Blog do Corredor Fernanda Paradizo 1 de março de 2018 (0) (148)

Aprendendo com os erros dos outros

DE BARRIGA VAZIA
"Depois de ter corrido a Maratona de Paris, fui fazer a de Londres no domingo seguinte, para checar qual o problema dessa dobradinha, na época (há uns 15 anos) absolutamente contestada por vários treinadores, que recomendavam não mais que duas por ano, bem espaçadas. Na capital inglesa não faria "pra valer", mas para conhecer a prova, uma vez que na França tinha dado o meu melhor. Estava no hotel dos estrangeiros, que são obrigados a se inscrever por agência e comprar um pacote. Fui dormir cedo e coloquei o relógio de pulso para despertar, como sempre fazia, mas não ouvi o alarme, talvez por ele ter tocado quando o braço estava embaixo das cobertas. Resultado: saí correndo para o ônibus que tínhamos de tomar para a largada, sem café da manhã. Pior: chegando na concentração, nada havia além de água, chá e café. E no percurso muito menos, o que me obrigou a considerar que as bolachas que estavam na mão de uma criança, lá pelo km 30, eram destinadas a mim… No final, devorei dois sanduíches que a organização oferecia. Depois desse dia, nunca mais confio apenas no relógio cronômetro para os meus compromissos mais importantes, como o de acordar para correr uma maratona."
Tomaz Lourenço, editor da CR

PASSAGEM BARATA
"Me inscrevi na Meia-Maratona de Lisboa e planejei chegar meio em cima da hora, ou seja, apenas dois dias antes. Só não contava com um atraso na conexão Rio-SP. Por essa razão, perdi o voo para Portugal, porque tinha comprado uma passagem promocional que não dava direito a seguir no mesmo dia, só no seguinte. Me arrependi da compra, mas não havia o que fazer. Ou melhor, havia sim: liguei para minha irmã e pedi que retirasse o kit e me esperasse no aeroporto. O avião aterrisou às 8h e eu, já com a roupa de corrida e tênis, segui para a largada, que seria às 10h30. Quando cheguei, ela já tinha acontecido, mas ainda deu para participar, ultrapassando milhares de caminhantes na ponte 25 de Abril."
Joaquim Cavalcanti, do Rio de Janeiro

PROVA ERRADA
"Nos meus 32 anos dedicados ao atletismo, já passei por alguns apuros em provas. Um fato mais recente aconteceu em 2016, numa corrida de montanha em Atibaia, interior de São Paulo. Eram várias distâncias e eu estava inscrita nos 9 km. Conversava com outra atleta e não ouvi o locutor explicar que as largadas seriam separadas por distância. Larguei, mas desconfiada por não ver números iguais ao meu, perguntei a um staff se estava certa; ele falou que sim e eu segui. Ainda insegura, perguntei a outro staff, que me informou eu estar na prova de 21 km. Mas aí já era tarde. A falta de atenção me tirou a oportunidade de um pódio."
Maria das Graças Moreira, de São Paulo

IMPROVISAÇÃO
"Corri a a Maratona de Atenas de 2013 e meu meu plano já começou improvisado. Aproveitei uma viagem de trabalho para encaixar a prova num fim de semana. O sonho de fazer essa maratona era tão grande que achei que decidir isso dois meses antes, e sem muito treinamento, não seria problema. Corri fácil a primeira metade, até achando que ia dar recorde. Mas Atenas tem 20 km de subida constante, do km 10 ao 30. Uma dor na panturrilha direita virou dor no joelho, que virou dor na perna esquerda e dali para a frente foi só desgraça. Achei que chegando ao km 30 ia melhorar, pois dali para frente era só descida, mas ficou pior. Nos últimos quilômetros, não via a hora de acabar com aquela tortura. Esse sofrimento me trouxe duas lições: a primeira delas é nunca largar mais rápido do que o previsto; mas também a de que, não importa o que aconteça, não desisto!"
Daniela Dayrell França, de São Paulo

SEM TREINO, SOFRIMENTO
"O ano era 2011 e havia apenas 6 meses que tinha começado a correr. Recebi convite de um amigo, que precisava de um parceiro para correr em dupla a TTT, uma prova de 82 km, toda pela beira da praia do litoral gaúcho, de Torres a Tramandaí. As distâncias para cada um seriam de cerca de 40 km, mas prontamente ele me tranquilizou, explicando que os trechos eram alternados. O primeiro fiz logo no início da manhã correndo 10 km e me sentindo muito bem. No segundo, de 12 km, sofri com o calor e comecei a pagar o preço pela falta de experiência, com muitas bolhas e assaduras. No trecho seguinte, de quase 7 km, saí para correr já totalmente travado e temendo não terminar a prova. Com sol escaldante, fiz os 7 km mais demorados de minha vida. Mas ainda tinha o meu último trecho, de 8,3 km, onde sofri como nunca. Faltando pouco mais de 2 km para meu martírio terminar, resolvi aliviar o calor me refrescando com um breve mergulho no mar. Com algumas partes do corpo praticamente em carne viva por conta das assaduras, a sensação não foi boa. Foi uma experiência única e que não pretendo repetir. O aprendizado que ficou desta experiência? Prepare-se! Sofra nos treinos para não sofrer no dia da prova."
Leonardo Ramos de Oliveira, de Porto Alegre

PÉSSIMA DECISÃO
"A Maratona de Santiago, no Chile, em 2017, era minha segunda tentativa na distância. Estava treinando bem, disposto a baixar meu tempo e quem sabe conseguir uma sub 4h. Faltando pouco mais de um mês para a prova, surgiram dores na parte esquerda das costas. Com minha experiência em cólicas renais desde os 15 anos, sabia que um dos meus muitos cálculos estava tentando me abandonar. Acabei num centro cirúrgico para remover a pedra teimosa. Fui para a mesa de cirurgia fazendo contas: 'Faltam cerca de 40 dias, saio do hospital em dois, volto a treinar em cinco. Vai dar'. Recuperando os sentidos, recebi a notícia de que um catéter tinha sido deixado por segurança, passando de um dos rins até a bexiga, e a determinação para evitar esforços por 15 dias. Quando retirei aquela 'mangueira', saí para fazer 5 km e percebi que a coisa estava feia. Fui para o longão de 28 km três dias depois e abandonei nos 15 km. Embarquei para o Chile orientado a correr apenas 21 km, que era o possível naquela condição. Larguei empolgado, pois era minha primeira prova internacional. Quando vi a placa indicando o sentido da maratona, acabei seduzido por aquele momento 'que separa os homens dos meninos'. E lá fui eu, me arrastando nos últimos quilômetros e me odiando a cada metro percorrido. Concluí a maratona em 5h10. Percebi que havia deixado todos com o coração na mão, quando minha filha, de 12 anos, veio chorando em minha direção na chegada e falou que 'pensou que algo ruim tinha acontecido'. Faltou juízo! Foi uma péssima decisão e não indico a ninguém fazer algo assim. Mas confesso que a medalha de Santiago ostenta lugar de destaque no meu porta-medalhas."
Mayco Geretti, de Sorocaba

Veja também

Leave a comment