Performance e Saúde Redação 3 de fevereiro de 2012 (0) (102)

Arritmia cardíaca; Dor na tíbia; Hérnia muscular; Dieta ovo-lacto-vegetariana

ARRITMIA CARDÍACA

Gostaria de agradecer pelos conselhos com relação ao meu problema de Wolff-Parkinsom-White. Fiquei fora das pistas, mas em 14/09 fui submetido à ablação por cateter e pretendo ir à São Silvestre. O que vocês me dizem sobre esta vontade?

Clóvis Mendonça dos Santos,Camacam, BA

 

Ficamos felizes em saber que nossos conselhos ajudaram-no em relação à conduta frente ao seu problema com a síndrome de Wolff-Parkinson-White. Como você já sabe, esta síndrome é uma arritmia cardíaca na qual os impulsos elétricos são conduzidos ao longo da via acessória a partir dos átrios até os ventrículos, denominada feixe de Kent, sendo também uma forma de taquicardia (condição de aumento exagerado de batimentos cardíacos), caracterizada pela condução atrioventricular adicional, que impede a condução normal do estímulo elétrico a partir do átrio até o nódulo atrioventricular (nodo AV), causando a chamada taquicardia supraventricular. Esta síndrome pode ser diagnosticada através de exame de eletrocardiograma (ECG), no qual é observada a onda delta associada a um intervalo PR (espaço de tempo entre as ondas P e R) diminuído, e pode levar à morte súbita em casos de excesso de exercícios físicos, caso não seja devidamente acompanhada e tratada. Acho muito louvável o seu desejo de retornar às competições, e desde que seu cirurgião cardíaco libere a prática de exercícios físicos em intensidade moderada, não vejo razão para deixar de participar na São Silvestre. Treine adequadamente e prepare-se para o novo percurso.

TENDÃO DE AQUILES

Há algum tempo venho sentindo dores no calcanhar direito. Fiz uma ressonância, cujo laudo envio, em anexo. No início sentia muitas dores no tendão de Aquiles (esporão do calcâneo) e depois desaparecia com o passar do tempo. Com a proximidade da Meia-Maratona do Rio e com o aumento dos treinos, surgiu uma dor na lateral externa do referido calcanhar. Para participar da meia, precisei tomar um anti-inflamatório e corri muito bem, sem nada sentir. Estou parado desde essa prova e por enquanto sem sentir dores. O médico já havia me adiantado, antes da ressonância, que a solução seria a "cirurgia". Será mesmo o caminho? Existe algum perigo de após a cirurgia não voltar a correr? E o problema pode retornar? Qual o diagnóstico e orientação de vocês? Sou assinante desde 2007 e gosto muito da revista.

Francisco Dario Ferraz, Fortaleza, CE

 

Seu quadro clínico é compatível com uma condição denominada tendinopatia insercional do tendão de Aquiles (calcaneano), caracterizada por uma degeneração de parte das fibras de tecido conjuntivo que compõem o corpo do tendão, exatamente no local em que o mesmo penetra no osso do calcanhar, havendo também neste ponto a formação de uma espícula óssea chamada de entesófito insercional (esporão), que contribui para o quadro de degeneração local. Clinicamente é uma situação caracterizada por dor e vermelhidão do local, dificuldade de movimentação do tornozelo, sobretudo pelas manhãs, e em alguns casos comprometimento da performance. Existe uma bursite associada, fruto do acúmulo de líquido no interior de uma estrutura chamada bursa e localizada atrás do tendão de Aquiles, caracterizando um processo de inflamação concomitante. A cirurgia para a revitalização do tendão realmente é uma proposta para estes casos, mas não a única. Como você está sem dor atualmente, creio que deveria investir na tentativa fisioterápica no primeiro momento, com sessões incluindo medidas para diminuir a dor e o processo inflamatório residual, e muitos exercícios de fortalecimento para os músculos da panturrilha, tanto concêntricos quanto excêntricos. Experimente utilizar uma calcanheira para deixar a parte traseira de seu pé mais alta. 

 

DOR NA TÍBIA

Corro há muito tempo, parei por três anos e resolvi voltar há dois. Venho sentindo dores na parte medial da tíbia, ambos os lados, e para piorar quando treino em pista sinto que ficam doloridos os calcanhares na parte medial do calcâneo. Será que o meu tipo de pisada influencia nessas dores? Não sei mais o que fazer e não quero parar de treinar, pois agora estou encaixando os meus treinos e melhorando as minhas marcas nos 10 km. E como faço para descobrir qual é o meu tipo de pisada e qual o melhor modelo de tênis?

