da Silva e um capítulo especial para a história dela. Aqui, um adendo, encontro esse na viagem para Boston que eu e a Mari presenciamos ao vivo! E a Adriana contando que estava solteira pois, ao chegar em casa, diariamente, dos inúmeros treinos, sente dores em todo o corpo e que homem iria querer uma mulher assim, todo dia? Está vendo, com os fatores que as envolvem são bem maiores do que o de nós, homens?
Por isso, parabéns, Juliana, o seu sorriso foi o sorriso das brasileiras, pois as mulheres na corrida merecem muito mais aplausos.
Foto: Saulo Cruz/Exemplus/COB