Reinaldo Francisco da Silva, Cuiabá, MT

 

A dor na borda medial da tíbia é bastante característica de praticantes de corrida de longa distância, e se traduz por um processo inflamatório inicialmente do periósteo, membrana de tecido conjuntivo que recobre o osso da perna e tracionada exageradamente a partir de sua origem. Normalmente nestes casos a musculatura se encontra pouco fortalecida e portanto incapaz de atenuar as cargas sucessivas impostas a esta região, acoplado ao fato de praticamente sempre haver um rápido aumento no volume e/ou intensidade e/ou frequência dos treinos, sem o devido tempo de repouso para que as estruturas ósseas se recomponham. A pisada com tendência à supinação pode predispor a esta situação, chamada de síndrome do stress tibial medial, com tratamento fundamentalmente conservador, composto por medidas analgésicas, exercícios de fortalecimento para a musculatura tibial anterior, mudança do tipo de atividade aeróbica para manutenção do condicionamento e suspensão temporária da corrida. Clínicas de fisioterapia podem lhe auxiliar na realização destes testes e orientá-lo para uma escolha acertada em relação ao tipo de tênis mais indicado para você. Também na CR de outubro você tem boas informações no Guia do Tênis de Corrida, com 23 modelos avaliados, e a indicação do "teste do pé molhado", fácil de fazer e que permite se descobrir que tipo de pé você tem. E esta informação costuma ser a mais importante na definição da pisada.

 

HÉRNIA MUSCULAR

Após realização de um treino, senti uma sensação incômoda na região posterior do joelho direito, especificamente na fossa poplítea. Percebi um nódulo nessa região, suspendi os treinos e fui ao médico, que me solicitou um ultrassom. Foi diagnosticado tendões componentes de "pata de ganso" e proeminência muscular na cabeça lateral do gastrocnêmio. Qual é tratamento ideal para esse tipo de lesão?

Maurício Fernandes, Por email

 

A proeminência muscular detectada pelo exame de ultrassom pode realmente corresponder a uma hérnia muscular, que nada mais é do que uma saliência do músculo que se avançou por algum espaço que normalmente deveria estar fechado e não permitir tal ocorrência. O tratamento depende da situação anatômica da hérnia muscular e também do quadro clínico, ou seja, o que o paciente está sentindo: dor, desconforto, formigamento, comprometimento da irrigação local etc. Já a estrutura conhecida como pata de ganso é formada por um conjunto de três tendões que se inserem na porção ântero-medial logo abaixo do joelho, e portanto fora da fosssa poplítea, dos músculos sartório, grácil e semi-tendíneo. Este conjunto de tendões pode sofrer um processo de inflamação local e apresentar uma tendinopatia ou até uma bursite da pata de ganso quando a bursa é acometida. A outra formação muito frequentemente encontrada na fossa poplítea é o cisto poplíteo, ou cisto de Baker, formado a partir da produção aumentada de líquido sinovial fruto de provável artrose no joelho. Estas condições são distintas e possuem abordagens e tratamentos diferentes de acordo com a indicação de seu médico. Discuta estas possibilidades e siga corretamente o tratamento proposto.

 

DIETA OVO-LACTO-VEGETARIANA

Estou vivendo um dilema e acredito que a revista possa me ajudar. Sou corredor e sigo o regime ovo-lacto-vegetariano. Fiz no dia 25/09 minha décima maratona, em Foz do Iguaçu. Nos treinos longos e nas cinco primeiras maratonas que participei o problema não se manifestava. Agora, depois de correr acima de 20 km, começo a sentir náusea e chego a vomitar, ficando com mal-estar o restante do dia. Nas últimas maratonas tenho insistindo, correndo até o final, mas vomito por diversas vezes e chego acabado. Na chegada na de SP, em junho, minha pressão era de 7,6 e sentia muito frio. Gostaria de saber o que está se passando comigo, acreditando que tenha a ver com minha alimentação restrita.

Francisco Enizio Soares de Brito, Manaus, AM

 

Realmente seu quadro clínico inspira cuidados e uma investigação diagnóstica criteriosa, pois não creio que seu problema seja alguma alteração orgânica, mas sim algo relacionado à sua alimentação. Discordo da ênfase em proteínas que você menciona e creio que a alimentação baseada em carboidratos seja a melhor conduta, mas não sei o quanto você consegue ingerir deste grupo de alimentos em sua dieta ovo-lacto-vegetariana. Inicialmente recomendo consultar um médico do esporte para que exames de sangue sejam pedidos, incluindo perfil hemático, lipídico, protêico, e funções hepática e renal. Diminua a intensidade de seus treinos e distância de suas provas até conseguir as respostas que procuramos.  

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